Álvaro Pires de Évora no MNAA: Uma “exposição excelente” que está a dez dias do fim

Exposição sobre o primeiro pintor português valeu ao Museu Nacional de Arte Antiga uma crítica muito elogiosa na Burlington Magazine, uma das publicações mais importantes do mundo da arte. Termina a 15 de Março.

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Virgem com o Menino e Anjos é considerada a obra-prima de Álvaro Pires daniel rocha

Não é todos os dias que um museu português reúne um tão grande número de pinturas do século XV graças a empréstimos de museus de Florença, Pisa, Lucca, Volterra, Arezzo, Livorno ou Siena, mas também de Paris, Londres, Varsóvia, Budapeste e Berlim. Não é todos os dias que em Lisboa se cria uma espécie de cápsula do tempo que permite aceder à arte que se produzia na Itália em que se formou o primeiro pintor português, Álvaro Pires de Évora, um artista emigrado que nalgumas das suas obras fez questão de mencionar o lugar onde nasceu. É por isto, e por muito mais, que Alvaro Pirez D’Evora, um Pintor Português em Itália nas Vésperas do Renascimento merece a visita. E faltam pouco mais de dez dias para que esta exposição do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) feche as portas, a 15 de Março.

A exposição, que reúne 31 pinturas deste artista que só tem obra em Itália, toda produzida entre 1410 e 1434, foi organizada em colaboração com o Polo Museale della Toscana e não passou despercebida à publicação The Burlington Magazine, uma das mais importantes revistas do mundo das artes.

Numa crítica de três páginas assinada por Geoffrey Nuttal, professor do Courtland Institute of Art, centro de formação e investigação em História de Arte da Universidade de Londres, Álvaro Pires é apresentado como um pintor de “considerável talento” “injustamente negligenciado” que, na exposição do MNAA, é dado a conhecer “ao lado de obras criteriosamente escolhidas da autoria de artistas italianos e ibéricos seus contemporâneos”, tendo por contexto as trocas artísticas no Mediterrâneo ocidental no começo do século XV.

Incluindo “muitas das obras-chave do artista” — Nuttal regista a falta de apenas uma, um pequeno tríptico de 1434 pertencente a um museu alemão —, a exposição dá provas da influência que em Álvaro Pires tiveram artistas como Lorenzo Monaco e Gherardo Starnina, começando com uma sala que inclui A Anunciação de Pires que a Arte Antiga comprou em Fevereiro de 2018 e outras cinco pinturas “maravilhosamente iluminadas”, continua a crítica da centenária Burlington.

O professor e crítico especializado em arte italiana do Renascimento saúda ainda a presença de obras de Fra Angelico e Gentile da Fabriano, e dá pela falta de Lorenzo Ghiberti, que não integra a lista de 35 pintores ibéricos e italianos representados na exposição. Detendo-se na sala dedicada aos artistas portugueses que trabalharam em escultura e ourivesaria no começo da dinastia de Avis, Geoffrey Nuttal defende que, embora esta tradição tenha dado a Álvaro Pires a possibilidade de aprender com “excelentes mestres”, é impossível pensar na sua formação como pintor sem olhar para lá das fronteiras do país onde nasceu, em particular para Toledo, para Valência e para a Toscana.

A sua passagem por Lucca, Pisa, Prato e Volterra, bem como a pintura Virgem com o Menino e Anjos, “a sua obra-prima”, executada entre 1426 e 1430 para a Igreja de Santa Croce in Fossabanda (Pisa), assinada em português e pela primeira vez exposta no país, merecem referência neste périplo que o académico faz pela exposição comissariada por Lorenzo Sbaraglio, director de vários equipamentos do Polo Museale della Toscana, e Joaquim Caetano, director do MNAA.

Geoffrey Nuttal lamenta, apenas, que o catálogo da exposição, “o mais importante contributo para a investigação [sobre Álvaro Pires] desde 1998”, opte por organizar a obra do pintor pelo local onde foi produzida e não cronologicamente. “Embora esclarecedora sob muitos aspectos, esta abordagem dificulta uma muito necessária reconstrução da cronologia do desenvolvimento artístico de Pires”, escreve o crítico, para em seguida concluir, dizendo: “Esta é inequivocamente uma excelente exposição que convida a um estudo mais próximo e a comparações esclarecedoras, e certamente estimulará a investigação histórica em torno de um dos poucos artistas que podem legitimamente reivindicar um lugar único na história da arte.”

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