Táxis no Tejo? Já esteve mais longe

Câmara e Associação de Turismo de Lisboa assinam um protocolo para reabilitar treze pontões em ambas as margens do rio e a expectativa é que comecem a surgir novos negócios em breve. “A Uber mostrou-se interessada”, diz a vereadora Teresa Leal Coelho.

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nuno ferreira santos

Barcos, pequenos e grandes, carregados de gente, hortaliças, vinho, produtos de todos os géneros, mais tarde carros. A azáfama que diariamente tomava conta do estuário do Tejo há apenas meio século parece hoje difícil de imaginar, de tal forma a Ponte 25 de Abril está arreigada na memória, na paisagem e nos movimentos lisboetas. O rio, mais do que palco simbólico para um anfiteatro chamado Lisboa, foi durante muitos anos sobretudo uma via de comunicação fundamental para duas margens que não podiam viver uma sem a outra.

Não é exactamente a esse passado que a Câmara de Lisboa quer regressar, até porque as duas pontes não vão sair do sítio, mas o protocolo que esta quarta-feira será assinado abre caminho a uma utilização mais intensiva do Tejo e ao surgimento de novas formas de o cruzar – como táxis ou Uber fluviais.

É isso que espera Teresa Leal Coelho, vereadora do PSD, que há dois anos apresentou a proposta que agora começa a ganhar forma: reabilitar pontões e cais de ambos os lados do rio. “Temos de transformar o Tejo numa via estruturante. É uma desolação, o rio está sempre vazio”, afirma.

O protocolo que esta quarta-feira vão assinar a câmara e a Associação de Turismo de Lisboa prevê a criação da Rede Cais do Tejo, que passa pela reabilitação de treze pontos de acostagem em cinco concelhos ribeirinhos. Em Lisboa serão seis, em Almada quatro e os restantes três ficam no Montijo, no Seixal e no Barreiro. Prevê-se que Oeiras, Loures, Moita, Alcochete e Vila Franca de Xira venham a integrar a rede num futuro próximo.

“Não estamos a propor nada que não aconteça já em muitas cidades da Europa e até fora da Europa”, diz Leal Coelho, argumentando que “há uma inutilidade relativa do Tejo em ambas as margens”. A vereadora conta a experiência que teve há uns anos quando precisou de se deslocar entre a Bobadela e São Bento e demorou uma hora e meia de carro. Teresa Leal Coelho acredita que teria demorado bem menos se tivesse apanhado um barco. “Até hoje não se potenciou a dinamização do Tejo, que trará enormes vantagens para a mobilidade, para a economia e para o desenvolvimento regional.”

Dos treze pontões a reabilitar, quatro vão ter o estatuto de principais: Belém, Parque das Nações (Lisboa), Cacilhas (Almada) e Montijo. Além destes haverá cais na Estação Sul e Sueste, na Matinha, em Alcântara e no Cais do Gás (Lisboa), no Porto Brandão, na Trafaria e no Ginjal (Almada).

Uber interessada

A Estação Sul e Sueste, cuja obra foi relançada há algumas semanas apesar de a reabilitação já estar a decorrer há vários meses, vai ser em Lisboa o ponto central das actividades marítimo-turísticas e dos barcos tradicionais do Tejo. Com a nova rede de cais e pontões será possível “utilizar modos mais flexíveis de transporte”, diz a vereadora do PSD. “A Uber mostrou-se bastante interessada”, garante Leal Coelho.

Desde a criação da Transtejo, em 1975, que esta empresa pública tem o exclusivo do transporte entre margens, ligando Belém, a Praça do Comércio e o Cais do Sodré, em Lisboa, a Cacilhas, Trafaria e Porto Brandão, em Almada, e ainda ao Seixal, ao Barreiro e ao Montijo. Não existe actualmente nenhum serviço para ligar diferentes pontos dentro de Lisboa ou para transporte entre as várias localidades a Sul do Tejo.

A Transtejo, diz Leal Coelho, está “alinhada e entusiasmada” com este projecto. “A concorrência é saudável e desejável”, comenta. “Há cais que hoje estão afectos à Transtejo e que a Transtejo não utiliza completamente ou que não utiliza a todas as horas.” Nesses poderá surgir outra oferta de carácter turístico ou de transporte regular.

Para a vereadora do PSD, este protocolo pode potenciar o surgimento de novos negócios que favoreçam a mobilidade da Grande Lisboa. Mas Leal Coelho também acredita que ele será importante para “a coesão regional e social” pois pode ajudar ao “desenvolvimento de outras margens”. E dá o exemplo de quando os legumes consumidos em Lisboa vinham, por barco, da Outra Banda. “Até isso pode ser reatado.”

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