Bolsonaro admite nomear filho para embaixador do Brasil nos EUA

Eduardo Bolsonaro disse à GloboNews que vai “cumprir da melhor maneira” a missão que lhe for dada pelo “Presidente”, “onde quer que for”.

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Eduardo Bolsonaro é deputado e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados Joshua Roberts/Reuters

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, disse na quinta-feira à noite que pode nomear um dos seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro, para embaixador nos Estados Unidos.

“É uma coisa que está no meu radar, sim, existe essa possibilidade. Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês, fala espanhol, tem uma vivência muito grande de mundo. No meu entender, poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente em Washington”, disse o chefe de Estado quando questionado por jornalistas sobre essa possibilidade.

Bolsonaro frisou que para a nomeação acontecer, Eduardo Bolsonaro, o seu terceiro filho, que é também presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, teria que renunciar ao mandato de deputado. A Folha de São Paulo dizia que o deputado Capitão Augusto, próximo de Bolsonaro, está já a planear a apresentação de uma proposta legislativa que permita ao filho do Presidente manter o mandato na eventualidade de ser nomeado embaixador.

“Já foi pensado no passado, levámos em conta o custo e benefício e como a situação seria compreendida naquele país. Fiquei pensando: imagina se estivesse aqui no Brasil o filho do Macri [Presidente da Argentina] como embaixador. Obviamente que o tratamento dado a ele seria diferente de outro embaixador”, afirmou o Presidente.

Após as declarações do pai, Eduardo Bolsonaro disse à GloboNews que vai “cumprir da melhor maneira” a missão que lhe for dada pelo “Presidente”, “onde quer que for”.

“Quero conversar com o ministro Ernesto Araújo [Negócios Estrangeiros] e com o Presidente antes de falar alguma coisa, até porque não recebi nada oficial. Mas a missão que o Presidente me der, eu vou cumprir da melhor maneira”, frisou o deputado do Partido Social Liberal (PSL), formação política de Jair Bolsonaro.

Acrescentou que o facto de não ter experiência diplomática não é um impedimento para a função. “Não sou diplomata de carreira, não fiz concurso público, mas depende da missão que o Presidente vai passar. Muitas vezes, é até comum que isso aconteça, os países entendem que uma indicação política demonstra um compromisso maior na aproximação da relação entre os países”.

“Acredito que a nomeação ou indicação de uma pessoa tão próxima ao Presidente seria vista com bons olhos pelo lado americano e daria a confiabilidade necessária para que venhamos a desenvolver um trabalho resgatando o crédito do Brasil no exterior”, concluiu o filho Bolsonaro.

Ministro informal

Eduardo Bolsonaro tem actuado como uma espécie de chefe da diplomacia informal do Governo brasileiro, tendo liderado várias comitivas em viagens ao estrangeiro. Na visita de Bolsonaro aos EUA, em Março, o filho do Presidente teve um papel preponderante na condução da missão diplomática.

O Brasil está sem embaixador em Washington desde Abril, quando o diplomata Sérgio Amaral, que ocupava o cargo, foi transferido para a delegação do Ministério das Relações Exteriores em São Paulo. Jair Bolsonaro justificou a mudança com o facto de a sua imagem estar a ser criticada no exterior.

No Senado, que é responsável por aprovar as nomeações de embaixadores, a oposição ao Governo já veio criticar a possibilidade de Eduardo Bolsonaro assumir o cargo. O senador do Partido dos Trabalhadores, Humberto Costa, disse tratar-se de um caso de “falta de noção completa”. “Não apenas por ele ser filho do Presidente da República, mas por ser uma pessoa sem a qualificação necessária para o exercício de uma função como essa”, acrescentou, citado pelo jornal O Globo.

Por outro lado, o senador do PSL, Major Olímpio, acredita que não deverá haver obstáculos para que a nomeação venha a ser aprovada, a não ser que os senadores queiram “dar um recado” ao Presidente.

O debate sobre a nomeação do embaixador brasileiro em Washington, que apenas tinha sido aflorado durante a visita de Bolsonaro aos EUA, volta a surgir numa altura que coincide com a aprovação da reforma do sistema de pensões na Câmara dos Deputados. O texto base foi aprovado na quarta-feira à noite, depois de um longo processo de negociação no Congresso, durante o qual o Governo se viu obrigado a desbloquear verbas para assegurar o apoio de uma maioria dos deputados. 

A imprensa calcula que tenham sido aprovados mais de cinco mil milhões de reais (1,1 mil milhões de euros) em emendas parlamentares, que são fundos públicos para serem investidos nos círculos eleitorais de determinados deputados. A prática é comum na negociação política brasileira, mas Bolsonaro tinha-a criticado durante a campanha eleitoral, prometendo acabar com a “velha política”.

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