Uma ode à natureza e uma homenagem à mulher Carlos Gil no primeiro dia da ModaLisboa

Na sala Lab, Carolina Machado e Duarte apresentaram as suas propostas inspiradas na natureza. Valentim Quaresma apresentou um “imaginário irreal” e Carlos Gil deixou o seu ADN em cada peça.

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A noite de sexta-feira fechou com o desfile de Carlos Gil
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Valentim Quaresma aposta em acessórios que sublinham os coordenados apresentados
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Nas antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército, onde está a acontecer a 54.ª edição da ModaLisboa, até este domingo, o vento sopra e o frio faz-se sentir na primeira noite. Mas não é o tempo que demove a longa fila para entrar na sala Lab onde, dentro de instantes, desfila a colecção de Carolina Machado para o próximo Outono/Inverno.

O Jardim das Laranjeiras é o centro da animação no recinto da ModaLisboa. Quem não tem acesso aos desfiles, apenas por convite, divide-se entre o Wonder Room, a loja pop up com marcas sustentáveis, o Check Point, onde todos os dias se discute o futuro da moda e a área social com música.

É fácil distinguir quem se dirige ao desfile, porque anda a passo apressado e decidido, como quem já conhece os cantos à casa. A ModaLisboa mudou-se para as antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército na edição de Primavera/Verão, em Outubro do ano passado.

A sala Lab fica na Sala da Oficina de Confecções – é aqui que os jovens criadores apresentam as suas colecções. Para muitos, este é o passo seguinte após a participação no concurso Sangue Novo. É o caso de Carolina Machado, que se estreou nessa plataforma em 2015. No ano seguinte, lançou a sua colecção de womenswear e em Outubro de 2017, apresentou pela primeira vez na plataforma Lab.

Na última edição da ModaLisboa, as propostas de Primavera/Verão da jovem designer desfilaram no adro do Panteão Nacional, uma “oportunidade espectacular”, recorda Carolina Machado ao PÚBLICO. A nível de vendas, avança a criadora, “foi muito bom”.

Ao centro da sala Lab está uma espécie de marquesa almofadada onde os convidados se sentam. São sobretudo jovens, tal como a designer, nascida em 1994. Entra o primeiro coordenado da colecção “Grounded”, o “manifesto” de Carolina Machado: é uma gabardine de lantejoulas com padrão xadrez.

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Carolina Machado começou no Sangue Novo em 2015 ModaLisboa
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Carolina Machado reinventa os clássicos da alfaiataria. As camisas ganham outra forma e, nos fatos, os calções estruturados substituem as calças. “A alfaiataria é aquilo que eu mais gosto de trabalhar. São peças clássicas que depois têm um pormenor ou outro: no tecido, um fecho, um bolso ou um tipo de gola que a torna diferente”, conta a criadora.

A colecção nasceu, explica ao PÚBLICO, da “necessidade de desligar e desacelerar”. “Quis fazer uma colecção que apelasse aos tons terra e ao contacto com a natureza”, acrescenta. Os neutros predominam e a designer joga com a sobreposição de peças e mistura de texturas, como o coordenado de biker shorts em malha tricotada.

Uma viagem ao Evereste

A natureza parece ser um ponto em comum para Carolina Machado e Duarte, que apresenta de seguida na sala Lab. Ana Duarte iniciou o caminho na ModaLisboa também através da plataforma Sangue Novo, em 2015. Além de designer, a jovem lisboeta é ilustradora e tem cinco livros publicados.

O estilo desportivo de luxo é a assinatura de Duarte e na colecção Thrid Pole não foi excepção. Pode estar a questionar-se se existe um terceiro pólo, mas no descritivo de sala, a jovem explica de que se trata: é o título dado aos Himalaias, por serem o lugar na Terra com mais água doce a seguir aos Pólos Norte e Sul.

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A designer Ana Duarte, que assina apenas com o seu apelido ModaLisboa
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Ana Duarte convidou o artista de arte urbana Edis One para a ajudar na criação de um estampado com cinco animais em vias de extinção nos Himalaias: leopardo das neves, takin dourado, panda vermelho, calau-de-pescoço-ruivo e o grou-de-pescoço-negro.

