O Ocidente tirou uma selfie e não ficou mal de todo

Cansados de espectáculos megalómanos, os Gob Squad puseram-se a ver vídeos no YouTube. Não demoraram muito, apenas dois minutos e 55 segundos, a encontrar a explicação do mundo, karaoke e saltos agulha incluídos, e não resistiram a partilhá-la com o público: Western Society sobe por estes dias ao palco do Teatro Nacional São João, no Porto.

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David Baltzer

Sean Patten está a duas horas de um voo Berlim-Porto cujas emissões de carbono tornarão o planeta um lugar ainda mais inabitável do que já é e não tem uma resposta ensaiada para as perguntas difíceis da era Greta Thunberg com que poderíamos tentar estragar o que até então tinha sido uma agradabilíssima conversa sobre a decadência da sociedade ocidental. Na verdade, disséssemos o que disséssemos, dificilmente daríamos cabo do ambiente: Sean Patten está mais do que habituado a exercer o seu direito a ficar calado quando o bombardeiam com dilemas irresolúveis do tipo “dinheiro a mais ou dinheiro a menos?”, “os teus filhos ou a mãe deles?”, “morrer sozinho ou morrer jovem?”, “uma bomba no carro ou um acidente de avião?”. Do alto dos seus 26 anos de vida multimédia com os Gob Squad, o colectivo que fundou em 1994 com três colegas da Universidade de Nottingham e com o qual entretanto se mudou para Berlim, é o primeiro a capitalizar a ironia (deixemo-nos de tretas: a inconsistência moral) de não hesitar em apanhar um avião para o Porto, ou para Los Angeles, ou para Xangai, apenas para expor a uma escala espectacular, com luzes, actores e pessoas a aplaudir, aquilo que os Gob Squad encontraram quando se puseram a ver vídeos no YouTube: uma explicação do mundo circa 2013, obesidade mórbida, karaoke e saltos agulha incluídos.

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