Ao longo do tempo, a covid-19 irá transformar-se numa constipação?

Caso o SARS-CoV-2 se torne mesmo endémico, um modelo prevê que a taxa de letalidade deste coronavírus possa vir a ser inferior à do vírus da gripe.

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Coronavírus SARS-CoV-2 NIAID

Com o passar do tempo poderá a covid-19 tornar-se apenas numa constipação? Através de um modelo matemático, uma equipa de cientistas dos Estados Unidos propõe que, se se tornar endémico e a maioria das pessoas ficar exposta ao SARS-CoV-2 na infância, o vírus poderá juntar-se a outros coronavírus que causam constipações ligeiras. Sugere-se que essa passagem poderá acontecer entre um e dez anos. Os resultados foram publicados esta semana na revista científica Science.

Este modelo baseia-se em estudos de quatro coronavírus comuns que causam constipações e o SARS-CoV-1, um outro coronavírus identificado no final de 2002. Os quatro primeiros coronavírus já circulam há algum tempo e infectam muitas crianças e jovens, refere-se num comunicado sobre o trabalho. “A infecção natural na infância dá imunidade que protege as pessoas mais tarde na vida contra uma doença grave, mas que não evita uma reinfecção periódica”, diz no comunicado Jennie Lavine, primeira autora do artigo e investigadora no Departamento de Biologia na Universidade de Emory, nos Estados Unidos.

Através desse modelo, comparou-se então o que aconteceria com o SARS-CoV-2, identificado em Dezembro de 2019, relativamente a outros coronavírus. Este modelo sugere que a imunidade do SARS-CoV-2 funciona de uma forma semelhante a outros coronavírus que se transmitem entre humanos. Caso se torne mesmo endémico, o modelo prevê que a taxa de letalidade do novo coronavírus possa ser inferior à do vírus da gripe.

“Estamos num território desconhecido, mas a mensagem-chave do estudo é que os indicadores imunológicos sugerem que as taxas de letalidade e a necessidade crucial pela vacinação em grande escala possam diminuir num curto período de tempo”, considera Ottar Bjornstad, também autor do estudo e cientista na Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Ao jornal espanhol El País, Jennie Lavine disse que o prazo exacto da passagem para o estado endémico do vírus depende de quão rápido se propague e da velocidade da vacinação. Também se precisará de saber durante quanto tempo alguém fica imune à covid-19 grave ou depois de ter sido vacinado. Mas lança já um número: “O nosso modelo sugere que essa transformação demorará entre um e dez anos.”

Quanto às possíveis reinfecções, Jennie Lavine refere que as crianças podem tê-las, mas que os sintomas poderão ser cada vez mais leves ou até inexistentes. “Estes resultados reforçam a importância de continuar com medidas de distanciamento social até que campanhas de vacinação durante esta fase da pandemia estejam concluídas”, concluem os autores, citados pelo El País.

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