Melhor ambiente? Zero aponta 12 números que Portugal tem de mudar

No Dia Mundial do Ambiente, a associação portuguesa olhou para diferentes sectores e aponta dados que é urgente mudar, para que o país tenha melhor qualidade ambiental.

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A Zero insiste na deslocalização do Aeroporto de Lisboa para reduzir o ruído na cidade Daniel Rocha

Fazemos demasiado ruído, desperdiçamos muita água, não tratamos os resíduos como devíamos e precisamos de proteger melhor a nossa biodiversidade. No Dia Mundial do Ambiente, a associação ambientalista Zero seleccionou 12 números que, pela sua análise, precisam urgentemente de ser mudados, caso queiramos ter melhor qualidade ambiental no país. 

Como a biodiversidade é o tema escolhido, este ano, para assinalar o 5 de Junho, comecemos por aí. O número que a Zero diz que é urgente mudar a este nível é o 456. É essa a quantidade de espécies ameaçadas em Portugal, entre animais e plantas. O país até sabe como o fazer, refere a associação em comunicado, dando o exemplo do plano de recuperação do lince-ibérico, que tem sido bem-sucedido, mas é urgente fazer um trabalho similar com as restantes espécies, com destaque para “o lobo-ibérico ou algumas aves necrófagas”, alerta.

Ao nível da mobilidade, há vários números a necessitar de mudança, diz a Zero. Desde logo por causa da concentração de dióxido de azoto (NO2) nas ruas das nossas cidades, que é proveniente, sobretudo, do tráfego automóvel. A média anual de 2019, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, foi de 55 microgramas por metro cúbico, quando o limite legal é 40. Menos automóveis e um maior recurso ao transporte público e a meios suaves de transporte é a proposta da Zero para alterar este valor. E isso também contribuiria para mudar a percentagem de gases com efeito de estufa proveniente dos transportes e que, em 2018, era de 25,6% – outro número que a associação quer ver alterado.

Nesta área, o último valor em destaque está relacionado com o ruído. Segundo os dados da Zero, que realiza medições de ruído, o valor obtido no Campo Grande, em Lisboa, em Julho do ano passado, do ruído nocturno, está 11 pontos acima do limite legal (66 dBA, quando o limite são 55 dBA). Essencial para mudar estes números, defende a associação, é “a mudança de local de infra-estruturas como o Aeroporto Humberto Delgado”.

Olhando para a forma como gerimos a água e os resíduos, a Zero encontra três valores cuja alteração é urgente. Precisamos de produzir menos resíduos por cá, a produção anual, por habitante, em 2018, era de 507 quilos, quando a meta para este ano não vai além dos 410 , de os tratar melhor a Zero mantém que a percentagem de reciclagem de plástico em 2018 não foi além dos 12%, contabilizando todo o plástico e não apenas as embalagens e de desperdiçar menos água: a associação diz que o desperdício no sector urbano ainda está nos 30%, quando a meta para este ano é de apenas 20%.

PÚBLICO -
Aumentar

A juntar a estes dados, a Zero apela à divulgação da lista dos edifícios públicos que ainda têm amianto, para que se possa “compreender o problema e proceder à [sua] erradicação” até 2032, a data definida como uma meta para esta questão pela União Europeia. Mas, mesmo sem a divulgação dessa lista, a Zero avança com o número a que chegou: segundo os seus dados, há 3855 edifícios públicos com amianto e apenas 296 foram alvo de uma intervenção para a retirada deste material prejudicial à saúde.

Os últimos quatro números escolhidos pela associação para assinalar este dia atravessam outros sectores. A Zero diz que, em 2019, Portugal utilizou 33,5 milhões de litros de óleo de palma no gasóleo rodoviário como biocombustível e defende que é “urgente” que o país abandone, a curto prazo, “uma matéria-prima promotora da destruição da floresta tropical, colocando em causa ecossistemas sensíveis e a sobrevivência de espécies como o orangotango”. 

E, ao nível das florestas, mas em território nacional, chama-se a atenção para o facto de 87% da área florestal pertencer a privados e de estes espaços serem, em geral, de muito pequena dimensão, sendo “fundamental” uma “gestão conjunta”, para “aumentar o rendimento dos proprietários florestais e fomentar a plantação de espécies autóctones”.

A Zero quer também que o país utilize o “enorme potencial” em energia solar, fazendo crescer a energia fornecida por sistemas solares térmicos dos 91 ktep (milhares de toneladas equivalentes de petróleo) para os 108 ktep, conforme estabelecido na meta do Plano Nacional de Acção para as Energias Renováveis 2020.

O último valor que a associação quer ver revisto prende-se com a alimentação. Numa altura em que, por causa da pandemia, se tem falado muito na necessidade de os países serem capazes de garantir, ao máximo, a produção dos alimentos consumidos pelos seus habitantes, a Zero afirma que, em Portugal, o grau de auto-aprovisionamento de leguminosas secas em 2018 foi de apenas 15,5%. A associação considera, por isso, que é “urgente apoiar a produção nacional de leguminosas de forma a diminuir a dependência do exterior, de uma fonte proteica de base vegetal de excelência que pode substituir a carne”.

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