Mirri Lobo celebra a Ilha do Sal num novo disco de originais

O novo disco do cabo-verdiano, Salgadim, presta homenagem à sua ilha natal. Recém-editado, é apresentado este sábado no Lisboa Ao Vivo, às 22h.

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Mirri Lobo TIAGO SOUSA DIAS

Mirri Lobo é senhor de uma voz quente e bem timbrada, que já lhe valeu distinções no seu país e várias atenções fora dele. Salgadim, o seu novo disco, editado nove anos após o êxito de Caldera Preta (2010), homenageia na canção-título a sua ilha natal, o Sal, e reúne várias composições de sua autoria ou assinadas por jovens autores de Cabo Verde. O disco é apresentado este sábado no Lisboa Ao Vivo, no palco principal, às 22h.

“É uma música dedicada à Ilha do Sal, quase um convite para que as pessoas venham conhecer a ilha”, diz ao PÚBLICO Mirri Lobo. “É de um compositor jovem, Kau Brito, com música e arranjos de Kim Alves.” Exalta o Sal, mas sabe que essa exaltação é relativa: “Culturalmente, São Vicente é mais rico em produção musical, principalmente a nível de mornas, tem muito mais história. O Sal tem alguma, mas não se compara. Agora também Santiago já tem muita produção a nível do funaná.” E Mirri gravou aqui pela primeira vez um funaná, Ta da ta da, escrito pelo próprio produtor do disco, Kim Alves, que assina letra e música. “Disse-lhe que tinha vontade de gravar um funaná, ele não disse nada. Dois dias depois apareceu-me com esse, que ele escreveu e musicou.”

As canções incluídas no disco foram surgindo das suas buscas, já com o fito de gravar: “Cruzei-me com essas músicas em diferentes circunstâncias e foi amor à primeira audição.” Foi o caso da morna Um sonho só, de Constantino Cardoso, que lhe foi mostrada pelo próprio autor durante um almoço em casa de amigos. Ou Fidjo femea, uma coladeira “quase improvável” de Betu, que é um compositor de mornas.

Michael Jackson e Brasil

Nascido Emílio Rito de Sousa Lobo, em 22 de Maio de 1960, na localidade de Pedra de Lume da Ilha do Sal, Mirri recorda-se da primeira vez em que resolveu cantar. “Tinha uns dez, 11 anos e foi uma música do Michael Jackson, Maria (you were the only one) [1972]. Durante muito tempo não se ouvia música de Cabo Verde, e eu tinha muita influência de música brasileira e americana, que se ouvia nas rádios. As canções que eu cantava em bares eram brasileiras. E a minha primeira vez em público foi com Os Tubarões, que estavam num baile popular. O meu primo [Ildo Lobo, vocalista do grupo, já falecido, 1953-2004] convidou-me, e eu cantei Boemia, de Nelson Gonçalves.”

Só depois dessa fase “brasileira” é que Mirri Lobo começou a integrar grupos musicais cabo-verdianos. “Estava a fazer o serviço militar na Praia e o meu primeiro grupo era mesmo de militares. Chamava-se Djarama e foi aí que comecei a interessar-me mais pela música de Cabo Verde, mornas e coladeiras.” Depois regressou ao Sal e quando Antero Simas fundou o grupo Clave de Sal, Mirri integrou o grupo. Até criar o seu próprio conjunto, para tocar em hotéis, que chegou a gravar um disco na Lusáfrica.

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Mirri Lobo em palco CRISTIANO BARBOSA

Os vários anos sem gravar deve-os ao facto de não ter vivido apenas da música: “Durante muito tempo não fui profissional da música a 100%. Agora, de há dez anos para cá, tenho-me dedicado mais a sério ao meio musical.” Assalariado durante anos, montou depois negócios próprios: um restaurante e uma empresa de produção agrícola na ilha do Sal. “Pode parecer estranho, num lugar onde não chove. Mas usa uma tecnologia moderna, que é a hidroponia, e já funciona há mais de 15 anos.”

Caldera Preta, um sucesso

A solo, o seu primeiro álbum foi Alma Violão, editado em 1987 e produzido por Dany Silva. Depois viriam Matchamor (1988), Paranoia (1995) e Nos Raça (1998), até chegar a Caldera Preta (2010), que seria o seu maior êxito. A faixa Encomenda de terra chegou a ser considerada no país o maior sucesso musical da ultima década. “Foi uma auto-reinvenção minha. Eu tinha estado 12 anos sem gravar e era uma outra época. Ia cantando, mas as pessoas já notavam a minha ausência. Então decidi ir para estúdio.” Nomeado em cinco categorias nos Cabo Verde Music Awards, Caldera Preta foi vencedor em quatro: Melhor Álbum Acústico, Melhor Coladeira, Melhor Música do Ano e Melhor Voz Masculina.

Salgadim, editado em 2019, ainda surge tocado pelo êxito do disco anterior. Começou a ser apresentado em Maio em cabo Verde e hoje chega a um palco português.

Em Abril passado, Mirri Lobo participou também no Kriol Jazz Festival, na Cidade da Praia, no projecto D’Alma Lusa, que juntou músicos dos vários países de língua oficial portuguesa como, além dele, Anabela Aya (Angola), Karyna Gomes (Guiné-Bissau), Roberta Campos (Brasil), Otis (Moçambique) e Cuca Roseta (Portugal).

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