O PSD, o país e a democracia

Ao contrário do que acontece com Rui Rio, comigo o PSD não será o seguro de vida do Governo nem de António Costa. Não há confusões nem hesitações. Portugal e a democracia exigem uma escolha nova, uma alternativa reformista e transformadora para o futuro.

No início desta legislatura, a eleição de um novo líder do PSD é mais importante para o país do que à primeira vista se possa imaginar. Dela poderá resultar um Governo a arrastar-se no poder durante quatro anos por ter num dos candidatos – Rui Rio – o seu seguro de vida.

Caso a “geringonça” deixe de funcionar e venha a desfazer-se, a estratégia de Rui Rio é a estratégia que convém ao Governo. É a estratégia da passividade, da resignação, da abertura a acordos políticos e, sobretudo, da disponibilidade para viabilizar orçamentos. Se se mantivesse à frente do PSD, não tenho dúvidas de que Rui Rio viabilizaria próximos orçamentos do Governo PS. Só não o faz agora por estarmos em vésperas de eleições internas. E mesmo assim cheio de teimosas e incompreensíveis hesitações. Viabilizando orçamentos, o PSD seria a sustentação da governação leviana de António Costa, prolongaria sem justificação o PS no poder e deixaria definitivamente de ser visto como alternativa. Seria um desastre para a democracia. Afinal, sem oposição firme e sem alternativa credível a democracia fica amputada e diminuída.

A estratégia que defendo é, sem falsa modéstia, a que mais salvaguarda o interesse nacional. É uma estratégia de oposição firme, capaz de fazer rupturas, indisponível para acordos com um Governo que não é reformista, empenhada em assumir alternativas claras. Portugal não merece um clima de paz podre, nem precisa de um Governo que cada vez mais tenderá a arrastar-se pelo poder, sem alma nem ambição.

Quero ser claro. Comigo, a estabilidade do Governo depende da “geringonça”. Comunistas e bloquistas são os parceiros do PS. Se algum dia tivermos de ter eleições antecipadas, por esses apoios faltarem ao Governo, não há drama para o país. Nós seremos a alternativa! Antes a clarificação que o pântano. O juízo dos portugueses é sempre preferível à promiscuidade dos jogos políticos de bastidores. Não podemos, além do mais, oferecer a nossa disponibilidade para fazer reformas a um Governo que manifestamente as não quer fazer. Como está à vista de todos.

A ausência de oposição durante estes últimos anos causou já um sério défice democrático. Temos uma brutal carga fiscal porque a oposição deixa o Governo à solta. Temos um crescimento económico medíocre porque a oposição não desmascara o Governo nem apresenta alternativas. Temos uma classe média maltratada e asfixiada porque a oposição não lhe dá voz nem protagonismo às suas ambições. Temos PPP na saúde que acabam, apesar de pouparem dinheiro ao Estado, porque a oposição não exerce a sua função, com a firmeza e a autoridade que se impõem. Temos silêncio no escrutínio da solidariedade dos portugueses com as zonas atingidas pelos incêndios de 2017, porque a oposição se encolhe. Temos um Governo de ficção, sem rumo e sem ambição, porque a oposição, infelizmente, também não é muito diferente – joga para empatar, não joga para ganhar. Assim não vamos lá! Para empatas já bastam os governantes que temos!

Este ambiente político é muito perigoso para a nossa democracia. A falta de uma oposição forte favorece o surgimento de populismos, o crescimento de forças políticas marginais, a pulverização do nosso sistema partidário, a incapacidade de construir uma alternativa mobilizadora e credível.

Tudo isto sucede porque o PSD tem estado ausente. Falta-lhe a alma, a chama e a energia; o espírito reformista e a vontade modernizadora; a coragem para unir e a determinação para combater; a iniciativa política e protagonistas credíveis; as causas e projectos capazes de ajudarem a construir o direito à diferença que a democracia exige.

O Senhor Presidente da República costuma dizer que o país precisa tanto de um governo forte como de uma oposição forte. Tem toda a razão. Só que hoje o país não tem nem uma coisa nem outra. A minha convicção é que a partir de Janeiro de 2020 esta realidade vai começar a mudar. Daí a importância das eleições internas do PSD. Ao contrário do que acontece com Rui Rio, comigo o PSD não será o seguro de vida do Governo nem de António Costa. Não há confusões nem hesitações. Portugal e a democracia exigem uma escolha nova, uma alternativa reformista e transformadora para o futuro.

Desejo a todos um feliz ano novo. À altura das ambições de cada um.

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