Novo Banco: quando acaba esta opereta?

Está na hora de pôr de lado as promessas de clarificação ou palavreado do economês com que o Governo e a gestão do Novo Banco nos tentam iludir e exigir acções concretas. O que se passou no Novo Banco exala aquele perfume estranho que legitima todas as desconfianças.

A história lúgubre do Novo Banco não pára de nos surpreender. Quando pensamos que já sabemos tudo, aparece mais uma decisão, um negócio, uma imparidade ou um relatório para transformar a pior resolução bancária de União Europeia (disse-o Mário Centeno na Assembleia da República) num cada vez mais perfeito monumento à irresponsabilidade, à incompetência ou à negligência da governação da coisa pública nos últimos anos. Agora, como o demonstra um memorando confidencial trabalhado pela jornalista Cristina Ferreira, ficamos a saber que em 2015 uma equipa do BPN Paribas tinha chegado à conclusão que as contas do Novo Banco estavam bem provisionadas, com uma carteira de crédito devidamente sustentada, não antevendo qualquer necessidade de novas necessidades de capital. Uma monumental mentira que até à data já implicou 2,1 mil milhões de euros de empréstimos garantidos pelo Estado.

Custa a entender. Primeiro, a PwC passa as contas do Novo Banco a pente fino e conclui que a avaliação dos seus bens estava correcta, permitindo assim ambicionar a sua venda sem encargos futuros para o Estado. Depois, vêm os franceses corroborar esta constatação e comprovar que, com o valor dos activos “bons” mais uma injecção de capital do Fundo de Resolução no valor de 4,9 mil milhões de euros, nada haveria a temer. Foi essa a mensagem que quiseram passar os políticos que participaram na história recente do Novo Banco, do Governo de Passos Coelho e de António Costa. Foi essa a garantia que o Banco de Portugal, ou os gestores do Novo Banco reforçaram. Os resultados estão à vista. Ou as contas estavam erradas, ou mentiram aos portugueses.

E isto por uma razão fundamental: entre Fevereiro de 2015 e a actualidade, não há razões para se acreditar que os bens do Novo Banco tenham perdido valor. Pelo contrário. A última fase da economia valorizou hotéis, habitações, terrenos, instalações industriais ou terrenos agrícolas. Se em 2015 havia garantias para se afirmar que após a venda do Novo Banco não haveria necessidade de apoio do Estado, em 2017, 2018 e 2019 havia ainda menos. Mas nem assim o fantasma das imparidades deixou de atormentar o país, com os custos e consequências que se sabem. Também por isso, está na hora de pôr de lado as promessas de clarificação ou o palavreado do economês com que o Governo e a gestão do Novo Banco nos tentam iludir e exigir acções concretas. O que se passou no Novo Banco exala aquele perfume estranho que legitima todas as desconfianças. Temos o direito de saber o enredo desta tragédia e o dever de exigir responsabilidades aos seus autores.

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