O turismo, a aviação e a governação

É imperioso que ao turismo seja concedido um ministério que lhe dê “voz”, “peso” e autonomia.

Há duas situações que ocorrem no nosso país que sempre me deixaram algo perplexo. A primeira relaciona-se com o facto de Portugal nunca ter possuído uma estratégia para a aviação; e a segunda, por também nunca a ter considerado parte integrante e peça fundamental da actividade turística.

Ora, sabendo-se que a aviação – que inclui o transporte aéreo, as infra-estruturas aeroportuárias, a navegação, o controlo e a segurança aéreas – foi desde o aparecimento do avião a jacto uma das grandes “molas” impulsionadoras do crescimento e do desenvolvimento do turismo e é presentemente, de longe, a principal forma de acesso a qualquer destino – em 2018 foi responsável pela deslocação de 4,3 mil milhões de passageiros! –, não é difícil entender-se a sua importância para os 1,4 mil milhões de turistas registados o ano passado.

É, pois, mais do que óbvio que se não houver “como chegar” dificilmente a actividade turística conseguirá singrar, principalmente num país com o nosso posicionamento e características geográficas, e não é surpresa que cerca de dois terços dos turistas que visitam Portugal utilizem o avião.

A estes argumentos acresce o da espontânea organização da sociedade civil, isto é, o facto de as empresas e entidades que compõem a aviação decidirem integrar o turismo, aderindo, fazendo parte e colaborando estreitamente com as suas instituições e organismos, por ser a elas que sentem pertencer e, por isso, onde se revêem e encontram a interlocução, os entendimentos, as plataformas de diálogo e as parcerias de que necessitam.

Por sua vez, e de acordo com todos os estudos e previsões, o turismo é a única actividade que continuará a crescer consistentemente acima da média da economia mundial, pelo menos, durante as próximas três décadas. 

Assim, não causa espanto que ao longo dos anos o turismo tenha andado “perdido” num Ministério da Economia que sempre esteve coarctado de áreas essenciais que se mantiveram (e mantêm!) sob a responsabilidade de outros ministérios, como é o caso da aviação e, paralelamente, sofrido as consequências de decisões que, por não considerarem devidamente a actividade turística, sucessivamente comprometeram o seu crescimento e desenvolvimento sustentados.

Não obstante, o turismo nacional prosperou! Graças a ser uma actividade eminentemente privada e, nos últimos anos, a uma conjuntura internacional que, queira-se ou não, foi-nos altamente favorável, mas que está a esmorecer.

É chegada a altura de começarmos a pensar em erradicar preconceitos sem sentido e dar substância ao que de viva voz toda a “classe política apregoa” e a sociedade portuguesa há muito interiorizou, ou seja, que o turismo é um dos grandes motores da economia nacional. E, como tudo o que é importante, deve estar em primeiro lugar!

Mais a mais porque ela é uma das mais transversais e pluridisciplinares áreas da economia, que se entrecruza com quase todas as esferas da governação e, por essa razão, pode ser afectada positiva ou negativamente por decisões terceiras, sendo assim mais do que óbvio – e de elementar justiça pelo muito que tem contribuído para o nosso “renascer” económico – que passe a ter assento no Conselho de Ministros.

Caso contrário continuaremos a elogiar muito o turismo e os seus agentes, a glorificar os seus resultados, a apontá-lo como exemplo de inovação e resiliência, a propalar a sua capacidade ímpar na criação de emprego, a embevecer-nos com os prémios e distinções conquistadas, e a não assumir que o avião é, por excelência, o principal meio de transporte de quem viaja, a ter aeroportos estrangulados, a persistir em distorções fiscais que prejudicam a nossa competitividade internacional, a criar entraves ao investimento, a legislar sobre o que se não sabe, a ver os turistas como “presa” fácil de mais receita através da cobrança de “taxas e mais taxinhas”, etc., etc..

Um dia (não muito distante), a actual orgânica governativa terá de ser corrigida e actualizada, de modo a colocá-la em linha com a realidade e apta tanto a responder aos desafios do terceiro milénio, como a dar ao turismo o protagonismo político que por mérito lhe pertence!

Portanto, é imperioso que a actividade turística e a aviação passem a figurar na mesma “face da moeda” e estratégico que ao turismo seja concedido um ministério que lhe dê a “voz”, o “peso” e a autonomia consentâneas com a sua importância presente e futura no progresso de Portugal!

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