Primeira greve de pilotos da British Airways deixa em terra milhares de passageiros

Os pilotos consideram insuficiente o aumento salarial de 11,5% nos próximos três anos, proposto pela companhia aérea em Julho, depois de terem sido alvo de cortes salariais ao longo dos últimos anos.

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WILL OLIVER/LUSA

Quase todos os voos da companhia aérea British Airways no Reino Unido foram cancelados no primeiro dia daquela que será a primeira greve dos pilotos da história da transportadora. Em causa está a melhoria das condições salariais.

“Não temos escolha a não ser cancelar quase 100% dos nossos voos”, anunciou esta segunda-feira a British Airways em comunicado.

“Entendemos a frustração e a interrupção que a greve causa. Depois de muitos meses a tentar resolver a disputa de pagamento, lamentamos muito que isso tenha acontecido”, sublinha uma nota publicada no site da companhia.

A greve de dois dias deverá afectar dezenas de milhares de viajantes, já que a empresa opera cerca de 850 voos diários no Reino Unido, sobretudo a partir dos aeroportos de Heathrow e Gatwick, em Londres.

Os pilotos consideram insuficiente o aumento salarial de 11,5% nos próximos três anos, proposto pela companhia aérea em Julho. Segundo a British Airways, esta oferta é “justa e generosa” e permitiria a alguns comandantes receberem mais de 220 mil euros por ano (com subsídios incluídos).

Mas o sindicato Balpa, que representa os pilotos da companhia, considera que os seus membros foram obrigados a fazer sacrifícios durante os últimos anos em que a empresa enfrentou a crise financeira, tendo sido alvo de vários cortes salariais. Agora que o desempenho financeiro da British Airways apresentou melhorias — com o grupo aéreo International Airlines Group (IAG), que controla a companhia aérea, a registar um aumento de 9% nos lucros no ano passado — e depois de a empresa ter emitido grandes dividendos para os accionistas, os pilotos reivindicam melhores salários e uma maior participação nos lucros.

Segundo a BBC, ambas as partes dizem estar dispostas a retomar as negociações, mas não está ainda estabelecida nenhuma data para tal. Caso não cheguem a acordo, está prevista uma nova greve dos pilotos para dia 27 de Setembro.

A greve de cerca de quatro mil pilotos terá levado já ao cancelamento de 1700 voos, avança a BBC, afectando dezenas de milhares de passageiros. Em média, segundo o diário britânico Guardian, a British Airways transporta cerca de 145 mil passageiros por dia.

Na quinta-feira passada, a British Airways rejeitou uma proposta do sindicato, que sugeria renunciar à greve se a companhia regressasse à mesa de negociações. “Estamos abertos a discussões construtivas com o Balpa para negociações salariais, mas pensamos que o sindicato não está a mostrar boa vontade ao avançar com uma proposta de última hora que custaria mais 50 milhões de libras [cerca de 57,7 milhões de euros] “, sublinhou a companhia aérea.

Em resposta, Brian Strutton, secretário-geral do Balpa, considerou que a British Airways estava a agir deliberadamente para que a greve tivesse lugar. O dirigente sindical contestou também o número avançado como sendo o custo da proposta, alegando que se trata apenas de mais cinco milhões de libras em relação ao avançado pela British Airways nas negociações.

“Um dia de greve vai custar à companhia 40 milhões de libras [cerca de 45 milhões de euros], mas parecem mais satisfeitos com isso do que em gastar com os pilotos”, afirmou Strutton.

Brian Strutton acrescenta, citado pelo Guardian, que “os líderes da empresa que recebem, por sua vez, enormes salários e têm generosos benefícios, não ouvem, recusam-se a negociar e estão a colocar os lucros à frente das necessidades dos passageiros e funcionários”, alegando que, embora publicamente se mostrem dispostos a negociar, em privado os dirigentes da British Airways não mostram intenções de ceder.

Já o chefe executivo da British Airways, Alex Cruz, garante que o investimento na companhia aérea nunca foi tão grande, tanto ao nível de serviços como da formação dos funcionários.

O Governo britânico pediu na semana passada que as negociações fossem retomadas, receando uma ampliação do conflito. “Os sindicatos e a BA devem regressar à mesa de negociações e encontrar uma solução. O público espera que isso aconteça”, indicou um porta-voz do executivo.

Além das condições salariais, estará também em causa um descontentamento generalizado dos pilotos quanto à estratégia da empresa e à postura da direcção da British Airways.

Na semana passada, a companhia aérea enviou erradamente emails a alguns passageiros a informar que os seus voos seriam afectados pela greve, o que causou um entupimento dos serviços de apoio ao cliente. Para aqueles que foram, de facto, afectados pela greve, a British Airways mostrou-se disponível para reembolsar o valor total do voo ou para proceder à remarcação dos voos numa data alternativa ou através de outra companhia aérea.