Brasil deixa de divulgar total de mortes e de casos de covid-19

Jair Bolsonaro diz não querer alimentar histórias na imprensa, e ataca a rede Globo. Até o site do Ministério da Saúde que tinha estatísticas da pandemia foi retirado da Internet.

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"Ou a OMS realmente deixa de ser uma organização política ou ou nós estudamos sair de lá", disse Bolsonaro LUSA/Joédson Alves

Quando o Brasil tem mais de 35 mil mortos pela covid-19 contabilizados, o Presidente Jair Bolsonaro confirmou que a divulgação de dados sobre o impacto das infecções pelo novo coronavírus vai ser restringida. As primeiras mudanças já foram visíveis no boletim diário do Ministério da Saúde divulgado na sexta-feira, bem mais tarde que o habitual: só trazia o número de doentes recuperados, novos casos e mortes nas últimas 24 horas. Os números totais de doentes e mortes desapareceram.

Uma mudança deste tipo já era temida – falava-se disto desde que a hora de divulgação do boletim diário, que habitualmente era às 17h, começou esta semana a ser atrasada para as 19h, sem que fossem avançadas explicações, e finalmente, na sexta-feira, para as 22h. A única coisa que o Presidente ofereceu, à laia de explicação, nas redes sociais, foi “acabaram-se as matérias [histórias] no Jornal Nacional [o telejornal da Rede Globo, o mais assistido em todo o Brasil].

O pivot do Jornal do Brasil, William Bonner, interrompeu uma das novelas da noite para dar a notícia do conteúdo do boletim, quando finalmente saiu. E a direcção da Globo até emitiu uma nota de resposta.

O site do Ministério da Saúde do Brasil dedicado à divulgação dos números da pandemia – há pelo menos 646 mil casos de infecção, embora todos os especialistas concordem que há uma elevada taxa de subnotificação, e a dimensão a crise de saúde será muito maior – desapareceu da Internet.

O juiz Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, anunciou estar a pensar propor aos tribunais de contas federal e estaduais que requisitem as estatísticas da doença para divulgação diária até 18h, diz a Folha de São Paulo.

Deixar a OMS

O Brasil é o segundo país com mais casos de covid-19, só ultrapassado pelos Estados Unidos. E, em termos de mortes, ultrapassou já a Itália. Só o Reino Unido e, mais uma vez, os EUA, o ultrapassam. Na quinta-feira, foi o país com o maior número de mortes diárias no mundo (1473), perfazendo 28% de todas as mortes decorrentes da covid-19 no planeta, nota a Folha de São Paulo. Mas a doença continua a aumentar no Brasil. Previa-se que só em Julho chegasse ao pico das infecções.

No meio deste cenário, Jair Bolsonaro contempla ainda a possibilidade de sair da Organização Mundial de Saúde (OMS), tal como os Estados Unidos fizeram.

“O [Donald] Trump cortou a grana deles, voltaram atrás em tudo. E adianto aqui: os Estados Unidos saíram da OMS. A gente estuda no futuro – ou a OMS trabalha sem o viés ideológico – ou nós vamos estar fora também. Não precisamos de gente de fora dar palpite na saúde aqui dentro”, declarou o Presidente do Brasil, citado pela Globo.

“É o seguinte: ou a OMS realmente deixa de ser uma organização política, partidária, assim, vamos dizer, até partidária, ou nós estudamos sair de lá”, frisou.

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