Ministros das Finanças concordam com suspensão da disciplina orçamental até final de 2022

Proposta da Comissão para manter cláusula geral de escape do PEC, em vigor até ao fim do próximo ano, deverá ser formalmente aprovada em Abril.

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LUSA/ANTONIO PEDRO SANTOS

A decisão só vai ser confirmada em Abril, mas os ministros das Finanças da União Europeia estão de acordo com a avaliação feita pela Comissão sobre a necessidade de manter em vigor as medidas extraordinárias de apoio à economia e com a sua recomendação de prolongar a activação da cláusula geral de escape do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) até ao final de 2022.

“Os ministros estão de acordo com a proposta da Comissão de que a reactivação da cláusula geral de escape deve ter em consideração a evolução da economia”, informou o ministro das Finanças, João Leão, no final da reunião do Conselho de Economia e Finanças da UE, que decorreu esta terça-feira por videoconferência.

Os governantes analisaram a comunicação apresentada pelo executivo comunitário a 3 de Março e as suas orientações para a preparação dos rascunhos orçamentais do próximo ano. Apesar da expectativa de uma “forte aceleração económica a partir do segundo semestre” de 2021, com o avanço da campanha de vacinação e o levantamento das medidas restritivas, o crescimento ainda não deverá permitir recuperar o Produto Interno Bruto para o nível de 2019, pré-pandemia.

Segundo as previsões de Inverno divulgadas pela Comissão no mês passado, essa meta só deverá ser alcançada no final de 2022, o que, segundo João Leão, “realça a necessidade de manter políticas que promovam o crescimento, para que os Estados-membros tenham a flexibilidade necessária para manter os apoios à economia”.

“Com as regras orçamentais suspensas podemos manter o foco na recuperação da economia europeia através de medidas de carácter temporário, que não comprometam a sustentabilidade das finanças públicas no médio prazo”, justificou o ministro das Finanças, confirmando que entre os 27 é consensual que não existem ainda condições para retirar os apoios e estímulos que visam a retoma da trajectória de crescimento anterior à crise provocada pelo novo coronavírus.

De acordo com João Leão, os ministros comprometeram-se a “tudo fazer” para evitar um cenário em que “empresas viáveis entrem em insolvência” e “uma crise de carácter temporário deixe cicatrizes permanentes” na economia. “É essencial manter políticas orçamentais que estimulem o crescimento e complementem e reforcem a política monetária, para garantir uma recuperação plena, robusta e inclusiva”, afirmou.

Um instrumento importante para alcançar esse objectivo será o Mecanismo de Recuperação e Resiliência, que também esteve em discussão na reunião informal. Os ministros fizeram um ponto de situação sobre a elaboração dos respectivos planos nacionais, que terão que ser entregues a Bruxelas até ao final de Abril, e discutiram “desafios transversais para garantir que a qualidade e a velocidade se mantêm aliados no processo de aprovação”, que poderá acontecer já em Junho.

O vice-presidente executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, disse que o processo de negociação com os serviços técnicos está a correr bem, embora ainda seja preciso “mais algum trabalho para chegar a um bom equilíbrio entre reformas e investimento, e para quantificar as metas intercalares”, mediante as quais se fazem os desembolsos.

No tempo que sobrou, os ministros abordaram ainda a questão dos impostos digitais. João Leão lembrou que o debate decorre em torno das propostas da OCDE, que está a negociar uma “reforma abrangente do sistema de tributação internacional das empresas que tenha em conta a realidade cada vez mais digital das economias”. “O trabalho técnico está bastante avançado”, assinalou, acrescentando que há boas indicações de que, com a mudança da Administração nos Estados Unidos, vai ser possível chegar a um acordo em meados do ano.

Até lá, a presidência portuguesa do Conselho da UE “continuará a promover debates internos sobre as opções discutidas, a sua compatibilidade com a legislação comunitária e a avaliação do impacto económico dessas opções para os Estados-membros”, disse.

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