Ministro da Educação brasileiro demite-se antes de tomar posse

Carlos Decotteli é acusado de ter exagerado as suas habilitações académicas. Ficou cinco dias no cargo.

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Jair Bolsonaro já assistiu à demissão de dez ministros no seu Governo Reuters/ADRIANO MACHADO

Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro de Educação do Brasil há menos de uma semana, apresentou a sua demissão esta terça-feira, dias antes da cerimónia oficial da tomada de posse. Em causa estão várias polémicas com o seu currículo, como suspeitas de falsos títulos académicos e de plágio.

Decotelli confirmou a demissão ao canal televisivo CNN Brasil e ao jornal Folha de S. Paulo. Na manhã desta quarta-feira, o Diário Oficial da União já apresentava a anulação formal da nomeação de Decotelli para dirigir o Ministério da Educação.

O pedido de saída do Governo brasileiro surge após terem vindo a público várias suspeitas em relação à formação académica de Decotelli, nomeado na passada quinta-feira, sucedendo no cargo a Abraham Weintraub.

Ao anunciar a nomeação, Jair Bolsonaro citou na rede social Twitter os principais títulos académicos do governante, incluindo “um mestrado na Fundação Getúlio Vargas, um doutoramento na Universidade de Rosário, da Argentina, e um pós-doutoramento na Universidade de Wuppertal, da Alemanha”.

Contudo, esse currículo foi manchado com alegadas irregularidades: denúncia de plágio na dissertação de mestrado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), falso título de doutoramento pela universidade argentina e o pós-doutoramento que não foi realizado.

Na sexta-feira, após Decotelli ser nomeado ministro, o reitor da Universidade Nacional de Rosário afirmou que o novo governante brasileiro não obteve o título de doutor naquela instituição, contrariamente ao que constava no seu currículo.

“O senhor Decotelli cursou o doutoramento em Administração da Faculdade de Ciências Económicas e Estatísticas da Universidade Nacional de Rosário, mas não o concluiu. Não completou todos os requisitos que são exigidos pela nossa regulamentação, que exige a aprovação de uma tese final para obter o título de doutor. Portanto, não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário”, declarou o reitor Franco Bartolacci à rede Globo.

Posteriormente, surgiu a suspeita de plágio em partes da tese de mestrado entregue por Decotelli à Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, situação que o governante negou, alegando “distracções”.

Em comunicado, a FGV indicou que o orientador da dissertação foi procurado e que, caso seja confirmado um “procedimento inadequado”, serão tomadas medidas administrativas e judiciais contra Carlos Decotelli.

Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou na segunda-feira que o novo ministro não possui nenhum título pela instituição, ao contrário do que constava no seu currículo, que mencionava um curso de pós-doutoramento.

À CNN Brasil, Decotelli disse hoje que a “gota de água” foi o facto de a FGV, uma das mais importantes instituições académicas brasileiras, ter negado que fez parte de seu corpo de professores.

Em comunicado, a FGV frisou que Decotelli “actuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação”, sendo que, “da mesma forma, não foi pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição”.

Oficial da reserva da Marinha, Carlos Decotelli foi o primeiro ministro negro do Governo de Bolsonaro e o mais recente militar a integrar o actual executivo do Brasil. Foi, também, o terceiro ministro da Educação do actual executivo, depois de Abraham Weintraub e de Ricardo Vélez.

Em menos de dois anos, o Governo brasileiro já assistiu à demissão de dez ministros, incluindo dois na Saúde (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich), já durante a pandemia da covid-19, e o titular da Justiça, Sergio Moro.

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