Que exame nacional vale uma vida?

Por que motivo não se continua com o ensino à distância, prevenindo, precavendo, acautelando? A saúde vale tanto! E a vida? A vida é uma dádiva!

Nunca o ser humano teve de fazer tantas mudanças, tantos ajustes, tantas adaptações em tão pouco tempo.

Somos, na verdade, seres excecionais, versáteis, inteligentes.

Obviamente que me refiro a todos aqueles que são sensatos, sensíveis, altruístas. Todos aqueles que são “pessoas com gente dentro”.

A classe dos profissionais de saúde tem sido surpreendente e aqueles que trabalham para que a sociedade funcione, formidáveis e imprescindíveis. Porém, que admiração tenho eu pelos professores! Sempre a tive, mas agora!... E não falo por mim, porque, embora seja professora, não assumo cargos importantes na escola: tenho seguido orientações que, para terem sucesso, tiveram de ser bem pensadas, bem organizadas. Essa foi a primeira etapa da batalha, a do aprender, de um dia para o outro, a dar aulas à distância, a de saber ser eficaz nas aulas síncronas e assíncronas, a das reuniões entre as equipas pedagógicas, em que o trabalho dos diretores de turma foi avassalador.

Nesta segunda etapa, que começa nesta segunda-feira, dia 18 de maio, os meus heróis passaram a ser aqueles que tiveram de ler e reler legislação, atuar sem tempo de meditação, os que tiveram de organizar e reorganizar horários, os que tiveram de redistribuir o serviço docente, conciliar os horários de professores e de alunos entre aulas presenciais e aulas síncronas não presenciais, promover mudanças, assegurar segurança, pensar em tudo, não dormindo para que nada falhe.

Assim, todos os alunos do 11.º e 12.º ano foram chamados novamente à escola para terem aulas presenciais das disciplinas sujeitas a exame, assim como os respetivos professores, desde que não tivessem mais de setenta anos. Essa é uma das condições de exclusão do docente. Mas será pressuposto um professor estar a lecionar com mais de setenta anos? Não pude deixar de pensar na minha querida professora de Latim. Foi minha professora no secundário, durante três anos, e sempre a ouvira dizer que queria dar aulas até morrer. Se ainda for viva, o que duvido, deverá ter, nesta altura, os seus noventa anos. Ela, com certeza não irá ser chamada, pois poderia morrer. Em relação a um professor asmático, só se for previsível que, se apanhar covid, tal situação coloque a sua vida em risco. Ora! Mas que insegurança para todos nós! Será que vale a pena? Será que vale a pena colocar tanto em causa, provocar tanta ansiedade e insegurança por causa dos exames nacionais? Por causa de um período de um mês?

Há ainda outra situação: há alunos cujos pais não autorizam os filhos a frequentarem a escola. Tudo isso vai gerar uma desigualdade, pois a escola não está obrigada a prestar esse serviço via internet. Não seria pressuposto promover a equidade?

Gostaria de acrescentar que as escolas têm andado a um ritmo de 200%: formam-se assistentes operacionais à pressa, criam-se soluções à pressa, trabalha-se à pressa, porque se quer dar tudo. E tal como diz o ditado popular, “depressa e bem não há quem”.

Por que motivo não se continua com o ensino à distância, prevenindo, precavendo, acautelando? A saúde vale tanto! E a vida? A vida é uma dádiva!

E se nos concentrássemos na preparação do próximo ano letivo? Há tanto para fazer!

Em primeiro lugar, teremos de pensar em reduzir o número de alunos por turma. Talvez essa redução possibilite uma reavaliação do regime de avaliação e, como tal, o modelo de acesso ao ensino superior.

Quando dizemos que ganhamos uma batalha, não significa que tenhamos ganhado a guerra!

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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