Dia 15: vamos à caça de um urso?

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para quem está separado pela quarentena, e não só.

Foto
@DESIGNER.SANDRAF

Ana,

Foto

Estou preocupada com as crianças que não saem para uma voltinha a pé, por dia, para andarem de bicicleta ou correrem um bocadinho. E irritada com alguma comunicação social, já para não falar em muita gente nas redes sociais, que aponta os pais com os filhos na rua (vivem na mesma casa, dah!), como se fossem criminosos.

Ouvi o próprio primeiro-ministro frisar que as crianças têm de sair por um bocadinho, obedecendo obviamente a todas as regras de distância social, e sem se afastarem muito de casa (não há uma distância definida por lei). Afinal, não vão os adultos trabalhar, ao supermercado e à farmácia? É preciso bom senso.

Por falar nisto, quero saber se viste a ideia da “Caça aos Ursos”, que nasceu na Nova Zelândia, baseada naquele famoso livro para crianças We are going on a Bear Hunt (Vamos à Caça do Urso, Michel Rosen, ilustrado por Helen Oxenbury, Caminho)? As famílias põem à janela, na varanda, ou no jardim os seus ursinhos e as crianças transformam o passeio diário numa expedição, cujo objectivo é contar quantos ursos conseguem encontrar.

Foto
DR

Assim, quando os miúdos estão dentro de casa entretém-se a preparar a surpresa para os vizinhos, vestindo os teddys com roupas diferentes, mudando-os de poiso, virando-as de pernas para o ar, pondo-os a pescar, com a cana na mão e tudo, ou de fato de banho e braçadeiras, quanto mais louco melhor. E os que estão lá fora, divertem-se a descobrir os mais escondidos, a rir com os mais divertidos. O projecto já se estendeu a muitos outros países, e proponho começá-lo em Portugal. Hoje mesmo. Manda-me fotografias dos teus, porque garanto-te que na minha janela já lá estão, para entreter as crianças daqui (e os mais idosos, que os podem ver sem sair de casa).

DR
DR
Fotogaleria
DR

Não te vais admirar que me tenha passado quando ouvi um apresentador de televisão a criticar aquilo que classificou como um perverso estímulo a andar na rua. Sinceramente, não podemos perder nem a razão, nem o sentido de comunidade.


Mãe,

Foto

Também me estou a irritar com o tom de “policiamento” de alguns comentários. Percebo que é preciso denunciar casos que ponham em risco a saúde de todos, mas temos que ser razoáveis e acima de tudo ter compaixão uns pelos outros, até porque não sabemos as circunstâncias, nem as razões de ninguém.

Por isso, concordo em absoluto! Vamos julgar menos e fazer parte de mais iniciativas como esta que nos dão uma maior sensação de pertença, e que nos lembram que pior do que qualquer vírus é o medo que transforma o nosso coração em pedra, elimina o sentido de humor e nos mata, mesmo que continuemos vivos.

Os nossos ursos estão a postos! Espero que muitas famílias se juntem e partilhem as suas janelas connosco.

Beijinhos


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

Sugerir correcção
Comentar