Principais riscos globais nos próximos dez anos? Pela primeira vez o Top 5 é todo para o ambiente

Participantes na avaliação anual do Fórum Económico Mundial consideram que os riscos com maior probabilidade de afectarem o mundo na próxima década são todos ambientais. Entre os mais jovens, estes são também os riscos com maior probabilidade de virem a aumentar já ao longo deste ano.

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Os incêndios na Austrália já causaram diversas mortes e perdas elevadíssimas para a biodiversidade do país Reuters/Tracey Nearmy

Desde 2007 que o Fórum Económico Mundial pergunta a um conjunto alargado de participantes quais consideram ser os maiores riscos que o mundo poderá enfrentar na próxima década e quais desses riscos terão um impacto mais severo. Pela primeira vez, os resultados colocaram no top 5 dos riscos globais mais prováveis factores de uma só área: a ambiental. Um resultado inédito revelado esta quarta-feira no The Global Risks Report 2020 daquele organismo.

Há cinco categorias – económica, ambiental, geopolítica, social e tecnológica, com múltiplos factores. As questões ambientais começaram a aparecer no top 5 dos riscos mais prováveis a partir de 2011 e nunca mais desapareceram. Mas em 2020, os cinco riscos mais prováveis de afectarem o planeta na próxima década pertencem apenas a esta única categoria: os fenómenos climáticos extremos, o falhanço nas acções de mitigação e adaptação às alterações climáticas, os desastres naturais, a perda de biodiversidade e os desastres ambientais causados pelos humanos.

Quando os participantes foram questionados sobre quais os riscos com probabilidade de causarem maior impacto, a nível global, na próxima década, o falhanço na acção climática (mitigação e adaptação), a perda de biodiversidade e os fenómenos climáticos extremos voltam a aparecer no top 5, acompanhados, agora, pelas armas de destruição maciça (da categoria da geopolítica) e a crise da água, que podendo também ser inserida nas questões ambientais, surge aqui na categoria dos factores sociais.

Esta percepção do risco a longo prazo, tendo em conta o período de dez anos, é comum ao grupo alargado de participantes na pesquisa (e que inclui intervenientes das mais diversas áreas, sejam decisores políticos, económicos ou da sociedade civil) ou quando se olha para o que o Fórum designa como “Criadores Globais”, ou seja, um conjunto de elementos das camadas mais jovens. Quando se olha para o curto prazo, contudo, os dados mudam um pouco.

Questionados sobre que riscos globais é que esperam ver aumentar ao longo de 2020, o grupo alargado de participantes colocou no topo os confrontos por razões económicas, seguindo-se a polarização da política interna. Só depois surgem dois temas da área ambiental – as ondas de calor extremo e a destruição de ecossistemas –, culminando o top 5 com os ataques cibernéticos, sobretudo às infra-estruturas. Já quando se olha para o grupo que inclui apenas os jovens, os problemas ambientais voltam a dominar e apenas a crise da água (que, como já vimos, também poderia ser incluída nesta categoria), aparece fora desse âmbito, no 4.º lugar.

Para os jovens que participaram na pesquisa do Fórum (e que é realizada em colaboração com duas empresas e várias universidades), no ano que agora começou há uma elevada probabilidade de aumentar o risco de ondas extremas de calor, destruição de ecossistemas, problemas de saúde causados pela poluição e fogos incontroláveis, como os que ainda estão a martirizar a Austrália, ao fim de vários meses de combate ininterrupto.

Apesar de o cenário global traçado pelo relatório não ser de todo positivo – com um alerta para os governos com “posturas mais nacionalistas, em busca de agendas individuais”, uma economia estagnada e as muitas incertezas sobre o futuro – não só pela mudança necessária para combater a mudança climática, mas também pelo conflito comercial entre os Estados Unidos e a China, refere-se no documento –, os autores realçam que “é preciso encontrar formas de agir rapidamente e com um objectivo claro, numa paisagem global instável”.

Olhando em concreto para os problemas ambientais, os autores do relatório mostram-se algo cépticos, referindo-se ao falhanço da 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas, em Madrid, como um sinal das dificuldades em se conseguir “uma coordenação multilateral e que envolva todos os participantes” e que, referem, é “essencial”.

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