Erradicação da malária é possível até 2050, dizem especialistas mundiais

Para atingir meta ambiciosa, estudo indica como medidas o uso adequado de redes mosquiteiras, o desenvolvimento de vacinas e o aumento do financiamento.

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Mosquito que transmite o parasita da malária James Gathany/CDC

O objectivo da erradicação global da malária, uma das doenças mais antigas e mortais do mundo, pode ser alcançado até 2050, segundo um novo estudo publicado por uma comissão para erradicação da malária criada pela revista médica The Lancet. Contudo, um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em Agosto pedia alguma prudência relativamente a “objectivos irrealistas” no combate à malária.

“Um futuro livre de malária (...) pode ser alcançado tão cedo como 2050”, revela o estudo, da autoria de 41 dos principais especialistas mundiais em malária, ciências biomédicas, economia e políticas de saúde. O estudo sintetiza as provas científicas, combinando-as com novas análises epidemiológicas e financeiras que demonstram que – com as ferramentas e estratégias certas e o financiamento adequado – a erradicação da doença é possível no espaço de uma geração.

Os especialistas identificam três medidas para inverter a curva da progressão da doença. Primeiro, usar adequadamente as ferramentas já existentes, como as redes mosquiteiras, insecticidas e medicamentos. Depois, desenvolver novas ferramentas, como vacinas. Por fim, fazer um investimento financeiro anual de cerca de dois mil milhões de dólares (perto de 1800 milhões de euros) para acelerar os progressos no combate à malária.

“Por demasiado tempo, a erradicação da malária foi um sonho distante, mas agora temos provas de que a malária pode e deve ser erradicada até 2050”, disse Richard Feachem, co-presidente da Comissão The Lancet para Erradicação da Malária e director do Grupo de Saúde Global da Universidade da Califórnia São Francisco (EUA).

Este estudo diz que a erradicação da malária é possível no tempo de uma geração, mas para alcançar esta visão comum não podemos continuar com a abordagem actual. O mundo está num ponto crítico e devemos desafiar-nos com metas ambiciosas e comprometer-nos com as acções ousadas necessárias para as alcançar”, acrescentou.

Contudo, este estudo contradiz as conclusões de uma revisão elaborada pela OMS publicada em Agosto. No relatório, concluía-se que a erradicação da malária não poderia ser alcançada nos próximos tempos e que criar objectivos irrealistas com custos e desfechos desconhecidos poderia levar a “frustrações e recuos”.

Ao contrário da Comissão The Lancet, o relatório da OMS assinalava que, por agora, a prioridade deveria centrar-se no trabalho de base que venha a permitir a futura erradicação da malária.

Casos e mortes

Desde 2000, a incidência da malária e a taxa de mortalidade a nível global caíram de 36 e 60%, respectivamente, tendo-se registado igualmente um aumento do investimento na prevenção e no tratamento da doença, que em 2016 ascendeu a 4300 milhões de dólares (cerca de 3900 milhões de euros).

Hoje, mais de metade dos países do mundo está livre de malária. Apesar dos progressos e dos esforços globais, mais de 200 milhões de casos de malária são registados em todo o mundo a cada ano, causando mais de meio milhão de mortes.

A maioria dos novos casos de malária surge em apenas 29 países, que são responsáveis por 85% das mortes registadas em 2017. Só nesse ano a malária infectou cerca de 219 milhões de pessoas e matou 435 mil, a grande maioria bebés e crianças nas zonas mais pobres de África. Entre os 29 países, apenas dois – Papuásia-Nova Guiné e Ilhas Salomão – não estão localizados em África. Dois países africanos – Nigéria e República Democrática do Congo – são responsáveis por 36% dos casos de malária a nível mundial.

Além disso, os casos de malária têm aumentado em 55 países em África, Ásia e América Latina e feito crescer as preocupações com a resistência dos mosquitos responsáveis pela transmissão (vectores) aos actuais insecticidas e medicamentos.

Martin Edlund, responsável da organização Malaria No More, assinalou que o mundo deveria fazer tudo o que fosse possível para erradicar a malária: “Se agora diminuirmos para metade [os números da] malária, o mundo terá grandes benefícios sociais, humanitários e económicos, assim como se salvarão milhões de pessoas de morreram de picadas de mosquitos”, frisou em comunicado.

“Apesar dos progressos inéditos, a malária continua a privar comunidades em todo o mundo do seu potencial económico, particularmente em África, onde apenas cinco países carregam quase metade do peso global [da doença]”, adiantou ainda a médica tanzaniana Winnie Mpanju-Shumbusho, e co-presidente da Comissão The Lancet para a Erradicação da Malária.

Num comentário ao estudo, o director geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, considerou a meta “ousada”, considerando que o objectivo não poderá ser alcançado “com as actuais ferramentas e abordagens”. Por isso, apelou para “esforços redobrados” na investigação e desenvolvimento, maior e mais efectivo investimento e sistemas de saúde robustos baseados na saúde primária e na cobertura universal.

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