Relações, felicidade… e o tornar-se idoso

Criar e estabelecer boas relações com as pessoas que nos rodeiam são excelentes preditores de uma vida longa e feliz.

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"Na boa e atarefada corrida da vida, procure estabelecer boas relações com a sua família, com os seus amigos e demais pessoas" PAULO PIMENTA

Vivemos o dia-a-dia numa boa e atarefada corrida! Possivelmente agora menos acelerada devido à pandemia que nos imobilizou em muitas das nossas apressadas responsabilidades! Mas, nessa corrida do dia-a-dia, mais ou menos acelerada, certamente já reservou alguns minutos para pensar:

O que pode fazer hoje para colher frutos de felicidade no amanhã? Sendo que o amanhã será a nossa velhice. Eu sei que pode parecer um pouco assustador para alguns pensarem na velhice! Mas eu desejo poder vivê-la com muita felicidade! Por isso, dou por mim a pensar onde devo hoje despender e investir o meu tempo para colher essa felicidade no meu amanhã!?

Um dos estudos mais longos conduzido com seres humanos, com o objectivo de entender o que mantém as pessoas saudáveis e felizes ao longo da vida, liderado pelo famoso psiquiatra Robert Waldinger, já nos deu parte dessa resposta. Esse estudo, desenvolvido na Harvard Medical School, focado no desenvolvimento adulto, acompanhou a vida de 724 homens americanos e em alguns deles ao longo de praticamente 80 anos, tendo verificado que não foi a condição de saúde física que tornou as suas vidas mais longas. Como também não foi a capacidade económica que a tornou mais feliz! Verificaram que a solidão e a depressão matam. Provavelmente, tanto como o tabaco e o álcool. E que ter más relações com os parceiros e os demais é tão prejudicial como não as ter.

Por outro lado, confirmaram que a felicidade aumenta a esperança média de vida. Neste contexto, já o sábio Aristóteles na sua obra Ética a Nicómaco nos diz que a felicidade é como o bem supremo que pode ser obtido através da acção humana. E que acção humana podemos ter para tornarmo-nos idosos com vidas mais longas e mais felizes?

Somos seres sábios e somos seres de relações. Somos humanos e a nossa felicidade depende muito das relações que estabelecemos ao longo da vida. Criar e estabelecer boas relações com as pessoas que nos rodeiam são excelentes preditores de uma vida longa e feliz. E quem o conclui é a tal investigação liderada por Robert Waldinger, que apesar da panóplia imensa de dados que este estudo gerou, este é um dos achados mais robustos e, talvez, dos mais destacados desta longa investigação.

Na minha vida profissional, como professora do ensino de enfermagem e como enfermeira, acompanho muitos estudantes em vários contextos de cuidados à pessoa idosa. É verdadeiramente doloroso as expressões de sofrimento que acompanham muitos dos nossos idosos: “Ai menina, que já não faço nada aqui!”; “Deus tenha misericórdia e me leve!”. É de extrema complexidade cuidar de idosos quando estes não têm objectivos de vida. Já nada os prende, já nada faz sentido!

Por sua vez, é muito fácil cuidar de idosos, mesmo que severamente doentes, quando estes têm amigos, família, filhos… porque estes laços tornam-se objectivos de vida!

Portugal, à semelhança da maioria dos países europeus, tem uma elevada taxa de depressão nas pessoas idosas. Temos por isso, idosos cada vez mais sós e cada vez mais isolados. A Organização Mundial de Saúde tem-nos alertado para o crescente aumento do consumo de álcool na população idosa, para além da problemática e crescente prevalência da depressão e das síndromes demenciais.

Se queremos contrariar esta tendência, uma excelente estratégia para preservarmos a nossa saúde mental e enriquecer a nossa felicidade de viver, é criar e manter boas relações ao longo da vida!

Portanto, a receita é simples. Na boa e atarefada corrida da vida, procure estabelecer boas relações com a sua família, com os seus amigos e demais pessoas com que se cruza… e preserve essas relações! Elas ajudarão a preservar a sua saúde e serão certamente prelúdios de uma vida longa, mais saudável (pelo menos mentalmente) e feliz!

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