Alterações climáticas. Não temos 12 anos para minimizar os efeitos, mas apenas 18 meses

Este Verão a Europa de Norte sentiu directamente e de forma extrema os efeitos indiscutíveis do aquecimento global, e no entanto, ao contrário de um momento de consciencialização e de gravitas, a festa hedonista dos eventos permanentes nas cidades, das viagens low cost e das viagens do turismo de massas não abrandou.

Isto afirmou o príncipe Carlos, para muitos um desconhecido no seu tenaz e coerente percurso, desde a adolescência, de defensor do ambiente, durante o seu discurso oficial de liderança, perante os ministros dos negócios estrangeiros dos países da Comonwealth.

Durante a recente visita oficial de Trump ao Reino Unido, estava programada uma visita a Clarence House, residência do Príncipe e de Camilla, Duquesa de Cornwall. Esta visita deveria durar 15 minutos, mas prolongou-se por 75 minutos, pois o príncipe aproveitou a oportunidade para tentar sensibilizar e convencer Trump, esse negacionista militante, da gravidade e urgência daquilo que constitui o maior desafio que a Humanidade e a Civilização, enfrentou até agora. As alterações climáticas. 

O famoso relatório do IPCC, sr15, do ano passado afirma categoricamente que para manter o aumento da temperatura no limite do 1,5 graus, é imperativo reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030 e que a total neutralidade carbónica, com zero emissões seja atingida em 2050. Trump e a Arábia Saudita, juntamente com o Kuwait e a Rússia, têm boicotado abertamente as conclusões do Acordo de Paris.

Os Governos nada têm feito no seguimento de Paris (2015) e como as coisas estão agora vamos em direcção a um aumento de 3 graus o que corresponde a um cataclismo futuro de proporções bíblicas. Tendo em conta o tempo de planeamento das nações entre períodos de 5 ou 10 anos o limite extremo para verdadeiras decisões é realmente 2020.

A próxima data fundamental é a de 23 de Setembro. Nesta data António Guterres espera os representantes das nações do mundo para uma Cimeira decisiva sobre os desafios do Clima. Seguem-se as cimeiras COP25 no Chile e a COP26 no Reino Unido nos finais de 2020.

Mas este momento decisivo nos finais de 2020, apesar da intenção anunciada oficialmente pelo Reino Unido de zero emissões a 2050, vai ser profundamente complicado pelo tumulto caótico do “Brexit” que ameaça desintegrar o próprio Reino Unido, através de uma independência da Escócia, do País de Gales e da transformação da Irlanda num país único, pela união das duas Irlandas.

Apenas um outro exemplo, ilustrativo da frustração que o príncipe Carlos sentirá, tal como todos nós, perante a actual destruição da Amazónia por Bolsonaro. Em 2007, Carlos lança o The Prince's Rainforests Project dirigido à protecção total da Amazónia, da sua biodiversidade e das suas populações índias. Este último santuário natural e ecológico, agora mais do que nunca, pertence ao mundo.

Na Amazónia, após uma redução de 80% na taxa de desflorestação entre 2006 e 2012, neste momento, sobre Bolsonaro, o desmatamento está a tomar lugar a um ritmo de três campos de futebol por minuto. Ou seja um aumento de 62% em comparação com o mesmo período no ano passado. Bolsonaro acaba de despedir o director do Instituto responsável pelos relatórios por satélite, que confirmaram o ritmo de desflorestação. A Amazónia está a atingir o ponto limite de destruição e de não retorno.

A União Europeia tem a intenção de assinar um Acordo Comercial com a Mercosul, isto, enquanto as populações indígenas são mortas por garimpeiros e o mundo agrário Brasileiro tem a intenção de transformar a Amazónia numa imensa área de produção de carne, de soja e óleo de palma, com as conhecidas e inaceitáveis consequências ambientais

Estamos portanto no momento decisivo para a civilização e a humanidade nunca enfrentou tamanho desafio tal como príncipe Carlos afirmou no seu discurso de abertura do Acordo de Paris.

Este Verão a Europa de Norte sentiu directamente e de forma extrema os efeitos indiscutíveis do aquecimento global, e no entanto, ao contrário de um momento de consciencialização e de gravitas, a festa hedonista dos eventos permanentes nas cidades, das viagens low cost e das viagens do turismo de massas não abrandou, numa última dança sobre o vulcão, ao som da orquestra do Titanic.

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