Juan Carlos de Espanha chega a acordo e entrega 4,4 milhões de euros ao fisco

O antigo detentor da coroa espanhola continua a viver nos Emirados Árabes Unidos, país que o acolheu em Agosto do ano passado.

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Um graffiti do artista catalão Blackblock juntou, recentemente, o antigo rei Juan Carlos ao falecido ditador espanhol Francisco Franco Reuters/NACHO DOCE

Juan Carlos, que deixou o país em Agosto no meio de uma série de escândalos, pagou uma conta de impostos retroactivos no valor de 4,4 milhões de euros, revela esta sexta-feira o jornal El País, citando o advogado do antigo monarca espanhol. O acordo fiscal foi baseado em oito milhões de euros de bens e serviços que recebeu, conta a imprensa espanhola. Segundo o mesmo periódico, o pagamento destinava-se a compensar os voos privados de que beneficiou.

Este foi o segundo pagamento efectuado pelo antigo monarca nos últimos meses. Em Dezembro, Juan Carlos pagou às autoridades fiscais 678.393 euros, incluindo juros e coimas, valor que, de acordo com o El País, estava relacionado com as transacções ilegais com cartões de crédito, fornecidos pelo empresário mexicano Allen Sanginés-Krause, com interesses em Espanha.

O advogado de Juan Carlos não se manifestou disponível para tecer mais comentários e um porta-voz do palácio recusou-se a elaborar sobre o tema. Mesmo que através dos seus advogados, também o antigo detentor da coroa recusou-se repetidamente, nos últimos meses, a comentar as alegações de corrupção.

Os procuradores do Supremo Tribunal de Espanha abriram várias investigações sobre os negócios de Juan Carlos, incluindo os ligados a um contrato de comboio de alta velocidade na Arábia Saudita.

O seu filho, o rei Felipe VI, é o actual chefe de Estado. Os monarcas espanhóis têm imunidade durante o seu reinado, mas a abdicação de Juan Carlos em 2014 a favor do filho, deixou-o vulnerável a processos judiciais.

Questionada sobre a questão, a vice-primeira-ministra Carmen Calvo disse que o Governo não pode comentar qualquer relação dos cidadãos com as autoridades fiscais, mas sublinhou que “ninguém está autorizado a infringir a lei”. 

Alberto Garzón, ministro do Consumo e membro do partido de esquerda Podemos, foi mais contundente, dizendo no Twitter que “é impressionante quantas surpresas enfrentamos todos os meses com os obscuros — e também ilegais — movimentos financeiros feitos pela instituição que deveria ser a mais escrutinada em toda a democracia, uma vez que é a mais protegida e privilegiada: a monarquia”.

Juan Carlos vive nos Emirados Árabes Unidos desde que deixou Espanha. O monarca, que chegou a passar um período da sua vida em Portugal, desempenhou um papel fundamental na transformação de Espanha num Estado democrático quando chegou ao trono (foi coroado dois dias após a morte do general Francisco Franco, em 1975), mas a sua popularidade sofreu várias adversidades devido a uma série de escândalos financeiros e familiares, o que o obrigou a renunciar.

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