Gripe moderada e em tendência decrescente. Pico pode já ter sido alcançado

O vírus dominante até agora foi o vírus da gripe B, ao contrário do resto dos países europeus. A mortalidade está dentro do esperado para a esta época.

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“Nunca se vacinou tanto contra a gripe como nesta época”, afirmou a directora-geral da Saúde Adelaide Carneiro

Esta está a ser uma época gripal “de intensidade baixa a moderada, que está numa tendência estável mas decrescente”, disse a directora-geral da Saúde. Em conferência de imprensa, esta quinta-feira, a responsável adiantou que “aparentemente teremos estado já no pico” da gripe no continente.

O vírus dominante até agora foi o da gripe B, ao contrário do resto dos países europeus que têm reportado que o vírus dominante foi o A. Este vírus está associado a épocas gripais menos severas, com menos complicações e mortalidade associada. A mortalidade está dentro do esperado para a esta época.

Graça Freitas explicou que existem “muitas assimetrias regionais e locais”, mas que “com os dados nacionais tudo indica que o vírus B Victoria foi o dominante”. “Teve o início de actividade na primeira semana de Dezembro, foi subindo, ficou estável e está a descer.”

Quanto a diferenças regionais, a directora-geral da Saúde adiantou que nas regiões Norte e Centro “a tendência é claramente decrescente”. Na região de Lisboa e Vale do Tejo “está estável, em planalto”, enquanto no Alentejo a actividade gripal “não ultrapassou linha basal”, o que significa que não houve actividade epidémica. No Algarve, “na última semana analisada passou a linha basal - entrou agora actividade epidémica, mas de baixa intensidade”.

A directora-geral da Saúde afirmou que, apesar de em algumas regiões termos estado "já em pico da gripe”, todos os organismos se vão manter vigilantes por mais algumas semanas, já que em algumas épocas gripais anteriores existiu um segundo pico da gripe. “Basta haver uma alteração drástica do clima e do vírus”, referiu.

Graça Freitas explicou que existiram três factores – dois da natureza e um humano – que ajudaram a que a época gripal esteja a ser de intensidade baixa a moderadaclima, vírus e vacinação. "Até à data tem sido um inverno ameno e o vírus B está habitualmente ligado a uma actividade menos intensa, mais arrastada tempo e com menos repercussão na mortalidade por todas as causas.” 

Quanto à vacinação, “nunca se vacinou tanto contra a gripe como nesta época”, afirmou. “No SNS vacinámos cerca de 9% a 10% mais pessoas que em anos anterior e também se vacinou muito em farmácias. Mais de dois milhões portugueses foram vacinados.”

A responsável adiantou que a informação da Organização Mundial da Saúde “indica que vacina é efectiva”. Esta época gripal, pela primeira vez, Portugal teve disponível uma vacina tetravalente, ou seja com quatro estires de vírus da gripe (dois vírus tipo A e dois tipo B). Sobre se esta vacina foi mais efectiva, por ter quatro estirpes de vírus, Graça Freitas disse ser cedo para saber. 

Quanto ao facto de em Portugal o vírus dominante ser o B, ao contrário do resto da Europa, Graça Freitas disse não ser possível explicar.

Nos próximos meses o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) irá analisar os dados da gripe juntamente com parceiros internacionais, o que resultará num relatório com as conclusões sobre a efectividade da vacina. O presidente do Insa, Fernando Almeida, acrescentou que “tudo aponta, com base em dados preliminares, que seja mais efectiva”. 

Maior procura de urgências a seguir ao Natal

Também tem havido monitorização diária dos serviços de urgência dos hospitais. Graça Freitas revelou que houve semanas em que as urgências registaram 110 mil episódios, um “valor elevado, mas normal para o Inverno em que há sempre mais episódios de urgência”.

“Não se deveu a síndrome gripal, pois apenas 1,8% dos episódios de urgência se deveu síndrome gripal. Houve infecções respiratórias, como há todos os anos, e outras causas típicas do Inverno”, esclareceu a responsável. O dia de maior afluência às urgências “foi o dia 26 de Dezembro, com mais 23 mil episódios. O dia com mais procura por infecções respiratórias foi no dia de natal, com 17% de episódios de urgência por infecções respiratórias”, explicou. No dia 25 estima-se que se realizaram 16 mil episódios de urgência.

Foi a região de Lisboa e Vale do Tejo que sentiu maior impacto nas urgências, mas ainda há camas previstas nos planos de contingência que não estão a ser utilizadas. “Todos os hospitais têm os seus planos de contingência activos, que têm de intensidade. Quando há picos de procura, como os que existiram nos dias referidos, os hospitais têm mecanismos para responder”, explicou Ricardo Mestre, vogar da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

O responsável da ACSS adiantou que “Lisboa e Vale do Tejo tem registado picos de procura alguns hospitais”, mas que as unidades articulam-se em rede de forma a responder da forma mais adequada à procura de cuidados. O mesmo acontecerá nos próximos dias em que se esperam temperaturas mais baixas, o que poderá levar a um novo acréscimo de recurso às urgências.

“Lisboa e Vale do Tejo tem recorrido mais a camas adicionais de internamento. A nível nacional temos 50% das camas previstas [nos planos de contingência] activas. Na região de Lisboa e Vale do Tejo tem 65% das camas previstas utilizadas. Há uma folga para ser gerida”, disse.

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