Iveco espanhola acusada de negligência após divulgação de vídeo íntimo que terminou em suicídio

Funcionária de fábrica de camiões em Madrid suicidou-se depois de ver um vídeo íntimo seu ser partilhado pelos colegas. Central sindical acusa a empresa de não ter protegido Verónica, mãe de dois filhos.

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Iveco WIKICOMMONS

A polícia espanhola está a investigar o caso de uma trabalhadora de uma fábrica da construtora de camiões Iveco, em Madrid, que se suicidou depois de um vídeo íntimo seu ter sido amplamente divulgado, sem a sua autorização, entre os trabalhadores da empresa. As autoridades suspeitam de um crime contra a privacidade da mulher.

Os investigadores estiveram esta quarta-feira na fábrica, segundo o diário espanhol El Mundo, para tentar perceber quem divulgou a gravação, que acabou por se tornar viral, e que medidas foram tomadas pela empresa para impedir a circulação do vídeo. Qualquer pessoa que tenha enviado ou reencaminhado a gravação arrisca uma acusação criminal, mas por enquanto ainda não há arguidos.

Verónica, de 32 anos, tinha dois filhos, de nove meses e quatro anos. Segundo o El Mundo, a mulher suicidou-se no sábado em Alcalá de Henares, arredores de Madrid, depois de ter sabido que o seu marido tinha visto o vídeo — que tinha sido gravado há cinco anos, no contexto de uma relação anterior, e no qual aparecia sozinha.

A investigação foi lançada depois de a unidade de crimes informáticos do Ministério Público espanhol ter solicitado à polícia um relatório sobre os contornos do caso. Para já, o que está em causa é um possível crime de atentado à privacidade da mulher.

As autoridades espanholas suspeitam que terá sido um ex-namorado da mulher, também funcionário da Iveco, com quem Verónica tinha tido um relacionamento, que terá divulgado o vídeo depois de ter sido rejeitado pela mesma. Porém, a polícia não descarta a hipótese de que possa ter sido a própria a divulgar, por engano, as imagens em primeiro lugar.

“Uma questão pessoal e não laboral”

Já a central sindical Comisiones Obreras (CCOO, na sigla espanhola) anunciou que vai apresentar uma queixa contra a Iveco junto da Inspecção do Trabalho, acusando a empresa de não ter accionado um necessário protocolo de protecção de uma trabalhadora alvo de crimes de natureza sexual ao ter tomado conhecimento da divulgação do vídeo. O sindicato sublinha, segundo o El Mundo, que a morte da mulher deve ser encarada como um acidente em contexto laboral, responsabilizando a empresa.

As CCOO acrescentam que chegaram a entrar em contacto com a funcionária para a informar de que esta poderia solicitar a activação de um protocolo para prevenir o assédio sexual e apresentar uma queixa contra a pessoa que divulgou o conteúdo por violação do direito à privacidade e por violência de género.

Uma representante sindical revela ainda que acompanhou Verónica a uma reunião com a direcção da Iveco para notificar a empresa sobre o sucedido. Porém, segundo as CCOO, a empresa terá respondido que se tratava de “uma questão pessoal e não laboral”, recusando intervir no caso.

Já a Iveco garante que o protocolo foi accionado de forma a proteger a funcionária e que foi a própria que rejeitou as propostas da empresa para uma possível transição de posto e de horário.

No entanto, colegas de Verónica ouvidas pelo El Mundo afirmam que a trabalhadora chegou a informá-las, antes da sua morte, de que iria mudar de posto e de turno e garantem que a empresa agiu correctamente assim que tomou conhecimento do caso na passada quinta-feira.

“Quando souberam do suicídio, vi muitos chefes destroçados, porque disseram-nos que tinham usado todos os meios assim que souberam o que se estava a passar”, afirmou ao El Mundo uma colega de Verónica.

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