Covid-19: Bolsonaro ameaça retirar Brasil da Organização Mundial da Saúde

Presidente brasileiro acusou a agência da ONU de trabalhar com “viés ideológico”.

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Jair Bolsonaro Reuters/ADRIANO MACHADO

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ameaçou na sexta-feira retirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS), após acusar a entidade de actuar de forma “política”, “partidária” e “ideológica” num momento de pandemia de covid-19.

“Eu adianto aqui, os Estados Unidos saíram da OMS. Nós estudamos isso, no futuro. Ou a OMS trabalha sem viés ideológico, ou saímos de lá também. Não precisamos de gente de lá de fora a dar palpite na saúde aqui dentro”, afirmou Bolsonaro a jornalistas e apoiantes à entrada do Palácio da Alvorada, a sua residência oficial em Brasília.

“Ou a OMS realmente deixa de ser uma organização política e partidária ou nós estudamos sair de lá”, acrescentou.

Bolsonaro aproxima-se assim da posição tomada do chefe de Estado norte-americano, Donald Trump, que no final de Maio anunciou que os Estados Unidos sairão da OMS e disse que vai “redireccionar os fundos para outras necessidades urgentes e globais de saúde pública que possam surgir”.

Donald Trump disse que a OMS não soube responder de forma eficaz ao seu apelo para introduzir alterações no seu modelo de financiamento e acusou a organização da ONU de ser subserviente em relação à China.

No início deste mês, o Presidente norte-americano tinha feito um ultimato à OMS, ameaçando cortar a ligação à organização se não fossem feitas reformas profundas na sua estrutura e forma de actuação.

Nessa altura, Trump suspendeu temporariamente o financiamento à OMS, no valor que está estimado em cerca de 400 milhões de euros anuais, o que corresponde a 15% do orçamento da organização.

A declaração de Bolsonaro acontece um dia após a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), vinculada à OMS, ter cobrado uma dívida de 24,2 milhões de dólares (21,4 milhões de euros) referente a pagamentos que o Governo brasileiro tem em atraso para com a entidade, segundo o jornal O Globo.

“O Trump cortou a grana deles e eles voltaram atrás em tudo. É só tirar a grana que eles começam a pensar diferente”, acrescentou Bolsonaro na sexta-feira, fazendo referência ao facto de a Organização ter retomado estudos clínicos com hidroxicloroquina para tratamento da covid-19.

Bolsonaro é um admirador de Donald Trump, com quem tem fortalecido relações desde que chegou ao poder, em Janeiro de 2019.

O chefe de Estado brasileiro esteve nos Estados Unidos em Março, tendo regressado ao seu país com várias pessoas da sua comitiva infectadas pelo novo coronavírus, mas não restringiu viajantes norte-americanos de entrarem no país.

Contudo, Donald Trump decretou, em 24 de Maio, a proibição de entrada nos Estados Unidos de todos os estrangeiros que tenham estado no Brasil nos 14 dias anteriores.

Os Estados Unidos são o país com mais mortos (109.042) e mais casos de infecção (mais de 1,9 milhões) pelo novo coronavírus, segundo a Universidade Johns Hopkins.

Já o Brasil contabiliza 35.026 vítimas mortais e 645.771 casos confirmados.

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