Covid-19: mais 90 mortes em Portugal. Internamentos nos valores mais altos em quase um mês

Foram detectados 4956 novos casos na segunda-feira. Há mais 89 infectados hospitalizados, para um total de 3260. É o valor mais alto desde 10 de Dezembro. Número de doentes nos cuidados intensivos também não era tão alto desde 14 de Dezembro.

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Rui Oliveira

Portugal registou mais 90 mortes por covid-19 e 4956 novos casos de infecção na segunda-feira, de acordo com o boletim epidemiológico da Direcção-Geral da Saúde (DGS) desta terça-feira. O número de vítimas mortais sobe assim para 7286 e o total de infectados ascende a 436.579 desde o início da pandemia.

O relatório de situação actualizado indica que há 3260 pessoas internadas, mais 89 do que no dia anterior. É o quarto dia consecutivo com um aumento do número de hospitalizações (mais 454 pessoas internadas em quatro dias) e o total é o valor mais alto desde 10 de Dezembro, quando estavam internadas 3304 pessoas.

Estão em unidades de cuidados intensivos mais dois infectados, aumentando o total para 512 – o número mais elevado de doentes em UCI desde 14 de Dezembro.

O número de mortes é o terceiro registo mais elevado desde Março, igualando as 90 vítimas mortais também contabilizadas a 14 de Dezembro e apenas atrás das 95 e 98 mortes de 11 e 13 de Dezembro, respectivamente. A taxa letalidade global da doença está em 1,67% e sobe a 10,1% nos casos de doentes com 70 ou mais anos. Neste grupo etário encontram-se 88% do total de óbitos do país.

Há mais 4691 pessoas recuperadas, aumentando o total de recuperações no país para 349.110. Excluindo estes casos e os óbitos, há 80.183 casos activos em Portugal, mais 175 do que no dia anterior.

Questionada sobre se o aumento de mortes e casos poderá significar um terceiro pico, Graça Freitas considera que a mortalidade “não acompanha em simultâneo o número de casos”, admitindo que não consegue “responder à pergunta”, por ser apenas possível identificar um pico assim que este é ultrapassado. “Enquanto não iniciarmos os movimentos de descida é difícil saber que estivemos no pico. Mais importante do que estar no pico é o número de casos semanalmente e a que temos de dar resposta, seja em domicílio seja em centros de saúde ou hospitais”, reiterou a directora-geral da Saúde na conferência de balanço epidemiológico desta terça-feira.

A maior parte das infecções foram identificadas na região Norte (1945), com Lisboa e Vale do Tejo a ser responsável por 1552 dos novos casos. As duas regiões contabilizam 3497 dos novos casos notificados no boletim desta terça-feira (71%) e por 57 mortes (63%).

O Norte é a região mais afectada desde o início da pandemia, com 3312 mortes em 218.546 casos. Lisboa e Vale do Tejo é a região seguinte, com 2536 mortes e 141.509 infecções identificadas.

Segue-se a região Centro, com 1062 mortes (mais 17) e 51.736 casos (mais 845); o Alentejo, com 263 óbitos (mais 14) e 12.376 infecções (mais 310); o Algarve, com 75 vítimas mortais (mais uma) e 8529 casos de infecção (mais 193); os Açores, com 2057 casos notificados (mais 39) e 22 mortes; e a Madeira, com 16 mortes (mais uma) e 1826 infecções (mais 72).

"32 mil doses carecem de outras 32 mil para completar o esquema vacinal”, relembra Graça Freitas

 

A directora-geral da Saúde relembrou que as 32 mil doses administradas ainda em 2020 não correspondem à vacinação de igual número de pessoas, vincando a necessidade de uma segunda dose para completar este processo de imunização contra a covid-19.

