BoJo, I love u

Não fiquei totalmente surpreendida quando a minha amiga Vanessa me apareceu eufórica com as possibilidades de Boris Johnson levar o Reino Unido sabe-se lá para onde

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Vasco Gargalo
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Vou tristemente confessar: eu também já achei graça a Boris Johnson. Ele era mayor de Londres, eu andava por lá, e foi a ler os jornais no café que a coisa aconteceu. Ou foi acontecendo. Envergonho-me um bocado. Mas aquilo de estar em Londres a ler os jornais num café cosy (palavra intraduzível onde está todo o hygge do mundo) é uma aproximação à ideia de felicidade. Logo, foi num estado alterado que me deixei entusiasmar por Mr. Johnson. Na época, é certo, ele era outro, ele é sempre outro. Camaleónico e oportunista, Boris é tudo e o contrário.

Digo isto para mostrar que não fiquei totalmente surpreendida quando a minha amiga Vanessa me apareceu eufórica com as possibilidades de Boris Johnson levar o Reino Unido sabe-se lá para onde.

- O gajo é um palhaço, mas é tão giro. Porque é que há palhaços tão giros? É charmoso. É gordo, mas um gordo charmoso. Conheci uma gaja que o conheceu que me disse que ao vivo ele ainda é melhor. E depois aquele cabelo maluco e amarelo! ‘Tás a ver, o gajo tem piada! Há tão pouca gente com piada. Eu quando vejo alguém com piada, morro.

A Vanessa morre de um desejo estrambólico e inconveniente, a mesma espécie de desejo que pode levar à morte os conservadores britânicos. O entusiasmo com BoJo, o nome carinhoso que arranjaram na ilha ao patético ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de Sua Majestade, é proporcional ao dos “tories” e ao das colunistas simpatizantes dos “tories” – uma escreveu que até dava uma volta com o Boris, se pudesse. A vantagem dos ingleses é que escrevem tudo, mas tudo, há séculos. Don’t give a damn. A Vanessa também não give a damn mas não é colunista da Spectactor. 

- Oh Vanessa, o Boris é mesmo um palhaço. E um palhaço bronco. E não é tão giro assim. Fogo, Vanessa, só dizes enormidades. (isto fui eu a tentar manter a dignidade)

- Claro que é giro. É irresistível. Tem um “it”. Bolas, se não tivesse um “it” chegava a líder dos conservadores?

Suspirei. Infelizmente, aqui ela tinha razão. John Major não tinha “it” e chegou a chefe dos Tories, Cameron tinha pouco “it” e também conseguiu – mas no caso de Boris tudo assenta no “it”. O homem seduz e arranja votos e apoios. 

E embalada pela sua razão neste ponto específico, a Vanessa continuou:

- O que me chateia é aquilo do gajo entornar vinho nos sofás. Como é que lhe chamou a namorada naquela gritaria que veio no Guardian? Mimado, não foi?

A Vanessa tinha seguido a história de quando a polícia foi chamada a casa de Boris Johnson e da namorada, depois de uma discussão em que Carrie Symonds gritava para Boris “sai de minha casa” e queixava-se do vinho entornado no sofá. Os ingleses escrevem tudo e também contam tudo. O vizinho que chamou a polícia contou a história ao “Guardian”, apesar de a polícia ter concluído que não havia indícios de crime dentro da casa Symonds-Johnson. A equipa de comunicação de Boris depois ofereceu uma fotografia do casal de mãos dadas, pazes feitas, gritaria e vinho entornado esquecidos.

- O gajo é mesmo apanhado, Vanessa. Ganha juízo. E é um grande bronco.

- Oh pá, eu sempre gostei de malucos. Olha os meus três ex-maridos! E os meus últimos namorados? Se um gajo não for completamente chanfrado perco o interesse. Isto não é defeito, é biografia.

E a Vanessa passou a apoiante do BoJo.

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