Todos os candidatos precisam de debates, mas uns precisam mais do que outros

Os estilos ficam mais parecidos entre si — o que não é necessariamente uma vantagem — há poucas novidades e frases repetidas, à vírgula, de umas intervenções para outras.

Era uma vez um político que não tinha jeito para falar às massas. Desse político não reza a história. Saber falar em público, ter boa presença, projectar bem a voz e explicar as ideias com clareza faz parte dos atributos que os líderes dos partidos e dos governos têm de ter, juntamente com a ambição. Os que não nasceram com essas características sabem que têm de trabalhar para elas. 

Marcelo Rebelo de Sousa é um comunicador nato que, além disso, beneficiou de um treino televisivo intenso durante quinze anos. Já a Cavaco Silva foi-lhe diagnosticada “queixada saliente, dentes desencontrados, língua pouco trabalhada”, o que dificultava a arte discursiva, mas teve aulas de dicção e de silabação com a actriz Glória de Matos (autora do diagnóstico referido) e conseguiu melhorar o seu desempenho.

O media training existe e não é de agora. Aliás, notou-se bem nos debates da última semana que os nossos políticos estão a profissionalizar-se na arte da entrevista e do frente-a-frente. São cada vez menos as respostas irreflectidas. 

É possível que Catarina Martins não quisesse dizer que a evaporação das águas das barragens é um problema complicado e talvez André Silva tivesse preferido identificar, à primeira, o maior erro político de António Costa, mas regra geral, os líderes partidários mostram-se bem treinados. Os estilos ficam mais parecidos entre si — o que não é necessariamente uma vantagem —, há poucas novidades e frases repetidas, à vírgula, de umas intervenções para outras. Exemplos? 

António Costa (PS): “Não vale a pena estragar uma boa amizade com um mau casamento.”

Rui Rio (PSD): “Atingimos a carga fiscal mais alta da história do país.”

Catarina Martins (Bloco): “A maioria absoluta é uma má ideia.”

Assunção Cristas (CDS): “Queremos 116 deputados no centro-direita em Portugal.”

Jerónimo de Sousa (CDU): “Portugal mudou para melhor com a decisiva intervenção do PCP.”

André Silva (PAN): “O PAN não é de esquerda nem de direita.”

De entre todos estes líderes, é normalmente Rui Rio quem surpreende com as frases mais inesperadas e as reacções mais genuínas. “Não tenho particular entusiasmo em ser deputado”, disse este fim-de-semana à agência Lusa. Catarina Martins também nos brindou com duas ideias novas: “o Bloco quer contas certas” e “o programa do Bloco é social-democrata”.

Excepções à parte, os políticos não têm conseguido (ou desejado) levar temas novos para os debates, o que diminui o seu nível de atractividade. Hábeis na definição da mensagem que querem passar, os líderes partidários preferem usar todas as oportunidades que têm para fazerem chegar aos eleitores o soundbyte escolhido. Seja em acções de rua, debates ou entrevistas. 

Quem perde é o telespectador e eleitor que, em vez se sentir esclarecido, sente-se como se estivesse a estudar para um exame de escolha múltipla ou para um programa de cultura geral daqueles que passam na televisão. Pergunta para queijinho: Quem disse que “a melhor prova do pudim é comê-lo”? Opção a) António Costa; opção b) Rui Rio, ou opção c) Jerónimo de Sousa.

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