Covid-19: número de turistas passou para metade em Março

Queda de turistas foi de 49,4%, para 701 mil hóspedes, e de 58,5% nas dormidas, para 1,9 milhões, de acordo com os dados do INE.

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Viagens pararam por causa da Covid-19 Rui Gaudencio

Já se sabia que o mês de Março ia ser mau para o turismo e interromper o ciclo de crescimento, devido à paragem das viagens por causa do novo coronavírus, e os números divulgados esta quinta-feira de manhã pelo INE dão a dimensão da queda: 701 mil hóspedes e 1,9 milhões de dormidas, o que resulta em menos 49,4% turistas e menos 58,5% nas dormidas em termos homólogos, depois de Janeiro e Fevereiro terem sido mais dois meses de crescimento.

Em Março, mês em que o impacto negativo foi sentido apenas durante parte do mês (Abril será pior, até pelo impulso positivo que se previa devido às férias da Páscoa), as dormidas de residentes terão diminuído 56,9% (+26,4% em Fevereiro) e as de não residentes terão decrescido 59,2% (+9,5% em Fevereiro), de acordo com a estimativa rápida do INE sobre a actividade turística.

Isso foi gerado por uma diminuição de 51,2% dos turistas residentes, que se ficaram pelos 306 mil, e por uma queda de 47,8% dos turistas estrangeiros, para 395,1 mil. É preciso, no entanto, contar um efeito adverso de calendário, já que o Carnaval este ano ocorreu em Fevereiro, quando em 2019 foi em Março. 

A queda foi generalizada para todos os mercados emissores, mas, em termos relativos, os dados do INE mostram que a mais expressiva nas dormidas foi de turistas da China, com uma redução de 78,8%. Isto explica-se pelo facto de ter sido neste país que se registaram os primeiros casos de covid-19, levando a medidas como a proibição de viagens organizadas.

Segue-se depois o mercado italiano, com menos 75,8%, sendo a Itália o primeiro país europeu afectado em larga escala pelo novo coronavírus, levando à suspensão de voos, e o norte-americano, com menos 68,5%. Neste último caso, destaca-se a proibição decretada por Donald Trump a 12 de Março de entrada no país a quem tivesse estado nos 14 dias anteriores num dos 26 países europeus do espaço Schengen (excluindo os cidadãos dos EUA).

No entanto, em termos absolutos a queda mais expressiva registou-se naquele que é o maior mercado emissor: houve menos 305 mil dormidas de turistas do Reino Unido, chegando às 259 mil (-54%). Segue-se depois a Alemanha, com menos 296 mil dormidas, e a Espanha, com menos 207 mil.

Estes números provocaram de imediato danos em sectores como os hotéis e unidades de alojamento local, transportes (desde a TAP aos tuk-tuk, passando pelos uber e táxis e pelos transportes públicos), agências de viagens, cafés, bares e restaurantes, com efeitos transversais na economia. Em termos de regiões, as variações negativas mais expressivas em número de dormidas foram no centro, com menos 66,1%, e na Área Metropolitana de Lisboa, com menos 63,8%.

Reservas em queda

Através de um questionário específico adicional que elaborou em Abril, abrangendo cerca de 4000 estabelecimentos, sobre as perspectivas para a actividade turística nos próximos meses até Agosto, diz o INE que “79,2% dos estabelecimentos de alojamento turístico respondentes assinalaram que a pandemia covid-19 motivou o cancelamento de reservas agendadas para os meses de Março a Agosto” deste ano.

Estes estabelecimentos, destaca o instituto de estatísticas, “representam 91,3% da capacidade da oferta dos estabelecimentos que responderam”. De acordo com o a recolha de informação feita pelo INE, foi na Madeira que houve “o maior peso de estabelecimentos com cancelamentos de reservas”: 90,6% dos estabelecimentos e 98,6% da capacidade oferecida, seguindo-se os Açores (com 89,9% e 96,8%), a AML (85% e 94,4%) e o Algarve (82,2% e 92,7%).

Olhando para as tipologias de estabelecimentos afectados pelos cancelamentos, verifica-se que o maior embate foi nos hotéis, com 92,5%, enquanto no lado oposto ficaram as unidades de turismo no espaço rural, com 68,8%. Na hotelaria, destaca o INE, “o mercado nacional foi mencionado como um dos três mercados com maior número de cancelamentos por 67,1% dos estabelecimentos”, seguindo-se o mercado espanhol com 61,4%.

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