César Lacerda regressa a Portugal com “uma calma no modo de dizer as canções”

O cantor e compositor brasileiro César Lacerda apresenta novo disco em concertos em Lisboa (esta quinta-feira, no CCB), Porto (dia 25, na Casa da Música) e Ponte de Lima (dia 31). Nos dois primeiros, Tiago Nacarato é seu convidado.

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César Lacerda (à direita) com Tiago Nacarato DARYAN DORNELLES

Depois de uma bem-sucedida tournée em 2017, o cantor e compositor brasileiro César Lacerda regressa a Portugal para três concertos. O primeiro será esta quinta-feira em Lisboa, no CCB (Pequeno Auditório, 21h), o segundo no Porto, no dia 25, na Casa da Música (Sala 2, 21h) e o terceiro dia 32 em Ponte de Lima (Teatro Diogo Bernardes, 22h). E traz dois discos novos na bagagem: Tudo Tudo Tudo Tudo, lançado no Brasil em 2017, logo após os concertos em Portugal; e o single Felicidade é só querer, um dueto com Tiago Nacarato, agora seu convidado nos palcos de Lisboa e no Porto.

Nascido em Diamantina, Minas Gerais, em 5 de Maio de 1987, César Lacerda disse em 2017 ao PÚBLICO, antecipando o que viria a ser Tudo Tudo Tudo Tudo, então quase pronto: “Começo a achar que esse já é o meu melhor disco.” Nessa altura, já tinha lançado quatro: César Lacerda (2011), Porquê da Voz (2013), Paralelos & Infinitos (2015) e O Meu Nome É Qualquer Um (2016). Dois anos passados, confirma:

“É curiosa essa história da caminhada discográfica, porque ela revela não só algo da nossa música, mas algo da personalidade. E eu tenho para mim que é mesmo possível que eu melhore enquanto pessoa, ao envelhecer. Neste disco já não há a sombra daquela ambição que havia nos primeiros discos, de colocar ali um bando de instrumentos e tocar de forma um tanto ou quanto exuberante. Este tem uma calma no modo de dizer as canções, de cantá-las da melhor maneira e de forma carinhosa.”

De Pitty a Maria Gadú

Os 10 temas do novo disco são quase todos da sua autoria, letra e música, à excepção de Isso também vai passar (parceria com Rómulo Fróes) e Me adora, versão de uma canção da baiana Pitty. “O disco tem direcção artística do Marcus Preto, que está à frente de trabalhos de artistas como a Gal Costa ou o Erasmo Carlos. E a primeira provocação que ele me fez, foi: ‘E se levássemos a canção da Pitty, que é um rock, para a área da bossa nova?’ Eu gostei da ideia, e fiz essa versão, onde gravo à guitarra e toco as flautas. Foi tirar um pouco a canção daquele bloco de som típico do rock e trazê-la para um lugar onde cada palavra é dita e compreendida, na dor dessa pessoa que quase pede. Na versão da Pitty, ela diz: ‘Eu sou a maior!’ Na minha versão, é um pedido: ‘Você jura que não me acha tudo isso?’”

Há, ainda a participação de Maria Gadú num dos temas de César, Quando alguém: “Conheci a Maria Gadú ainda morando no Rio, mas nunca havíamos trabalhado juntos. No Brasil, o jornalismo cunhou um tipo de música como fofolk, uma folk de característica fofa, como a das Anavitória. E eu, por conta das provocações do Marcos, fiz uma canção com essa característica. Daí surgiu a possibilidade de convidarmos a Maria. E ela aceitou.”

César convidou também Tiago Nacarato, músico portuense filho de pais brasileiros, para dois dos seus concertos (em Lisboa e Porto), depois de terem gravado juntos uma canção, Felicidade é só querer. “Nós nos conhecemos pela Internet, ele me enviou a melodia, eu fiz a letra. Comecei a gravar no Brasil (guitarras, baixo) e vim para Portugal para gravarmos a voz dele. Foi ali que nos conhecemos pessoalmente.” E foi ali, também, em Vila Nova de Gaia, que foi gravado o videoclipe publicado online.

Um disco contra os artistas? Não!

Ainda voltando a 2017, César dizia nessa altura que era preciso “reaproximar a música do povo brasileiro”. Não mudou de ideias, e argumenta assim: “O facto de termos quem temos à frente do poder no Brasil tem a ver com uma inaptidão de comunicação que se deu nos últimos tempos, motivada por uma série de coisas. No caso específico da música, eu comecei a notar que, por conta de um excesso de experimentação, a música que se faz no país por um grupo muito rico de artistas se distanciou do público. E isso é um tanto triste.

Porque noutros momentos, diz ele, mesmo no auge da ditadura, a música que se fazia, e de experimentação, chegava ao público. Então, eu desejei fazer um disco que tivesse como premissa uma tentativa de reaproximação do público. Eu já fiz discos com muita experimentação, por exemplo com o Rómulo Fróes, que é o principal artista da vanguarda paulistana actual. E me perguntei: será que não é o momento de experimentarmos novamente a comunicação? Não deveríamos estar à frente, e não escondidos atrás de não sei quais questões ou perguntas?”

A tentativa, confirma, teve sucesso. Com um senão: “A imprensa noticiou esse disco como uma necessidade minha de fazer um disco pop, contra os artistas. Tive até amigos que disseram: ‘Como é, César? Você tá contra a gente?’ Mas é o contrário. Por um lado, houve sucesso, sim, porque do ponto de vista dos números, quando vejo o Spotify ou o YouTube, o disco resultou melhor do que os meus anteriores. Mas por outro tenho de explicar aos meus colegas que o disco não é o que dizem, não é contra eles.”

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