Confiança dos consumidores recuperou “parcialmente” em Maio

Com o fim do estado de emergência, o clima económico medido pelo INE teve um ligeiro aumento. Abril foi mês de mínimo histórico. Indústria e serviços continuam em rota descendente.

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A informação recolhida pelo INE apanhou a primeira fase do plano de desconfinamento Daniel Rocha

Depois de uma queda histórica em Abril que o fez recuar para um mínimo só igual ao período da troika em Portugal, o indicador de confiança dos consumidores recuperou “parcialmente” em Maio, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE) nesta quinta-feira.

O mesmo aconteceu com o chamado “clima económico”. Em Abril, o indicador qualitativo que resulta de um inquérito de conjuntura às empresas tinha atingido “o valor mínimo da série” e, em Maio, no pós-estado de emergência, conseguiu registar um “ligeiro aumento”.

O INE acredita que esta “alteração de sentimento” já assimila a primeira fase do plano de desconfinamento, explicando que o inquérito aos consumidores foi realizado entre 4 e 15 de Maio e que a informação do inquérito às empresas foi recolhida entre 1 e 22 de Maio.

O aumento da confiança dos consumidores, explica o instituto estatístico numa nota publicada no seu site, “resultou das recuperações das perspectivas relativas à evolução da situação económica do país, da condição financeira do agregado familiar e da realização de compras importantes, após as diminuições históricas observadas no mês anterior”. Negativamente para a evolução deste indicador contribuíram “as opiniões sobre a evolução passada da situação financeira do agregado familiar”.

Quanto ao tecido empresarial, foi possível a ligeira recuperação do clima económico porque “os indicadores de confiança aumentaram de forma moderada” em dois sectores — no comércio e na construção e obras públicas.

Não é, porém, assim em todas as áreas de actividade. A crise desencadeada pela situação pandémica da covid-19 continua a deixar os indicadores da indústria e dos serviços em sentido negativo. Estas dimensões “diminuíram novamente” em Maio, “prolongando as quedas abruptas registadas em Abril e atingindo novos mínimos”. É o que acontece, diz o INE, com o alojamento, a restauração (ambas áreas em parte que se ressentem da quebra do turismo) e as actividades artísticas, de espectáculo, desportivas e recreativas.

Nas duas maiores economias da zona euro, os resultados dos indicadores qualitativos também registaram alterações ténues em Maio. Na Alemanha, onde a economia entrou em recessão no primeiro trimestre, dados da consultora GfK apontaram para uma ligeira recuperação da confiança dos consumidores em Maio, e o mesmo aconteceu com o clima económico em França, apesar de o valor medido pelo instituto estatístico francês continuar a ser historicamente baixo.

Em Portugal, as conclusões apresentadas pelo INE permitem ver como é a trajectória de sector para sector e algumas particularidades dentro de cada segmento.

No comércio, por exemplo, as perspectivas de actividade das empresas de venda a retalho recuperaram “de forma mais intensa” do que as perspectivas das empresas de comércio por grosso.

Globalmente, a confiança cresceu “de forma moderada em Maio”, continuando, no entanto, próximas do valor mais baixo da série estatística. As componentes deste indicador evidenciaram evoluções distintas, com as perspectivas de actividade da empresa nos próximos três meses a recuperarem de forma acentuada do mínimo histórico de série observado em Abril”. Enquanto as apreciações sobre o volume de stocks e as perspectivas de actividade contribuíram de forma positiva, em sentido oposto foram as opiniões sobre o volume de vendas, que continuaram em queda e atingiram “um novo mínimo da série”.

Nos serviços, quando se olha para a trajectória de Fevereiro a Maio, o sentido do indicador de confiança é negativo. Depois de uma “queda abrupta” em Abril, houve uma nova queda neste mês, fazendo com que o indicador esteja no valor mais baixo em 19 anos, desde Abril de 2001.

“Em Maio, os indicadores de confiança das secções de ‘alojamento, restauração e similares’, de ‘actividades de informação e comunicação’, de ‘actividades imobiliárias’ e de ‘actividades artísticas, de espectáculo, desportivas e recreativas’, registaram novos mínimos das respectivas séries”, explica o INE.

No caso da construção e obras públicas, o indicador só cresceu de forma expressiva na divisão de “engenharia civil”; o sentimento também melhorou, mas menos, nas actividades especializadas de construção e na promoção Imobiliária e construção de edifícios, refere ainda o INE na mesma nota.

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