UE apela à Junta Militar para “parar imediatamente” com a violência na Birmânia

A repressão contra as manifestações já fez mais de 50 mortos desde o dia 1 de Fevereiro, quando a população começou a sair à rua para contestar o golpe militar.

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Gás lacrimogénio e gás de extintores de incêndios lançado em torno dos manifestantes, enquanto se protegem contra os militares, em Naypyitaw, Birm^nia STRINGER/Reuters

A União Europeia apelou esta terça-feira à Junta Militar da Birmânia para “parar imediatamente com toda a violência”, na primeira conversa telefónica entre responsáveis europeus e birmaneses após o golpe militar, anunciou o Serviço Europeu de Acção Externa (SEAE).

Num resumo da conversa, que teve lugar esta terça-feira entre o director-geral do serviço militar da União Europeia, o vice-almirante Hervé Bléjean, e o vice-comandante das Forças Armadas birmanesas, Soe Win, o SEAE refere que o responsável europeu sublinhou que “o papel de qualquer militar deve ser o de proteger a população”.

“O vice-almirante Bléjean pediu às autoridades militares para pararem imediatamente com a violência e paraa exercerem contenção máxima na maneira como lidam com as manifestações, de forma a evitarem baixas adicionais e respeitarem a lei internacional”, lê-se no resumo da conversa entre os dois responsáveis.

Hervé Bléjean pediu também à Junta Militar para libertar a “liderança democraticamente eleita do país”, incluindo a conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, o Presidente eleito, Win Myint, e todos “os outros presos políticos”, de maneira a permitir que se inicie um “diálogo político com todos os parceiros sociais relevantes”.

“O vice-almirante Bléjean insistiu sobre a importância de restaurar a estabilidade e a democracia com um Governo civil legítimo na Birmânia, até para evitar uma deterioração maior da, já de si, difícil situação socioeconómica da Birmânia”, aponta o SEAE.

Segundo o SEAE, o vice-almirante europeu terá ainda “enfatizado” a “importância” de a Junta Militar birmanesa convidar a enviada das Nações Unidas para a Birmânia, Schraner Burgener, a visitar o país, para permitir que “consulte todas as partes interessadas e facilite o diálogo”.

A violenta repressão sobre os manifestantes que protestam contra o golpe de Estado na Birmânia, ocorrido a 1 de Fevereiro, já causou mais de 50 mortos, todos vítimas das forças militares e policiais.

Os militares já detiveram cerca de 1800 pessoas desde o golpe, sendo que mais de 310 foram, entretanto, libertadas, de acordo com a Associação de Assistência a Presos Políticos.

Os manifestantes exigem que o Exército, que governou o país com mão de ferro entre 1962 e 2011, restaure a democracia e reconheça os resultados das eleições de Novembro, e pedem a libertação de todos os detidos pelos militares, incluindo a líder de facto Aung San Suu Kyi.

O Exército birmanês justificou a tomada do poder por uma alegada fraude eleitoral nas eleições, mas os observadores internacionais não a detectaram. A Liga Nacional pela Democracia, partido liderado por Suu Kyi, foi o vencedor, tal como já tinha ocorrido em 2015.

Dias depois do golpe militar, durante o qual parte do Governo eleito de Suu Kyi foi preso, a Junta Militar cortou o acesso a redes sociais como Facebook e Twitter para impedir que os cidadãos organizassem e compartilhassem vídeos, mas muitos contornam o bloqueio por meio de VPN.

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