O padrão repete-se ao longo do desfile, numa chamada de atenção para as alterações climáticas. Ao som de passarinhos, entram cinco modelos de uma vez. Cada um representa um dos animais homenageados pela designer. A música muda radicalmente e o ritmo do desfile acelera.

Destacam-se os acessórios, como as luvas ou os lenços, que repetem o estampado de Edis One. Os últimos dois coordenados surgem em simultâneo. O olhar não fica indiferente ao bolso em forma de montanha que a camisola de ambos enverga. Parecem mesmo estar preparados para embarcar numa viagem ao Evereste.

Uma colecção sem ponto de partida

A seguinte afirmação provocatória está escrita no descritivo da colecção para o Outono/Inverno 2020/21 de Valentim Quaresma: “não tem ponto de partida nem fonte de inspiração”. O designer acredita que as suas criações são uma fusão dos livros que leu, dos filmes que viu, de conversas que teve, de viagens que fez.

Os primeiros modelos trazem rosas na mão. Os cardos das rosas enrolam-se à volta dos troncos, de forma quase romântica. “É como se estivesse a contar uma história ao longo do desfile, para depois chegar ao fim com uma imagem mais fria”, explica Valentim Quaresma ao PÚBLICO.

“Estamos sempre a absorver coisas e essa colecção é sobre isso”, observa o designer, salientando que “o processo criativo vai mudando”. Das rosas, os acessórios tornam-se tecnológicos, alguns parecem feitos de cabos de telefone emaranhados, outras são partes de computadores. O desfile culmina num coordenado feito de películas de cassete, que deixa boquiaberta a plateia.

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O designer Valentim Quaresma ModaLisboa
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Valentim Quaresma desfila no final com as cantoras Marisa Liz e Fábia Rebordão. Os três percorrem a passerelle e posam para os fotógrafos.

Uma homenagem à mulher Carlos Gil

O primeiro dia de desfiles, sexta-feira, está a chegar ao fim e, ainda que a noite já vá longa, os convidados formam fila para assistir à colecção “Mind Games" do consagrado Carlos Gil. “Come with me to Paradise” (vem comigo para o paraíso, em tradução livre), desafia a letra da música.

Aceitamos o convite e mergulhamos num desfile que evolui do preto aos tons coloridos, como o coral ou o azul-turquesa, até aos coordenados em branco. A evolução cromática é uma analogia às diferentes gerações de mulheres vestidas por Carlos Gil. “Comecei a trabalhar para uma mulher nos seus 30 ou 40 anos; hoje é uma mulher de 60, mas que já tem filhas de 30 ou 40”, explica o designer ao PÚBLICO. “Estou a preparar-me para terceira geração”, acrescenta.

Durante a colecção há um único padrão: o ADN de Carlos Gil. O designer imprimiu a sua impressão digital e ampliou-a. O resultado foi um padrão que faz lembrar uma “zebra”, conta a sorrir.

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Carlos Gil já começou a desenhar para a terceira geração de clientes ModaLisboa

Quem é a mulher Carlos Gil?: “Uma mulher que procura a elegância, uma mulher sensual, que procura na roupa o conforto”, responde. Elegância é o adjectivo que pode definir a passerelle, onde dominam as mangas abalonadas, os plissados e os clássicos reinventados.

Com os olhos a cintilar, Carlos Gil conta como a colecção para o próximo Outono/Inverno é “uma homenagem”. “É uma colecção feita de intimidades. Tenho de ter uma grande intimidade com estas mulheres, tenho que as conhecer a cada uma delas.”

Notoriamente emocionado, Carlos Gil desfila pela passerelle que o aplaude de pé. Termina assim o primeiro dia de desfile da ModaLisboa Awake. Este sábado, é dia de estreia para a Buzina, marca de Vera Fernandes, e do tão aguardado regresso de Luís Buchinho, após seis anos de ausência do calendário de desfiles da ModaLisboa.

Texto editado por Bárbara Wong

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