Os aumentos na TAP são uma indigência moral

Numa empresa à beira do precipício pagar aos seus administradores salários muito acima do que ganha o Presidente da República deve ser o equivalente a brindar com Barca Velha no dia do anúncio dos despedimentos.

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O que se está agora a passar na empresa de transporte aéreo “de bandeira” que estava para fechar e que o Estado, com o dinheiro dos contribuintes, resgatou é social e politicamente imoral. Já se sabe que o plano de reestruturação entregue em Bruxelas será uma máquina trituradora de empregos e de salários. O ministro das Infra-Estruturas admitiu em Dezembro que “os custos laborais são um peso na TAP” e “que tornam difícil a sua recuperação”.

Como é possível que o salário de Miguel Frasquilho tenha sido aumentado (decisão entretanto revertida) e que as promoções de Ramiro Sequeira e Alexandra Vieira Reis permitam que estes dois novos administradores vejam, na prática, duplicar os seus vencimentos? Se é normal que a uma promoção corresponda um aumento de salário, uma empresa tem de ser altamente lucrativa para que tal signifique passar de 17 mil euros mensais para 35 mil (caso de Ramiro Sequeira) ou de 14 mil por mês para 25 mil (caso de Alexandra Vieira Reis). É para ficar a ganhar o mesmo que os outros que já lá estão?

A questão é essa: numa empresa à beira do precipício pagar aos seus administradores (em nome de quê? Vão fugir para a concorrência?) salários muito acima do que ganha o Presidente da República deve ser o equivalente a brindar com Barca Velha no dia do anúncio dos despedimentos. 

Nas últimas décadas tem-se agravado exponencialmente, praticamente em todo o mundo, a diferença entre o salário da pessoa que ocupa o topo da hierarquia e o salário daquela que está no último escalão. O argumento de que a pessoa que ocupa o topo é insubstituível e rara está por provar num número muito elevado de casos. Infelizmente, não há grande concorrência por estes dias em empresas de aviação, o que torna o argumento ainda mais disparatado.

O PSD tem razão quando diz ser “deplorável” que isto aconteça “quando está na iminência de se verificar na TAP o maior despedimento colectivo de que há memória e de se impor perdas significativas nos salários dos seus colaboradores”. Também o Bloco de Esquerda afirma legitimamente que “não se podem pedir todos os sacrifícios aos trabalhadores, enquanto os elementos da administração, que auferem salários muito acima da média da empresa, vêem o seu rendimento aumentado de forma substancial”. O Governo tem de se explicar – e não chega fazer saber que pediu a Miguel Frasquilho para se “desaumentar”.

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