Seca numa barragem do Iraque desvendou um palácio com mais de três mil anos

A descoberta arqueológica na região curda do Iraque agora divulgada remonta à Idade do Bronze. O palácio e os restantes vestígios encontrados deverão permitir estudar o pouco conhecido reino Mitanni.

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As ruínas do Palácio Kemune Universidade de Tübingen
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Universidade de Tübingen
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Um palácio da Idade do Bronze com pelo menos 3400 anos foi descoberto numa albufeira no Curdistão iraquiano depois do nível médio da água ter descido devido a um período de seca prolongada na região.

A descoberta de parte das ruínas nas margens do rio Tigre foi feita já em 2010 e levou a um projecto conjunto que envolveu equipas da Universidade de Tubinga, na Alemanha, e da Organização Arqueológica do Curdistão. No entanto, devido às condições pouco favoráveis para a exploração do terreno, só em Outubro de 2018 foi possível iniciar as escavações.

O trabalho que foi levado a cabo pelas duas equipas e que foi divulgado no fim do mês de Junho pela própria universidade alemã tem como objectivo melhorar a compreensão do reino Mitanni, “um dos impérios menos documentados ​do Antigo Oriente”, refere a equipa curdo-alemã num comunicado divulgado pela instituição de ensino. O império em questão dominou alguns territórios no nordeste da Síria, sudeste da Turquia, Irão e norte do Iraque nos séculos XIV e XV a.C..

Os investigadores acreditam que o palácio estaria originalmente pelo menos 15 metros acima do nível do rio que lhe é próximo. Depois da sua construção uma parede de reforço foi adicionada à base para estabilizar toda a estrutura. Ivana Puljiz, uma arqueóloga do Instituto de Estudos Antigos da Universidade de Tubinga, descreve o palácio, agora conhecido como Kemune, como um edifício “cuidadosamente projectado com paredes de tijolos de barro que têm até dois metros de espessura”.

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Os vestígios de pinturas descobertos durante as escavações Universidade de Tübingen

A equipa encontrou também várias pinturas nas paredes em tons de vermelho e azul, o que julga ser uma característica comum dos palácios daquela época, embora poucas tenham sido preservadas até actualidade.

“Esta descoberta arqueológica é uma das mais importantes da região nas últimas décadas. Kemune é apenas o segundo local onde as pinturas murais do Mitanni foram descobertas”, referiu um dos arqueólogos curdos no mesmo comunicado. Foram também encontradas cerca de dez estruturas de argila com escrita cuneiforme, um tipo de escrita tão antigo como os hieróglifos egípcios​, que foram fotografadas e enviadas para a Alemanha para serem traduzidas.

“A partir dos textos esperamos obter informações sobre a estrutura interna do reino Mitanni, sobre a sua organização económica e a relação da sua capital com os centros administrativos das regiões vizinhas”, referiu um dos arqueólogos à CNN, acrescentando que pouco depois destas escavações terem terminado o palácio ficou novamente submerso e que não é claro, para já, quando será possível voltar ao local para retomar os trabalhos.

Já em 2016, uma equipa de arqueólogos da mesma universidade alemã — com alguns dos mesmos membros da que agora descobriu o palácio — colocou a descoberto outra cidade da Idade do Bronze perto de Dohuk, no Norte do Iraque. As escavações feitas no local mostram que na actual aldeia de Bassetki existia um centro urbano com uma extensa rede de estradas, vários bairros residenciais, grandes casas e um “sumptuoso edifício” construído há cinco mil anos.

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