Rabino critica “veneno” anti-semita no Labour e agita campanha eleitoral britânica

Ephraim Mirvis, rabino-chefe do Reino Unido, alertou para os perigos do anti-semitismo “aprovado” pela liderança do Partido Trabalhista e pediu aos eleitores que “votem em consciência”. Corbyn assegurou que o racismo não tem lugar no partido.

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Corbyn apresentou esta terça-feira o manifesto "Race and Faith" Reuters/HENRY NICHOLLS

A duas semanas das eleições legislativas no Reino Unido e a uma distância pontual considerável dos favoritos conservadores, o Partido Trabalhista foi esta terça-feira confrontado com um ataque sem precedentes do rabino-chefe britânico, que promete agitar o que resta da campanha eleitoral: Ephraim Mirvis acusou a direcção de Jeremy Corbyn de aprovar o anti-semitismo que se enraizou no partido e apelou à “consciência” dos eleitores na hora de votarem. O líder do Labour defendeu, no entanto, que qualquer forma de anti-semitismo e racismo é “vil e errada” e garantiu estar comprometido na sua erradicação.

“É um falhanço olhar para isto [anti-semitismo] como um problema humano e não como um problema político. É um falhanço da cultura. É um falhanço da liderança. Um novo veneno – aprovado a partir do topo – enraizou-se no Partido Trabalhista”, acusou Mirvis, num artigo de opinião publicado no The Times, criticando o que considera ser uma cultura de “ameaça” movida pela direcção aos membros do partido que denunciaram publicamente o problema.

“Qualquer forma de anti-semitismo é vil e errada, é um mal dentro da nossa sociedade. Não há lugar para qualquer tipo de anti-semitismo no Reino Unido moderno e nenhum Governo trabalhista irá tolerá-lo”, respondeu Corbyn, recordando, por seu lado, que foi a sua direcção que lançou uma investigação interna sobre o problema e que promoveu processos disciplinares a alguns dos denunciados por racismo anti-semita.

“Nenhuma comunidade estará em risco por causa da sua fé, identidade, etnicidade e idioma. Passei toda a minha vida a lutar contra o racismo”, insistiu o líder do Labour, num discurso no Norte de Londres.

As acusações de anti-semitismo contra o Partido Trabalhista, oriundas de organizações e representantes da comunidade judia britânica, não são novas. E a direcção de Corbyn tem estado constantemente debaixo de fogo desde que tomou posse, em 2015.

Quer pelo passado do seu líder – em tempos chamou “amigos” aos grupos fundamentalistas islâmicos Hamas e Hezbollah e sempre se empenhou bastante na defesa da causa palestiniana –, quer por aquilo que os seus críticos consideram ser uma posição condescendente e pouco firme na condenação dos casos de anti-semitismo, mais ou menos mediáticos, dentro do partido.

Para além disso, esta direcção do Labour foi muito criticada por ter adoptado apenas dez dos 11 exemplos de anti-semitismo definidos pela International Holocaust Remembrance Alliance. De fora – num primeiro momento, depois foi incluído –, ficou o exemplo que refere que é anti-semita “negar ao povo judeu o seu direito à autodeterminação, alegando que a existência do Estado de Israel é um empreendimento racista”.

De qualquer forma, a tomada de posição de Ephraim Mirvis – líder espiritual das 62 sinagogas ortodoxas do Reino Unido – surpreendeu a opinião pública e os media britânicos, não só pela importância do seu cargo, mas principalmente pelo timing da publicação do texto: a poucas semanas das eleições e no mesmo dia em que o Labour apresentou o seu programa de combate à discriminação racial, étnica e religiosa.

O rabino não defendeu que os eleitores devem votar num ou noutro partido, nas eleições de 12 de Dezembro, mas o seu apelo ao boicote no Labour foi bastante claro.

“Não me cabe a mim dizer em quem devem votar e lamento muito estar nesta situação. Mas coloco uma questão simples: que dirá o resultado das eleições sobre a bússola moral do nosso país?”, questionou o rabino-chefe. “No dia 12 de Dezembro peço que votem de acordo com a vossa consciência. E que não tenham a menor dúvida de que a alma da nossa nação está em causa”.

Em campanha pela Escócia, Boris Johnson, primeiro-ministro e líder do Partido Conservador, colocou-se ao lado de Mirvir, dizendo que Corbyn “não foi capaz de erradicar o vírus [do anti-semitismo] do Labour”. 

E até o arcebispo da Cantuária comentou o artigo do rabino, no Twitter, argumentando que as críticas ao Labour são o resultado do “profundo sentimento de insegurança e de receio sentido por muitos judeus britânicos”. 

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