“Quero dar pequenas notas sobre a vacinação. Como sabem, começou no dia 27 [de Dezembro de 2020] no âmbito de um movimento europeu e as doses que foram distribuídas foram utilizadas, num total de 32 mil doses. Quero dizer que não quer dizer 32 mil pessoas vacinadas, porque as pessoas devem receber duas doses. Estas 32 mil doses carecem de outras 32 mil para completar o esquema vacinal”, explicou Graça Freitas.

A responsável explicou ainda que a vacinação que chegou esta segunda-feira aos lares teve início nas instituições localizadas nos concelhos com maior risco de exposição, voltando a lembrar que a idade dos utentes foi um factor importante na escolha destas instituições como um grupo prioritário.

“No dia 4, ontem [segunda-feira], iniciou-se a vacinação nos lares de idosos, que seguiu um critério: temos de arranjar prioridades porque as vacinas chegam semanalmente por tranches. O critério utilizado para os lares foi dos concelhos com maior incidência: 11 na região Norte, cinco na região Centro, um em Lisboa e Vale do Tejo e oito no Alentejo. Vão ser vacinadas cerca de 150 instituições – e digo ‘cerca’ porque se o lar desenvolver um surto será substituído por outro – e serão abrangidas entre residentes e profissionais cerca de 12 mil pessoas”, resumiu.

Sobre a nova estirpe de covid-19 que teve origem no Reino Unido, que parece ser mais contagiosa junto dos mais jovens, Graça Freitas disse ainda não haver provas de que a variante seja mais agressiva, pelo que não se justifica uma alteração das regras sanitárias nas escolas. Mantêm-se, para já, as directrizes das autoridades de saúde para os estabelecimentos de ensino.

“Algumas indicações vão no sentido de que [a nova estirpe] poderá propagar-se mais facilmente em populações mais jovens do que as outras variantes. Carece de confirmação e obviamente pode haver uma estratégia diferente. Temos sempre de conjugar as duas coisas: a transmissão – mais casos – mas, depois, a gravidade dos casos. Como disse há pouco, não há indícios de que esta variante seja mais agressiva. À data, a nossa indicação para as escolas é que continuem o bom exemplo do primeiro período”, resumiu a directora-geral da Saúde.

Apesar de não haver indicações de que seja mais grave, Graça Freitas deixa o aviso: o simples facto de poder fazer aumentar tão facilmente o número de contágios já constitui um risco acrescido.

“Esta variante [da covid-19] parece que, de facto, se transmite mais facilmente, mas não há nenhuma informação de que será mais grave. No entanto, só pela quantidade, poderá constituir um risco acrescido. Se há muitos casos, há uma proporção maior que será grave, uma proporção maior que será internada. É sempre preocupante uma variante que se transmite mais facilmente. Está em investigação e a ser estudada por uma série de países, o que é bom”, afirmou.

Lares têm 417 surtos activos. Lisboa e Vale do Tejo concentra 284

Relativamente ao mais recente balanço sobre surtos em lares de idosos, a directora-geral da Saúde adiantou que estão registados 417 surtos activos. Desses, 55 são na região Norte, 25 no Centro, Lisboa e Vale do Tejo concentra 284, o Alentejo 29 e o Algarve 24. “Estes surtos estão sobretudo identificados em estruturas residenciais para idosos, menos em escolas. Felizmente, como é do nosso conhecimento, as escolas têm sido bastante poupadas a surtos, e alguns em instituições de saúde”, explicou Graça Freitas.

Questionada sobre a pressão colocada no Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos próximos dias, resultante da redução das medidas restritivas, Graça Freitas deixa uma mensagem de confiança à capacidade de adaptação do SNS. “Relativamente ao impacto dos números nos próximos dias no SNS, obviamente que já tem dado provas de uma grande capacidade de adaptação. Creio que, mesmo que os números aumentem – e parece que sim – o SNS terá capacidade de se adaptar, reorganizando a sua oferta de cuidados. Quanto menos casos tivermos, melhor, mas o SNS está a adaptar-se”, atesta.

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