Partido Conservador em alvoroço com o apoio do Governo britânico a Cummings

Trinta e cinco deputados tories e o líder dos conservadores escoceses pedem a demissão do assessor que violou confinamento. Sub-secretário de Estado para a Escócia bateu mesmo com a porta.

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Douglas Ross (à direita), renunciou ao cargo de subsecretário de Estado para a Escócia Reuters/POOL New

A decisão do Governo britânico de não demitir Dominic Cummings, o controverso assessor de Boris Johnson, depois de aquele ter violado as regras de confinamento e viajado por Inglaterra com sintomas de covid-19, está a agitar o universo conservador no Reino Unido. Douglas Ross prescindiu esta terça-feira do cargo de subsecretário de Estado para a Escócia e o número de deputados tories que exigem a saída de Cummings já subiu para 35, segundo as contas da BBC. 

Para além disso, o próprio líder dos Conservadores Escoceses – partido escocês afiliado ao Partido Conservador –, Jackson Carlaw, defendeu que o chief adviser do primeiro-ministro devia reconsiderar a sua posição e pedir a demissão.

Dominic Cummings viajou mais de 400 quilómetros em Março, entre Londres e a propriedade da família, em Durham, no Nordeste de Inglaterra, com a mulher e o filho, de quatro anos, todos com sintomas do novo coronavírus.

Apesar de o Governo obrigar todos os que tenham suspeitas de estar infectados a ficarem em isolamento durante 14 dias e a não viajarem, Cummings ainda fez uma outra deslocação na região, antes do regresso à capital britânica, em Abril.

Perante as notícias em catadupa, ao longo do fim-de-semana, e a pressão vinda de dentro do Partido Conservador, mas também da oposição, da comunidade científica, da Igreja anglicana e de alguma imprensa próxima do executivo tory, que exigiam a Johnson a demissão do seu assessor – arquitecto da campanha pelo “Brexit” em 2016 e da última campanha eleitoral dos conservadores –, o primeiro-ministro autorizou o próprio Cummings a explicar, na primeira pessoa, os seus motivos.

Na segunda-feira o assessor disse aos jornalistas que considerou que a família estaria mais protegida em Durham, argumentou que as regras decretadas no âmbito da pandemia permitiam deslocações em “circunstâncias excepcionais”, garantiu que não se arrependeu do que fez e criticou a cobertura jornalística ao caso.

Boris Johnson aceitou as explicações de Cummings e rejeitou as críticas de que a atitude do assessor punha em causa a autoridade do Estado para decretar medidas de isolamento social, mas a indignação generalizada não baixou de tom esta terça-feira. Particularmente no Partido Conservador.

“Tenho eleitores que não puderam dizer adeus aos seus entes queridos, famílias que não puderam estar juntas de luto, pessoas que não visitaram familiares doentes porque seguiram as orientações do Governo. Não posso dizer-lhes, com boa-fé, que estavam todos errados e que um assessor do Governo estava certo”, justificou Ross, depois de renunciar ao cargo.

Com cerca de 265 mil infectados e mais de 37 mil mortos, o Reino Unido é o segundo país do mundo com mais mortes por covid-19, atrás dos Estados Unidos, e o mais afectado pela pandemia na Europa.

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