Rui Rio: “Gostava que o Presidente fosse mais exigente com o Governo”

Líder do PSD diz que Chega é uma “bazófia”, mas admite negociar prioridades de governação caso o partido se modere.

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Tiago Petinga /Lusa

O líder do PSD disse compreender que o Presidente da República tivesse dado a mão ao Governo durante esta fase da pandemia, mas deixou um recado a Marcelo Rebelo de Sousa para os próximos cinco anos. “Gostava de ver o Presidente da República, no seu segundo mandato, um pouco mais crítico e exigente com o Governo. É o meu desejo e é o desejo transversalmente dos portugueses”, afirmou Rui Rio, numa entrevista na noite desta segunda-feira à TVI.

Reiterando que não pretende provocar uma crise política durante a crise sanitária e económica, Rui Rio aceita que o Presidente da República também não tire o tapete ao Governo, mas considerou que o chefe de Estado pode ser mais exigente. “Quando há falta de planeamento, tem de vir a terreiro exigir, quando há estes ziguezagues permanentes do Governo – há aulas, não há aulas, são presenciais, não são presenciais, vacina uns, vacina outros...”, afirmou, reconhecendo que essa atitude do chefe de Estado iria tornar “maior” a “força” da oposição.

Na entrevista, o líder social-democrata começou por ser questionado sobre o motivo pelo qual não pede a demissão do Governo quando o acusa até de ser um “desgoverno” na gestão da pandemia. “O pior que poderia haver era uma crise política, além da pandemia e da crise económica”, justificou. Depois voltou a justificar o seu estilo de oposição, que não é o de “gritar contra o Governo”. Admitiu sentir “ingratidão” quando ouve ataques do Governo contra si, mas quis mostrar racionalidade: “Não posso ter estados de alma. Se eu tenho sentido de Estado, não posso fazer vinganças.” 

A falta de planeamento na vacinação contra a covid-19 foi uma das falhas que apontou ao Governo, embora admita que mais depressa demitiria a ministra da Justiça por causa do caso da nomeação do procurador europeu do que a titular da pasta da Saúde. “Sobram as vacinas aqui, acolá: mas sobram como? Os que recebem 50 e eram só 40 vacinas... Descongelam aquelas dez para quê?”, questionou, considerando que este resultado do plano de vacinação “é uma aselhice de todo o tamanho.”

Sobre a sua própria vacinação, Rui Rio admite vir a aceitar a imunização, se os critérios forem revistos, por considerar que seguir o protocolo de Estado não faz sentido. “A Assembleia da República precisa de mim para funcionar? Manifestamente, não precisa. Mas se a Assembleia tivesse um critério que fosse objectivo e sensato, eu não fazia um brilharete para ser popular, eu seria solidário com esse grupo”, disse, defendendo que foi um “erro” não vacinar o primeiro-ministro e outros ministros.

Ainda no rescaldo das eleições presidenciais, Rui Rio foi desafiado a responder a André Ventura sobre a inevitabilidade de ter o apoio deste partido para garantir um futuro Governo do PSD. “Enquanto for assim, com essas bazófias, nós, os portugueses, estamos bem”, disse, considerando que o Chega não tem “nem de perto nem de longe pensamento estruturado”.

Na apreciação do líder do PSD, o Chega é, “acima de tudo, uma federação de descontentamentos” e que “não consegue um eleitorado forte pela negativa”. Rui Rio voltou a rejeitar qualquer acordo pós-eleitoral com o Chega se o partido não se moderar, mas admitiu poder “ceder em prioridades”. Há uma que é, no entanto, uma “linha vermelha”: o escalão único do IRS. “É impossível, o IRS tem de ser progressivo e nem vou ao argumento constitucional. Essa não seria negociável”, disse, admitindo, por outro lado, que estaria aberto a uma reforma fiscal favorável às empresas.

Em jeito de recado, Rui Rio voltou a rejeitar endurecer o discurso à direita para captar o eleitorado que terá fugido para André Ventura. Pelo contrário, o líder do PSD considerou que o seu sucesso está no seu posicionamento ao centro (agora mais ao centro, porque já foi mais de centro-esquerda), no discurso moderado e no desgaste da governação socialista. “Nas questões da eutanásia, aborto serei mais à esquerda; na segurança, mais à direita. Eu vou por aí. A conquista ao centro do lado do PS aparecerá naturalmente face ao descalabro da governação do PS, que pode melhorar um bocadinho, mas já não vai lá ao sítio...”, afirmou. “Então vai ficar sentado à espera que o poder lhe caia no colo?”, perguntou o jornalista. “Não, não vou ficar à espera, vou intervindo.”

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