“Não roas as unhas!”

Uma vez que os danos nas unhas tornam-se visíveis, pode levar a sentimentos de vergonha ou culpa, com um impacto significativo nas relações familiares e sociais, ou até mesmo na auto-imagem e auto-estima, levando a uma diminuição da qualidade de vida.

Todos nós conhecemos alguém que tem por hábito roer as unhas e que, muito provavelmente, terá adquirido esse hábito na infância. Este é, de facto, um comportamento bastante comum nas crianças, mais concretamente nos adolescentes. A boa notícia é que tende a diminuir com a idade.

Quando este comportamento se torna crónico e patológico, é designado de Onicofagia. Esta é uma perturbação do comportamento repetitivo centrado no corpo e encontra-se classificada na categoria de perturbação obsessivo-compulsiva e perturbações relacionadas com outra especificação, no manual de diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria.

Este comportamento pode ocorrer quando a criança ou adolescente se encontra num estado ansioso, frustrado, aborrecido, sozinho ou até com fome, imagine-se. Pode estar ou não associado a outra perturbação, como por exemplo a Perturbação de Hiperatividade/ Défice de Atenção, Perturbação de Tiques, Enurese, Ansiedade de Separação, entre outras. É descrito como um comportamento automático.

Além disso, parece haver uma ligação estreita com factores genéticos, sendo maior a probabilidade de haver alguém na família com o mesmo comportamento, comparativamente com a população em geral.

Esta perturbação pode trazer as mais variadas consequências, quer físicas, quer sociais. Pode resultar em danos na unha e respetivo tecido adjacente, não levando apenas a uma aparência inestética, mas também aumentando o risco de infeções bacterianas, bem como de problemas dentários ou nas gengivas.

Uma vez que os danos nas unhas tornam-se visíveis, pode levar a sentimentos de vergonha ou culpa, com um impacto significativo nas relações familiares e sociais, ou até mesmo na auto-imagem e auto-estima, levando a uma diminuição da qualidade de vida.

Como tratar? O primeiro passo é reconhecer que existe um problema e que pode ser tratado. Para isso, pode ser necessária ajuda profissional. Quando necessário tratamento, devem ser tidos em conta quer os factores físicos associados, quer os psicológicos.

Para os factores físicos, deve haver acompanhamento médico, nomeadamente do pediatra e eventualmente do pedopsiquiatra nos casos mais graves. Pode ser indispensável recorrer ao uso de medicação.

Alguns métodos, como a aplicação de um produto com um sabor desagradável nas unhas, para que se associe o roer as unhas a esse sabor, acaba por ser pouco eficaz a longo prazo.

Outros métodos, que funcionam como barreira entre as unhas e a boca, como por exemplo o uso de luvas, podem eventualmente servir como impedimento ou até como lembrete para não roer as unhas. Usar uma bola anti-stress como forma de desviar a atenção para outra atividade, é também uma estratégia por vezes recomendada.

Tratar as unhas regularmente pode ajudar a motivar a mantê-las intactas, especialmente no que diz respeito às adolescentes.

No caso dos factores psicológicos, pode-se recorrer à terapia cognitiva e comportamental, quiçá uma das intervenções com maior probabilidade de sucesso, nomeadamente através do treino de reversão de hábitos, cujo objetivo é “desabituar” a criança/ adolescente do hábito de roer as unhas e substituí-lo por outro mais adequado. Para isso é necessário identificar pensamentos, sentimentos e comportamentos desajustados e trabalhá-los, de forma ajustada ao seu estádio de desenvolvimento.

Nos casos mais graves passará mesmo por reduzir ou retirar os fatores emocionais associados ao comportamento de roer as unhas.

Como em qualquer tratamento a colaboração da criança ou adolescente é essencial. Ao experienciar esta problemática, torna-se um desafio para toda a família, pelo que a sua inclusão no tratamento é tanto mais importante quanto mais nova for a criança.

E passar a mensagem de que é possível modificar este hábito. Não roas as unhas! Sim, é possível!

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