Sword Health obtém 20 milhões e contrata 100 pessoas este ano

Investidores norte-americanos reforçam investimento em empresa portuguesa que criou plataforma de fisioterapia à distância. Facturação cresceu oito vezes em 2020.

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A empresa inventou um terapeuta digital que permite tratar à distância certas doenças do foro musculo-esquelético DR

Silicon Valley continua a ter debaixo de olho a empresa portuguesa que criou um sistema de fisioterapia à distância. É dali que vem um novo investidor de peso e um cheque de 25 milhões de dólares (20,7 milhões de euros ao câmbio actual) para a Sword Health, que acaba de anunciar o encerramento de uma segunda ronda de financiamento liderada pela Transformation Capital.

Com este montante, sobe para perto de 50 milhões de dólares o investimento captado até ao momento por esta startup de origem portuguesa, que pretende agora reforçar quadros. O fundador, Virgílio Bento, revela que o plano é juntar mais 100 pessoas, só em Portugal, às 120 que actualmente trabalham nesta empresa que, em 2020, viu o número de clientes multiplicar por cinco e a facturação multiplicar por oito, graças sobretudo ao mercado dos EUA.

A Sword Health germinou em Aveiro em 2013. Acabaria por criar raízes no Porto, onde deve em breve mudar de instalações. Em 2019, mudou a sede para Nova Iorque. Nessa altura, conta Virgílio Bento, ficou definido que a estratégia comercial passava pelos EUA, com foco e equipa própria naquele mercado. Bento recusa divulgar o volume de negócios de 2020, escudando-se numa prática comum entre startups que ainda vivem do financiamento alheio, a de que “não divulga métricas internas”. Mas quem conhece o negócio, como Todd Cozzens, não tem dúvidas de que os números batem certo.

Após oito anos a trabalhar em investimentos na área da tecnologia da saúde num dos mais importantes fundos de capital de risco do mundo, a Sequoia, Cozzens fundou a Transformation Capital que agora fica com uma fatia da Sword Health graças a este investimento. “O nosso estudo de mercado confirmou que a Sword Health é líder na terapia musculo-esquelética virtual, abrangendo o mais amplo conjunto de condições clínicas”,diz Cozzens, em comunicado.

Todos os restantes investidores “não só acompanharam esta injecção de capital como até superaram o que seria necessário” para garantir a não-diluição da participação que detinham. “O interesse de investimento era três vezes superior ao tamanho da ronda”, diz o presidente-executivo da empresa ao PÚBLICO.

A Sword Health criou uma plataforma informática que permite ter cuidados de saúde musculo-esqueléticos à distância. A empresa define-o como um “terapeuta digital”, que alia Inteligência Artificial a equipas clínicas humanas. O sistema tem aprovação da FDA, o regulador da saúde norte-americano. Em 2020, diz a empresa, prestou dois milhões de minutos de terapia através desta plataforma. Essa é a única métrica do negócio revelada pela empresa. Se cada sessão demorasse em média 60 minutos, isso equivaleria a 33.333 sessões à distância num ano.

A forma mais simples de visualizar o negócio é imaginar alguém que precisa de fazer fisioterapia (ao joelho, por exemplo), mas não pode sair de casa ou tem dificuldade em mover-se. Com aquela plataforma, esse paciente faz os exercícios em casa, com o apoio à distância de um especialista, que pode acompanhar e analisar o comportamento do paciente através de sondas e a resposta através de indicadores diversos.

Num ano em que o mundo viveu o Grande Confinamento, como foi 2020, uma solução destas ganhou ainda mais tracção. “Nós já tínhamos um crescimento acelerado, mas a pandemia acelerou ainda mais essa aceleração”, constata Bento.

Os EUA, com cerca de 70% de quota de mercado, Portugal e Austrália são os mercados fundamentais da empresa. Os clientes são empresas com seguro de saúde próprio, ou seguradoras ou quaisquer entidades que têm a incumbência de pagar os tratamentos. Apesar de uma experiência-piloto “de sucesso” com o Centro Hospitalar de Leiria, conta Bento, o Serviço Nacional de Saúde não faz parte da lista de clientes. E com um vasto mercado potencial no continente norte-americano, a equipa chefiada por este licenciado e doutorado em Engenharia Electrotécnica, decidiu antes explorar mercados em que a decisão é mais célere e menos burocrática do que em entidades como um sistema de saúde de cariz público.

Ainda que sinta “uma enorme dívida de gratidão para com Portugal”, tanto os clientes como os investidores têm emergido sobretudo nos EUA. E a aposta nesse país deu frutos: a equipa de três pessoas de 2013 deu lugar a uma empresa com 120 trabalhadores, com cerca de metade em Portugal e o resto nos EUA. 

O dinheiro fresco que vai entrar destina-se sobretudo a “recursos humanos”. “Até ao final do ano, vamos contratar mais 100 pessoas em Portugal, onde mantemos o nosso centro de desenvolvimento do produto, tecnologia e engenharia, bem como desenvolvimento clínico e da componente operacional. Além disso, reforçaremos o marketing e o comercial nos EUA.”

No final de 2020, a empresa foi eleita pela organização BIG a melhor startup na área da saúde, distinguindo-a pela sua capacidade de crescimento nos últimos cinco anos. 

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