“Comida de conforto aleatória” pela Goela abaixo

Abriu na Avenida da Boavista e aposta na comida vegan e nas embalagens sustentáveis. O Goela foi criado pelo chef João Ribeiro e é o mais recente take-away do Porto.

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,Arroz frito tailandês
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Nota: Colaborando com as medidas de contenção e prevenção da covid-19, este espaço optou por fechar temporariamente as portas (actualizações no Facebook do restaurante).

Caminhamos lentamente pela Avenida da Boavista em direcção ao mar. Imediatamente antes do Hotel Crowne Plaza Porto, viramos à direita num largo algo despercebido entre os prédios altos que o ladeiam. O Goela está encaixado entre a Taberna do Zé e a pastelaria Pontos de Açúcar. Abriu a 16 de Janeiro. João Ribeiro é o chef residente e o fundador deste take-away invulgar. Depois de ter chefiado duas steakhouses, o Terminal 4450 e a MUU, decidiu que “aquilo já não dava”: embora também inclua “alternativas animais”, o grande foco da ementa é a comida vegetariana. O chef brinca que esta é a sua “redenção”, depois de três anos a cozinhar carne.

Inicialmente, João Ribeiro nunca tinha pensado num take-away como uma opção para si – aprecia demasiado o “contacto com o cliente e ter logo o feedback directo daquilo que se passa”. Ao fundar um, decidiu que pensaria sempre no negócio como pensaria num restaurante “a sério”: oferece comida “um bocadinho mais reflectida e ponderada”, que também “poderia ser exibida em prato”. O slogan “Comida de Conforto Aleatória” é bastante específico e, paradoxalmente, abrangente. “Queremos que as pessoas comam em casa de maneira bastante confortável. A comida que se cria aqui é mesmo dentro da cena de estares sentado no sofá a ver Netflix enquanto comes uma refeição de colher.” Já a vertente aleatória surge da necessidade que sente em não se restringir a nenhum estilo de comida específico – mantendo o fio condutor de comida de conforto, pode cozinhar tanto comida asiática como pratos americanos.

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Desta forma, as refeições no Goela dividem-se em vegetais e animais. Um prato que “funciona muito bem” é o Mac & Cheese (7,50€) – o chef apelida-o de “gordice do queijo e da massa”. E é um prato disponível para todos: queijo vegetal e tofu na versão vegan, bacon, emmental, cheddar e gouda na versão “direita”, ambas condimentadas com cebolada e pranko crocante. Do lado vegetal, destaca-se também o cevadotto de tomate seco com ovo, batata-doce, bimis e agrião (8,50€); do lado animal, o burrito alcatra com feijão, arroz, emmental e chimichurri (12€).

Neste take-away fazem-se conservas caseiras, “para que haja consciência naquilo que se está a fazer”. Explicando que estamos na época das couves, João vira-se para trás no balcão e mostra orgulhosamente os seus frascos de kimchium tempero coreano feito de couve fermentada e apimentada. Normalmente, leva molho de peixe e de ostra para a fermentação ser mais rápida, mas o chef preferiu “brincar com o kimchi” e criar o seu sem os molhos. Apresenta à Fugas – com um largo sorriso também – o pickle de nabo, que faz com vinagre de sidra e que “sabe a fruta”. E em que pratos aplica estas invenções? O prato de arroz frito vegetal (9,50€) leva kimchi, espinafre, cogumelos, aipo e o pickle de nabo. Já o arroz frito “versão não vegetal” (10,50€) é combinado igualmente com kimchi, cogumelos e o pickle de nabo, mas introduz barriga de porco.

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Na opinião de João, uma das grandes lacunas dos take-away são as sobremesas. Para inverter essa tendência, o menu do Goela inclui uma secção com “sugar rush”: bolo da vizinha Pontos de Açúcar, rabanada de cabra com creme de lima, brownie com amendoim, rolo de canela e tiramisu. Apesar de ser ainda um recém-nascido na Avenida da Boavista, o chef já começou a estabelecer contacto com os vizinhos: inclui bolos da pastelaria na ementa, está a tentar construir uma esplanada no espaço exterior comum e até considera pedir ao Mendi (restaurante indiano) a receita para um bom caril.

“Estou com intenções de mudar a carta a cada um ou dois meses, para tentar manter uma certa sazonalidade.” Para além desta carta, o Goela tem disponíveis menus do dia a 5,50€, com dois pratos diferentes todos os dias (um vegetal e um animal). Estes pratos destinam-se mais ao “pessoal trabalhador da zona” e mantêm “sempre o conceito de conforto”. Tendo trabalhado “condicionado à visão das pessoas” acima de si, João Ribeiro está a apreciar a liberdade total que tem neste novo projecto. Adora criar pratos novos, algo “que em qualquer outro sítio não poderia fazer”; conta, entre risos, que um dos pratos do dia já foi tosta de queijo grelhada. “É genial, o pessoal comeu e adorou.”

Neste espaço escondido como um segredo, para além de se vender comida vegan, também se gere um negócio ecológico. Os talheres são reutilizáveis, feitos de madeira, e as embalagens são de fibra vegetal (“são compostáveis​: se as enterrares, desaparecem em 90 dias”). João Ribeiro admite que nunca conseguiria gerir um take-away com embalagens de alumínio; “tem que ser algo que faça sentido e que esteja alinhado” com a sua visão do mundo. Tenta ser consciente nos alimentos que compra, mas ainda não conseguiu explorar os produtos biológicos como gostaria. Por agora, abastece o negócio no comércio local e, sempre que possível, escolhe produtos portugueses.

O espaço físico do Goela mantém-se simples, até por “ainda não estar acabado”. Quem quiser mergulhar de colher em punho neste mundo da comida de conforto, pode deslocar-se à loja 4 do número 1430 da Avenida da Boavista, ligar ou enviar e-mail para o chef João Ribeiro ou, ainda, encomendar a sua refeição na Uber Eats.

Texto editado por Sandra Silva Costa

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