Covid-19: vacina de Oxford é “segura” e também provoca resposta imunitária em pessoas mais velhas

Vacina provocou resposta imunitária em pessoas saudáveis acima dos 56 anos, algo que já tinha acontecido nas faixas etárias mais jovens. Falta saber a sua eficácia na protecção contra a infecção nos idosos com problemas graves de saúde, um dos grupos mais afectados pelo vírus. Resultados finais devem ser conhecidos até ao Natal.

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A produção da potencial vacina contra a covid-19 da AstraZeneca DAN HIMBRECHTS/Lusa

A potencial vacina contra o novo coronavírus que está a ser desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca revelou-se “segura” e produziu uma resposta imunitária em pessoas acima dos 56 anos — aquelas que são mais propensas a desenvolver uma forma grave de covid-19. A vacina experimental já tinha mostrado resultados semelhantes numa faixa etária mais jovem, em adultos entre os 18 e os 55 anos. Os resultados da segunda fase dos ensaios, considerados “promissores”, foram publicados esta quinta-feira na revista científica The Lancet.

Na segunda fase dos ensaios clínicos, 560 participantes (160 entre os 18 e os 55 anos, 160 entre os 56 e os 69 anos e 240 com 70 anos ou mais) foram divididos em dez grupos e receberam a vacina da covid-19 (baptizada ChAdOx1 nCoV-19) ou uma vacina de “controlo”, neste caso a da meningite. Os participantes com mais de 55 anos também foram divididos em grupos e receberam uma única dose da vacina ou duas doses num intervalo de 28 dias.

Assim, os resultados mostram que a vacina causa poucos efeitos secundários e induz respostas imunitárias em todas as faixas etárias (quer tenha sido administrada uma dose baixa ou uma dose normal), provocando uma resposta imunitária dos linfócitos T, células importantes na criação de imunidade, num período de 14 dias após a vacinação. Quer isto dizer que a vacina é capaz de encontrar e atacar as células infectadas com o vírus. Por outro lado, o fármaco também provocou uma resposta de anticorpos dentro de 28 dias após a dose de reforço, o que significa que consegue encontrar e atacar o vírus SARS-CoV-2 quando este está a circular no sangue ou no sistema linfático.

A fase três dos ensaios está já em andamento para confirmar os resultados agora divulgados e para perceber o grau de eficácia da vacina na protecção contra a infecção pelo SARS-CoV-2 num grupo mais alargado de pessoas, incluindo idosos com problemas graves de saúde — até porque a fase dos ensaios que está agora terminada só incluiu cidadãos saudáveis que podem não ser representativos da generalidade da população mais idosa.

“As respostas imunitárias das vacinas são, muitas vezes, menores em adultos mais velhos porque o sistema imunitário se deteriora gradualmente com a idade, algo que também deixa os idosos mais susceptíveis a infecções. É crucial que as vacinas da covid-19 sejam testadas neste grupo, que também é um grupo prioritário para a imunização”, refere Andrew Pollard, professor da Universidade de Oxford (Reino Unido) e o principal autor do estudo. Pollard disse ainda que os resultados finais devem ser conhecidos até ao Natal.

Já Maheshi Ramasamy, co-autor, diz que as respostas geradas pela vacina em pessoas idosas “são encorajadoras” e espera que isto signifique que possa ajudar a proteger algumas das pessoas “mais vulneráveis ​​da sociedade”. “Precisamos de mais estudos antes de podermos dizer isso com certeza”, afirma, citado no comunicado da The Lancet.

A investigadora Sarah Gilbert afirmou que o estudo dá algumas respostas sobre a protecção de pessoas mais velhas, mas que ainda há dúvidas “sobre a eficácia e a duração da protecção”, que terão que ser confirmadas “em pessoas mais velhas com doenças pré-existentes”.

Depois da vacinação, os voluntários foram observados por um período mínimo de 15 minutos para se perceber se poderiam ocorrer efeitos nocivos imediatos, mas nada foi registado num período de sete dias. As reacções adversas à vacina ChAdOx1 nCoV-19 foram moderadas — os efeitos mais comuns foram dor e sensibilidade no local da injecção, fadiga, dor de cabeça, febre e dores musculares —, mas mais comuns do que as observadas com a vacina de controlo.

Foram registados “13 eventos graves nos seis meses após a primeira dose ser foi administrada, mas nenhum dos quais está relacionado com as vacinas em estudo”, lê-se no estudo. Os participantes vão continuar a ser monitorizados durante um ano após a vacinação. Os testes da vacina chegaram a ser suspensos em Setembro depois de um voluntário ter tido uma reacção adversa grave, mas foram retomados poucos dias depois.

47 candidatas a vacinas em ensaios clínicos (em pessoas) e dez estão na fase 3 (em que é feita a avaliação dos resultados do fármaco em milhares de voluntários), segundo documentação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 3 de Novembro. A vacina de Oxford é uma das que surgem na frente da corrida para encontrar uma vacina viável para combater a infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2. A equipa foi uma das primeiras a iniciarem ensaios clínicos em humanos.

Nas últimas semanas, várias empresas de biotecnologia e farmacêuticas tem-se chegado à frente e apresentado resultados (alguns ainda preliminares) dos ensaios clínicos das suas vacinas, entre estas a Pfizer e a sua parceira alemã BioNTech, a Sinovac, a Moderna e o Fundo de Investimento Directo Russo, que está a desenvolver a vacina Sputnik V.

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