Mart’nália canta Vinicius de Moraes, o senhor de boina que visitava o pai

Filha de sambistas célebres, Mart’nália está em Portugal para cantar Vinicius de Moraes. Esta quinta-feira no Porto, dia 22 em Ponte da Barca e dia 7 de Julho em Lisboa.

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Mart'nália DR

Vinicius de Moraes era visita lá de casa, mas ela ainda era demasiado pequena para saber quem era aquele senhor de boina que visitava regularmente o seu pai, Martinho da Vila. E estava bem longe de imaginar que um dia iria ser cantora e gravaria um disco só com canções dele. Mas foi o que sucedeu.

Mart’nália, nascida em 7 de Setembro de 1965 no Rio de Janeiro, numa família de sambistas célebres (o seu nome cruza o nome dos pais, os cantores Martinho da Vila e Anália Mendonça), editou este ano pela Biscoito Fino um disco intitulado Mart'nália Canta Vinicius de Moraes. E está a apresentá-lo ao vivo em Portugal, tendo pelo meio vários concertos na Europa. Esta quinta-feira estará no Hard Club, no Porto (22h) e dia 22 em Ponte da Barca, no Jardim dos Poetas (22h). Depois cantará em Dublin, Londres, Amesterdão, Malmo, Zurique, Lugano e Paris, voltando a Portugal para encerrar a digressão em Lisboa, no Estúdio Time Out (7 de Julho, 19h).

Mart’nália já gravara um tema de Vinicius e Baden Powell (Tempo feliz) no álbum que de certo modo a lançou na ribalta, Pé do Meu Samba, produzido por Caetano Veloso. Isso foi em 2002, depois de dois discos com que deixou de se identificar: Mart’nália (1987) e Minha Cara (1997). Depois viriam outros: Menino do Rio (2006), Madrugada (2008), Não Tente Compreender (2012) e +Misturado (2017), além de quatro registos ao vivo.

O actual tem 14 temas, parcerias de Vinicius de Moraes (1913-1980) com compositores como Tom Jobim, Carlos Lyra, Toquinho, Baden Powell ou Hermano Silva. Voltando atrás: na sua meninice, Mart’nália via-o apenas como visita de casa. “Só depois liguei o nome com a pessoa, com a figura daquele ‘coroa’ de boina”, diz ela ao PÚBLICO. “Mas isso foi mais tarde, quando eu já lia poesia e ouvia música como música mesmo.”

Leveza do amor, mesmo na dor​

A ideia do disco resultou da decantação de várias experiências. Primeiro, ela fez um espectáculo reunindo quatro compositores: Vinicius, Martinho da Vila, Noel Rosa e Chico Buarque. “Cantava oito músicas de cada um.” Depois, quando a convidaram para o Blue Note do Rio, cantou “só dois: Vinicius e Noel.” E esteve para gravar “um projecto paralelo, não de carreira”, com essa dupla. Mas a cantora carioca Teresa Cristina avançou com um projecto próprio só com Noel Rosa e a ideia caiu. “Aí ficámos com Vinicius. Ainda pensei em juntar outro compositor, mas achei que ele sozinho ficava melhor.” Sozinho não é bem, já que traz consigo vários dos seus parceiros de composição.

Depois, foi escolher. “Eu já cantava Onde anda você e a Tonga da mironga do kabuletê (nem sei porquê). Além delas, escolhi as músicas que tinham mais a ver comigo, sem que parecesse estranho cantá-las. Eu acho legal essa leveza dele, do amor, mesmo na dor.” Com direcção, produção musical e arranjos de Arthur Maia e Celso Fonseca (Arthur morreu em Dezembro de 2018, antes do lançamento), o disco teve como convidados Maria Bethânia (que escolheu e diz o Soneto do Corifeu em Eu sei que vou te amar), Toquinho, a voz gravada de Vinicius no Samba da bênção e a cantora francesa Carla Bruni em Insensatez, com versão em francês do músico cabo-verdiano Mário Lúcio.

Ao vivo, o disco foi estreado em Varginha, Minas Gerais, seguindo para Florianópolis, Salvador da Bahia, Rio de Janeiro (Vivo Rio) e Guarulhos, no Estado de São Paulo, onde foi inaugurar uma nova sala de espectáculos, da rede Sesc. Finda a digressão europeia, a carreira do espectáculo continuará no Brasil, por outras cidades e palcos.

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