PSD e BE questionam Governo sobre remunerações de administradores da TAP

Os aumentos salariais a três admnistradores da TAP foram mal recebidos pelos partidos, que questionam a decisão do Governo em plena reestruturação da empresa e enquanto se discute a demissão de centenas de trabalhadores.

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Em comunicado o Governo justificou a decisão e diz que apesar de aumento houve uma redução da despesa com a admnistração LUSA/RODRIGO ANTUNES

A notícia do aumento salarial de vários administradores da TAP, incluindo o presidente do conselho de administração da TAP SGPS Miguel Frasquilho, provocou algum incómodo no Parlamento. Esta terça-feira, BE e PSD enviaram perguntas ao Governo e questionaram o executivo sobre a sua disponibilidade para rever a decisão.

Em causa está a remodelação do quadro administrativo da empresa, que se traduziu na saída de alguns administradores e na promoção de três responsáveis. Miguel Frasquilho, que além de presidente do conselho de administração da TAP SGPS passou a ser também o presidente do conselho de administração da TAP SA (passando de 12 mil euros para 13,5 mil euros brutos por mês), Ramiro Sequeira que passou de responsável pela área de operações a presidente executivo (interino) da transportadora aérea (passando de 17 mil euros para 35 mil euros brutos) e de Alexandra Vieira Reis que passou de responsável pela área de compras a administradora executiva (passando a receber 25 mil euros por mês em vez de 14 mil euros).

Durante a tarde, Miguel Frasquilho ― que assumiu também o cargo de presidente do conselho de administração da TAP SA, na sequência da saída do cargo de Humberto Pedrosa ―anunciou que iria abdicar do seu acréscimo salarial, mas os partidos continuam a querer ouvir o Governo sobre o aumento que consideram “incompreensível” durante a negociação da reestruturação da empresa.

Na pergunta do PSD, assinada à cabeça pelo vice-presidente da bancada Afonso Oliveira e pelos deputados Cristóvão Norte e Carlos Silva, os sociais-democratas consideram “deplorável” que o aumento aconteça “quando se está na iminência de verificar na TAP o maior despedimento colectivo público de que há memória e a impor perdas significativas nos salários dos seus colaboradores”.

O PSD considera que a decisão mancha “a reputação da empresa” e descredibiliza-a perante Bruxelas, uma vez que decide “em sentido oposto ao que está inscrito no plano de reestruturação para os demais trabalhadores”.

No documento enviado pelo BE para o Ministério das Infra-estruturas e Habitação, os bloquistas consideram que “não é compreensível ou aceitável que se estejam a prever cerca de 2000 despedimentos e reduções salariais de 25% aos trabalhadores e, ao mesmo tempo, se decidam subidas salariais na administração”.

A pergunta do PSD deu entrada já depois de o líder do partido, Rui Rio, se ter pronunciado na sua conta de Twitter. Numa publicação feita na noite de segunda-feira, Rui Rio lamentou os aumentos e criticou que “um Governo de esquerda - que se diz sempre preocupado com os mais desfavorecidos” tenha aprovado um aumento salarial “numa empresa falida que só sabe viver de mão estendida para o contribuinte” que “suporta a brutal carga fiscal”, escreveu.

Também o Bloco argumenta que “não se podem pedir todos os sacrifícios aos trabalhadores, enquanto os elementos da administração, que auferem salários muito acima da média da empresa, vêem o seu rendimento aumentado de forma substancial”. Na pergunta enviada ao ministério tutelado por Pedro Nuno Santos, a deputada Isabel Pires sublinha que que plano de reestruturação da TAP “terá consequências sociais altamente prejudiciais para milhares de trabalhadores e respectivas famílias, sem referir que a empresa corre o risco de ficar diminuída a tal ponto que possa vir a ter muita dificuldade no momento de retoma da sua actividade”.

Aumento pode prejudicar negociações em Bruxelas, diz PSD

Os sociais-democratas acreditam ainda que além de prejudicar a imagem do Governo junto de Bruxelas, a decisão “mina a confiança dos cidadãos”. Além disso, o PSD lamenta que não seja ainda conhecido pelo Parlamento o plano de reestruturação que será objecto de negociação em Bruxelas.

Também o deputado e candidato presidencial André Ventura se pronunciou sobre o assunto (mas não entregou qualquer pedido na Assembleia da República). O líder do Chega considerou vergonhoso” o anunciado aumento do salário de alguns administradores da TAP, considerando que se trata de “um insulto” aos portugueses. "É a maior hipocrisia do Governo, apresentar um plano de cortes na TAP, mas os gestores de topo são aumentados e os outros ficam a ver navios e alguns são despedidos”, considerou o deputado. "É preciso salvar a TAP, mas não é a pagar salários milionários que se vai salvar a TAP”, concluiu.

Esta terça-feira, o Ministério das Infra-estruturas e Habitação reagiu às notícias em comunicado, sublinhando que as mudanças feitas na empresa originaram, comparando Março com Dezembro, uma poupança de “33% em valores brutos”. Pedro Nuno Santos acrescenta que o corte proposto na reestruturação da empresa será superior na administração (30% contra os 25% a aplicar ao grupo, acima dos 900 euros) e sobre Ramiro Sequeira e Alexandra Reis afirma que os dois “estão a acumular as novas funções com as funções antigas” e que “o aumento salarial que tem sido noticiado contabiliza as duas funções que, transitoriamente, ocupam em simultâneo”, tendo Ramiro Sequeira aceite “um salário bastante inferior ao salário” auferido por Antonoaldo Neves.

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