Ribau Esteves pede mudanças e avisa Rio que “já chega de asneiras”

Presidente da Câmara de Aveiro desafia líder do partido a envolver os autarcas nas legislativas e propõe “ajustamentos importantes” na táctica e na estratégia do PSD.

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Presidente da Câmara de Aveiro é conselheiro nacional do PSD Adriano Miranda

A pesada derrota que o PSD sofreu nas eleições europeias de domingo vai obrigar Rui Rio a mudar de agulha e a “fazer ajustamentos importantes”, já que o objectivo de “ganhar as eleições legislativas de Outubro” foi fixado pelo próprio presidente do partido na noite eleitoral quando assumiu a derrota.

O conselheiro nacional do PSD e presidente da Câmara de Aveiro, Ribau Esteves, diz que “já chega de asneiras” e pede mudanças, uma vez que o partido tem apenas quatro meses pela frente para disputar as eleições legislativas. “Quando estamos no meio de uma missão temos de a levar até ao fim, fazendo ajustamentos importantes” do ponto vista da táctica e da estratégia, defende Ribau Esteves.

No dia em que mais uma sondagem coloca o PSD cada vez mais distante do PS, que ultrapassa os 40% das intenções de voto dos portugueses num cenário de eleições legislativas, o autarca de Aveiro aponta soluções. “Estamos numa situação em que a única atitude que o PSD tem é trabalhar, fazer melhor, fazendo ajustamentos na estratégia e no discurso”, aponta.

Não sendo um indefectível apoiante de Rui Rio – esteve com Pedro Santana Lopes nas directas –, Ribau Esteves entende que o líder deve levar o mandato até ao fim e por isso alerta para a necessidade de o PSD não cometer erros e ter “mensagens positivas e mobilizadoras”.

Ao PÚBLICO, o social-democrata faz uma avaliação negativa da estratégia seguida pelo partido na campanha e diz mesmo que “o discurso das europeias foi errado e desfocado”. “Espero que o líder do partido tire as devidas ilações. Julgo que ele está a precisar de ouvir os seus presidentes de câmara que estão no terreno a trabalhar, uma coisa que não tem feito”, defende, insistindo na necessidade de “o partido trabalhar muito e bem”. 

“Este não é o tempo para falarmos sobre o líder, de falarmos em congressos, este é o tempo de ajustar a táctica e a estratégia e de unir forças”, vincou Ribau, apelando ao líder do partido para “arrumar” as listas de deputados à Assembleia de República.

“É preciso ter bons cabeças de lista e ter bons candidatos a deputados e arrumar as listas para a Assembleia de República para rapidamente estarmos a trabalhar”, reafirma o social-democrata sem deixar de apontar os vários erros que foram cometidos ao longo de quase um ano e meio de liderança de Rio.

“Além dos erros do líder, cometemos asneiras na Comissão Parlamentar de Educação na questão do descongelamento do tempo de serviço dos professores e tivemos as asneiras de Luís Montenegro que desafiou Rui Rio em Janeiro para directas em ano eleitoral. Este tipo de asneiras não podem acontecer porque têm um dano muito grande para o PSD”, observa o autarca.

Mais casos de corrupção no PS

Consciente de que o partido tem um caminho espinhoso até às legislativas, Ribau Esteves deixa três mensagens: “O líder tem de usar a máquina do partido e aqueles que são líderes de opinião — os seus autarcas —, tem de ter um discurso positivo e popular (no sentido nobre do termo) e uma atitude alegre e próxima dos cidadãos, definindo as ideias principais que o PSD quer para a próxima campanha e para o governo do país”.

O deputado e ex-líder da distrital do PSD de Coimbra, Maurício Marques, mostra-se preocupado com o resultado das europeias, mas acredita que é inevitável que o partido cresça nas legislativas. “O PSD só pode crescer. Esta sondagem [da Pitagórica] foi feita antes das europeias, altura em que havia uma grande desmobilização”, considera o deputado que apoiou Luís Montenegro quando o ex-líder do grupo parlamentar desafiou Rio para directas.

Maurício Marques vaticina novos casos para o PS idênticos ao que aconteceu nesta quinta-feira com os presidentes das câmaras de Barcelos e Santo Tirso, detidos pela Polícia Judiciária por estarem envolvidos num esquema de violação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste directo. “Até às próximas legislativas muitos mais casos destes vão acontecer”, declara, acrescentando que “o PS é intrinsecamente assim”. E daqui parte para as “comissões parlamentares de inquérito, nomeadamente à Caixa Geral de Depósitos para dizer que há muitas pessoas ligadas ao PS. Vamos esperar pelas conclusões”.

E mantém à tona da conversa a seriedade dos políticos. “O presidente do PSD pode não ter muito jeito para algumas coisas, mas as pessoas vão valorizar o lado sério de Rui Rio” na hora de votar, acredita o deputado, que afasta movimentações que ponham em causa a liderança social-democrata. E num gesto de quase contrição declara: “Não pode haver movimentações. O que me move é o espírito de militância, tenho amor ao partido. Esta direcção tem de reunir condições para ir até às eleições. Se houver alguém a pedir contas será só depois das legislativas”.

Regressando aos 22,5% que o PSD teve nas europeias, o deputado assume que “o partido está assustado” e declara que aquele resultado “é fruto da prestação de algumas pessoas que estão hoje na Assembleia da República e que também deviam de reflectir um pouco sobre isso”.

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