Um pensamento político

Gostava até de acreditar que o meu voto é um pensamento na humanidade, que vai até às profundidades das maiores crises humanitárias. Parece pouco, mas é um enorme poder que nós temos.

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"Votem na convicção do que vos parece melhor para todos os Portugueses de norte a sul, de todos os tamanhos e feitios Rui Gaudencio

Antes de tudo: eu vou votar. Considero o voto seguro e considero a democracia a maior conquista da nossa civilização. Com máscara, distância e lavagem de mãos, sinto que me estou a proteger e a respeitar os demais. Nunca tive nenhuma filiação partidária e provavelmente nunca vou ter. Nunca tive opiniões activas, fortes e exaustivas sobre a política nacional e provavelmente nunca vou ter. Perco mais tempo a ver o que se passa no mundo do que o que se passa em Portugal. Admiro pessoas de todos os espectros políticos. Mais do que cores ou partidos, admiro pessoas. E admiro essencialmente duas características: competência e honestidade. Tenho sérias dificuldades em estar convicto em quanto de direita e quanto de esquerda se deve ter em cada questão. E penso até que com competência e honestidade se consegue alcançar as metas desejáveis por caminhos diferentes.

A cada voto, só procuro ter a consciência e a consistência de que estou a votar por dez milhões de pessoas, e enquanto europeu por muitas mais, e gostava até de acreditar que o meu voto é um pensamento na humanidade, que vai até às profundidades das maiores crises humanitárias. Parece pouco, mas é um enorme poder que nós temos. Voto na convicção de que, mediante as opções estou a escolher a que me parece melhor para todos, e não a que possa ser melhor para mim. Nunca irei votar em alguém só porque promete aumentar os médicos, mas poderei votar sim num candidato que sinta que tirará da pobreza mais e mais portugueses e cidadãos do mundo.

Acredito que a liberdade de expressão e espaço de discussão políticos devem aproximar-se do infinito, até que cheguem a beliscar os direitos humanos. “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.” Do 1.º Artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Para mim esta e outras premissas são inegociáveis. E qualquer catalogação de seres humanos intercepta as minhas convicções da humanidade que temos em comum. Pôr em prática esta declaração é imperativo para qualquer pessoa que se queira respeitar a si própria e para que tenha o respeito dos outros.

Gostava que os nossos candidatos tivessem mais espaço de opinião para nos mostrarem os seus pensamentos sobre a Europa, o drama terrível dos refugiados e o nosso papel, pequeno que seja, na resolução das maiores catástrofes humanitárias dos nossos dias. Relembro, por exemplo, que as pessoas em risco de morrer à fome no mundo duplicaram de 130 para 260 milhões, em consequência da pandemia. Mas isso talvez seja eu a sonhar demasiado alto, num momento em que mais do que nunca estamos patologicamente fechados no nosso umbigo. Mas eu não me esqueço do mundo à minha volta, por mais que não o esteja a ver.

Votem. E, se me permitem, votem na convicção do que vos parece melhor para todos os portugueses de norte a sul, de todos os tamanhos e feitios, e, se vos sobrar espaço no pensamento, o que vos parecer melhor para o nosso posicionamento nesta bolinha azul, onde temos espalhados oito mil milhões de irmãos. Um voto, mas votem por todos.

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