Ordem quer levar Arquitectura às escolas e pôr os mais pequenos a pensar o espaço

A candidatura vencedora propõe um trabalho assente em workshops que vão acompanhar e desenvolver todas as fases do projecto, começando pela selecção do espaço a trabalhar. O objectivo é a participação das crianças em todas as fases do processo.

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Nuno Ferreira Santos

A arquitectura explicada de forma “leve e lúdica” é a base do projecto vencedor de um concurso lançado pela Ordem dos Arquitectos que quer pôr crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo a pensar e trabalhar o espaço público.

“Arquitectura da Diversidade - Ferramentas para uma educação em arquitectura” é a proposta da arquitecta Sara Vargues, que convenceu o júri do concurso lançado pela Ordem dos Arquitectos Secção Regional Sul e que tem na base uma perspectiva de inclusão, partindo para a construção do projecto com uma questão guia: “Como garantir que todos têm a mesma oportunidade de uso do espaço?”.

“Partimos de uma questão que nos orientou na construção da proposta e com isso tentar levar para a escola, tanto pré-escolar como 1.º ciclo, a discussão da arquitectura, não só enquanto espaço físico, mas todas as questões sociais que estão relacionadas, que podem estar relacionadas a arquitectura, como a diversidade, a igualdade de oportunidade e tudo o mais. E o objectivo é precisamente que a turma e que as crianças desenvolvam um olhar crítico sobre todo o ambiente que as rodeia, do qual fazem parte, constroem, transformam, habitam. E isso levado à questão mais cívica, de entender o espaço”, explicou à Lusa a autora do projecto vencedor.

O objectivo, acrescentou Sara Vargues, é a “participação das crianças, para que todos tomem decisões e realmente façam parte consciente do processo”. A candidatura vencedora propõe um trabalho assente em workshops que vão acompanhar e desenvolver todas as fases do projecto, começando pela selecção do espaço a trabalhar.

“A ideia é através de uma conversa colectiva, começar a criar uma discussão com as crianças, muito prática e muito simples, para mostrar alguns exemplos da arquitectura, do que significa algumas experiências de edifícios, de espaços públicos, tentar explicar o que isso significa na vida, no quotidiano delas. E depois perguntar sobre o espaço da escola de forma simples. Quais são os espaços que formam a escola? Ou seja, nós estamos dentro de uma sala de aula, depois temos um corredor que levam a um pátio. O que se faz no pátio? Quais são as funções de cada lugar? Quem utiliza a sala? São os alunos? Os professores? Quem utiliza o pátio, de que forma utiliza?”, exemplificou a arquitecta.

A partir desse “pequeno jogo” pretende-se que as crianças vão descobrindo aquele que é o seu primeiro espaço público por excelência, a escola, e que pensem sobre ele, associando-lhe funções, utilidade, mas também sensações, fazendo-as reflectir sobre os espaços onde se sentem melhor, mais confortáveis e porquê, e sobre as características que podem implicar segregação.

“ [Pretende-se] olhar para esse espaço com alguns conceitos de arquitectura, nomeadamente a temperatura, a textura, o que é que isso promove no bem estar deles, entender se há algum espaço que acaba por segregar, perceber se há alguém que não se sente bem naquele espaço e porquê”, disse Sara Vargues, que explicou ainda que o projecto não é apenas teórico e quer levar as crianças a “pôr as mãos na massa”.

“A ideia é precisamente a construção de um protótipo. Achamos que a escola também funciona como um bom objecto de estudo e quer-se chegar a uma conclusão de como transformá-lo, para que ele seja um espaço para todos, para que todos se sintam nele não apenas como usuários, mas transformadores. A ideia é mudar o espaço que se seleccionou”, afirmou Sara Vargues, dizendo que para isso as crianças fariam uso de materiais que habitualmente já usam nestas idades, como as canetas de feltro ou as cartolinas.

Sara Vargues admite que seria pouco exequível ter um arquitecto a acompanhar o projecto nas escolas, sobretudo se chegar a uma fase de generalização, daí que um dos elementos que consta da proposta seja o de guia teórico para os professores das turmas, que pretende sobretudo dar-lhes autonomia na aplicação da ideia, mesmo que isso implique um workshop de formação inicial.

Construído para ser aplicado num período lectivo, ou seja, com uma duração entre dois a três meses, e com um custo estimado de dois mil euros, o projecto teve ainda em conta as metas curriculares do 1.º ciclo, integrando objectivos curriculares de ambos os níveis de ensino, mas também conceitos de cidadania retirados da Convenção sobre os Direitos da Criança e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas.

Sara Vargues tem também a esperança que o projecto possa sair para fora do espaço escolar. “Espero que os professores se sintam encorajados para aplicar isso fora da escola. Por exemplo, dependendo do tipo de aprendizagem, dependendo do tipo de currículo da escola, eles podem ir para uma praça, podem incentivar as crianças a fazer em casa ou aumentar a escala ou mesmo replicar para outros tipos de situações. Acho que é o nosso grande objectivo que as coisas se tornem autónomas e que possam depois ser replicadas de uma forma natural”, disse.

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