Madeira: Depois das europeias, as eleições regionais

Europeias foram primárias para as regionais de Setembro. Resultados obrigaram o PS a reposicionar- se e o PSD a fazer as pazes com o passado. Tudo com o CDS à espreita.

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Paulo Cafôfo é a aposta de António Costa para tirar o Governo da Madeira a Miguel Albuquerque Gregório Cunha

O PS-Madeira, com António Costa a ajudar, apostou (quase) tudo, e perdeu. À direita, a direcção do PSD-Madeira jogava (quase) a própria sobrevivência, e venceu.

No arquipélago onde os social-democratas mandam há quatro décadas, não saíram nas europeias grandes novidades das urnas. Os socialistas foram os grandes derrotados da noite, o PCP viu-se ultrapassado pelo PAN, o CDS aguentou-se como terceira força política e o PSD foi o partido mais votado.

As europeias foram uma espécie de primárias para as eleições legislativas regionais de 22 de Setembro. Uma antecâmara do que poderá vir aí, numa altura em que pela primeira vez na Madeira os social-democratas têm, se não a vitória (os resultados de 26 de Maio vieram de certo modo arrefecer o entusiasmo da oposição), pelo menos a maioria absoluta em risco.

Foi com esse pensamento que Costa foi ao Funchal uma semana antes das eleições dizer que um voto no PS no domingo seguinte, era um voto “três em um”: daria força à Europa, ao país e à “mudança” na Madeira protagonizada por Paulo Cafôfo.

Não resultou. O secretário-geral socialista acabou sendo ultrapassado pela realidade, mas muito mais do que Sara Cerdas – a estreante candidata indicada pelo PS-Madeira para o Parlamento Europeu, que foi eleita em sexto –, Pedro Marques ou Emanuel Câmara, o presidente regional do partido, foi o candidato à presidência do governo madeirense a entusiasmar a sala.

O comício, com a sala cheia de bandeiras e lá fora filas de autocarros pagos pelo partido para trazerem simpatizantes de toda a ilha (um expediente tantas vezes seguido por Alberto João Jardim), abriu e fechou com uma ovação a Cafôfo, o antigo professor de História que em 2013 abalou o alicerces do jardinismo, ao ganhar a Câmara do Funchal ao PSD, repetindo a vitória quatro anos depois, agora com maioria absoluta.

Nesse mesmo mês, aceita ser o trunfo de Emanuel Câmara, que desafia a liderança interna de Carlos Pereira prometendo que se ganhasse o partido, seria ele, Cafôfo, o candidato socialista à presidência do governo regional. Vencem os dois o PS, mas fora da esfera do partido, os que antes lhe eram próximos começam a afastar-se. O JPP é o primeiro parceiro da coligação a sair. Segue-se o Bloco e o Nós, Cidadãos!.

Antigos compagne de route, como Rodrigo Trancoso, deputado regional do Bloco que foi presidente da Assembleia Municipal do Funchal no primeiro mandato de Cafôfo e candidato novamente em 2017 (acabou por não ser eleito, por falta de maioria na Assembleia Municipal), desencanta-se na página pessoal no Facebook.

“Temos Presidentes de Câmara, que tendo sido eleitos com base numa coligação partidária, tendo agora outros objectivos, nenhuma satisfação prévia é dada aos partidos que os levaram ao colo... agora mastigam e deitam fora”, escreveu Trancoso, no dia em que Cafôfo anunciou que iria renunciar à presidência da autarquia para dedicar-se em exclusivo à campanha para as regionais de Setembro.

Cafôfo foi empurrado para o terreno. Já começou. Logo na semana seguinte às europeias, chamou os funcionários da autarquia (e a comunicação social) para despedir-se. Deu uma entrevista à RTP-Madeira a dizer ao que vinha e lançou-se, domingo passado, oficialmente em campanha.

O agora ex-autarca do Funchal tem a difícil tarefa de unir o PS-Madeira, tradicionalmente balcanizado entre várias sensibilidades. O resultado de domingo passado, não terá sido alheio a isso mesmo: às divisões abertas pela internas que elegeram a solução Cafôfo-Câmara. Foi a primeira vez que este projecto foi a votos, e não correu bem.

O PSD saiu mais forte, e olha agora para as regionais com mais confiança. Desde que Miguel Albuquerque pegou no partido, em choque com Jardim, que os social-democratas têm vindo a perder eleitorado, e estas eleições inverteram-se essa tendência. Mostraram um PSD mais unido, em paz com o jardinismo, e que contou mesmo com a ajuda na campanha do antigo líder dos social-democratas madeirenses. Albuquerque, tem mesmo desenterrado o discurso autonomista e contra o “centralismo” de Lisboa.

Será suficiente, para garantir que o PSD vence em Setembro? É provável que sim. E para ser governo sozinho? É provável que não. O CDS, tanto à direita como à esquerda, tem-se preparado para ser um pivot do próximo governo madeirense. No final, e com a jurisprudência da geringonça na Assembleia da República, tudo de poderá ficar resumida à velha dicotomia direita/esquerda.

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