Por agora, conteúdos da nova telescola parecem ser “elementares”

Já se sabe quais vão ser os conteúdos da primeira semana de aulas na televisão. Presidente da Associação de Professores de Matemática diz que lhe parecem “elementares”, mas que o importante é que alunos, famílias e professores não sejam vítima vítimas de “um assédio escolar online”.

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O estúdio da nova telescola LUSA/ANDRÉ KOSTERS

“O tanas é que vou estudar Os Lusíadas outra vez!”. Em casa de Carla, a reacção não se fez esperar quando, nesta sexta-feira, foram conhecidos os conteúdos que começarão a ser apresentados na nova telescola, que agora se chama #EstudoEmCasa, cujo arranque está marcado para dia 20. E lá está, logo na primeira aula desta nova experiência para o 9.º ano de escolaridade: “Introdução ao Estudo de Os Lusíadas”, uma obra que é aprofundada no secundário, mas que começa a ser abordada no final do 3.º ciclo.

As aulas televisivas para o 9.º ano decorrerão de segunda a sexta-feira, entre as 16h e as 17h50, divididas em três blocos de 30 minutos, um por cada disciplina a abordar em cada dia. Cabe a Português, neste caso com Os Lusíadas, dar o pontapé de arranque na próxima segunda-feira. Os conteúdos e materiais de apoio foram elaborados pela Direcção-Geral de Educação. 

O #EstudoEm Casa destina-se a alunos do 1.º ao 9.º ano de escolaridade. As aulas são sempre de 30 minutos, e à excepção do 9.º que tem um espaço autónomo, congregam dois anos: 1.º e 2.º; 3.º e 4.º; 5.º e 6.º; 7.º e 8.º. E associam também, por vezes, duas disciplinas no mesmo bloco, para além de existirem temas que serão abordados em várias áreas, concretizando assim um dos princípios de base do programa de flexibilidade curricular lançado há dois anos.

É o que acontecerá logo na segunda-feira nas aulas destinadas ao 3.º e 4.º ano, que arrancam com Português e Matemática a serem leccionados em blocos separados, mas com o mesmo tema: os horários. De uma primeira incursão pelos conteúdos propostos, a presidente da Associação de Professores de Matemática, Lurdes Figueiral, adianta que lhe “parecem actividades que podem ser interessantes e adequadas, embora algumas bastante elementares”. “Tudo depende da exploração que se venha a fazer”, ressalva. Mas quanto a isso há que esperar para ver a “própria apresentação”.

“Será mais revisão da matéria dada”, pelo menos para os alunos do 4.º ano, comenta Carmo que tem uma filha a acabar o 1.º ciclo. E que acrescenta o seguinte: “A Inglês, pelo menos, os exercícios que propõem são coisas que ela faz de olhos fechados”. Já Maria do Céu, com uma filha no 3.º ano, constata que os conteúdos apresentados para o Estudo do Meio “são uma novidade”, que não estão sequer no manual. Já contactou a professora da filha, que corrobora, embora lembre que estas aulas são também dirigidas ao ano seguinte.

À semelhança de Carmo, também Florbela, com um filho no 5.º ano, refere que no caso dos conteúdos propostos para Matemática lhe parecem “revisão da matéria que ele já deu”. O que já não acontecerá, por exemplo, a Ciências Naturais, História e Geografia de Portugal ou a Português. Pelo menos no caso do seu filho, já que a sequência em que são apresentados os conteúdos curriculares pode mudar de escola para escola.

"Assédio escolar"

“O tipo de actividades propostas vai ao encontro das aprendizagens essenciais em cada ano e ciclo e podem reforçar aprendizagens que até já poderão ter sido trabalhadas em aula, embora isso não seja uma condição necessária para se seguir as tarefas propostas” refere Lurdes Figueiral. Que destaca também a existência de “articulação entre áreas no 9.º ano”, o que lhe parece positivo e que no 1.º e 2.º anos exista “um contrariar da segmentação por disciplinas do 1.º ciclo o que é de louvar”.

Será assim que A Casa da Mosca Fosca de Eva Mejuto, com base num conto popular russo, estará presente durante a primeira semana em todas as disciplinas abordadas no 1.º e 2.º ano. A Português para se descobrirem rimas, a Matemática para se trabalharem números e operações e a Estudo do Meio para se espreitar os vários animais que habitam este conto.

Mas com um 3.º período em que os alunos do básico já sabem que não voltarão à escola, mais do que “dar aulas” à distância, o que importa é estar presente e acompanhar os alunos para que não haja um tempo vazio e uma terra de ninguém no processo do reforço das aprendizagens”, frisa Lurdes Figueiral. Que deixa este apelo: o importante é que exista “sobretudo, bom senso e ponderação, porque alunos, professores e famílias não podem ser vítimas de um ‘assédio’ escolar online para onde me parece que algumas direcções e instâncias escolares estão a derivar”.

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