Onda de calor em Julho na Europa foi agravada por alterações climáticas

A Organização Meteorológica Mundial disse que Julho de 2019 igualou, se é que não ultrapassou, o mês mais quente a nível mundial de que há registo – e que foi Julho de 2016.

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As temperaturas ultrapassaram os 40 graus Celsius em Arnhem, na Holanda, a 25 de Julho de 2019 Vincent Jannink/EPA

Em menos de um mês, uma equipa de cientistas europeus concluiu que a onda de calor de Julho em vários países europeus foi agravada pelas alterações climáticas provocadas pela actividade humana.

“A onda de calor de Julho de 2019 foi tão extrema sobre o Oeste da Europa continental que as magnitudes observadas teriam sido extremamente improváveis sem alterações climáticas”, concluíram os investigadores liderados por Robert Vautard, do Instituto Pierre-Simon Laplace (em França) e que faz parte do grupo de cientistas do World Weather Attribution, uma iniciativa internacional para analisar e comunicar a influência das alterações climáticas em fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor, tempestades, precipitação extrema ou secas.

A equipa de investigadores de França, Holanda, Grã-Bretanha, Suíça e Alemanha argumenta que as temperaturas recorde atingidas em países como a França e a Holanda teriam sido 1,5 a três graus Celsius inferiores sem alterações climáticas de origem humana. Baseando-se em modelos e dados observacionais (registos), esta análise foi produzida em parceria com o Instituto para as Alterações Climáticas de Oxford (ECI, na sigla em inglês) e os serviços meteorológicos holandeses, britânicos e franceses.

Robert Vautard afirmou que a Europa tem que se habituar a ondas de calor desta intensidade, que se tornarão mais frequentes e mais intensas, estimando que em 2050 as temperaturas máximas poderão ser três graus ainda mais quentes.

A vaga de calor foi para norte e está agora a provocar degelos em grande escala na Gronelândia e no Árctico.

Nesta quinta-feira, a Organização Meteorológica Mundial disse que Julho de 2019 igualou, se é que não ultrapassou, o mês mais quente a nível mundial de que há registo – e que foi Julho de 2016 –, tendo-se seguido já ao Junho mais quente de sempre.

O planeta está também a caminho dos cinco anos sucessivos mais quentes dos registos, alertou também na quinta-feira o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. “Só este ano temos visto recordes de temperatura desde Nova Deli a Anchorage, de Paris a Santiago, de Adelaide ao Círculo Polar Árctico”, disse Guterres aos jornalistas em Nova Iorque. “Se não fizermos nada em relação às alterações climáticas, estes fenómenos meteorológicos extremos são apenas a ponta do icebergue.”

António Guterres convocou uma cimeira sobre o clima para finais de Setembro em Nova Iorque, em que pretende que os governos apresentem medidas robustas para lidar com a crise climática global, como por exemplo a protecção das florestas e a protecção dos mais pobres de fenómenos meteorológicos violentos e da subida do nível do mar.

Em 2015, os países adoptaram o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global do planeta abaixo dos dois graus Celsius até ao final do século XXI em relação aos tempos pré-industriais, de preferência até aos 1,5 graus. O mundo já aqueceu cerca de um grau, sobretudo devido às actividades humanas e à queima de combustíveis fósseis para energia.

As ondas de calor são um dos fenómenos climáticos extremos que as alterações climáticas estão a tornar mais frequentes. São especialmente perigosas para as pessoas mais velhas, mais propensas a golpes de calor e outros problemas de saúde, explica Karsten Haustein, investigador do ECI. As taxas de mortalidade sobem durante as ondas de calor e, embora os planos de emergência possam ajudar a reduzir os riscos, são necessários passos mais substanciais, considera Karsten Haustein. “Árvores e telhados brancos são uma solução relativamente simples. Casas com melhores isolamentos e mais investimento em geral para proteger infra-estruturas destinadas ao fracasso perante temperaturas altas também são críticos.”

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