FMI diz que consumidores já estão a perder com a guerra comercial

Fundo contraria as ideias defendidas pela Casa Branca de que é a China que vai pagar o aumento das taxas alfandegárias e de que o défice norte-americano face àquele mercado asiático vai desaparecer.

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Reuters/DAMIR SAGOLJ

Os consumidores norte-americanos e chineses são os principais perdedores da guerra comercial entre os dois países, sendo já evidente o efeito nos preços da imposição de taxas alfandegárias mais elevadas.

A conclusão é apresentada esta quinta-feira por três responsáveis do departamento de investigação económica do Fundo Monetário Internacional (FMI), incluindo a economista-chefe da instituição Gita Gopinath. “Os consumidores nos EUA e na China são inequivocamente os perdedores com as tensões comerciais”, dizem, numa nota publicada hoje, 23 de Maio.

No que diz respeito aos bens importados pelos Estados Unidos da China, aquilo que se observa, diz o FMI, é que não ocorreu praticamente qualquer mudança no preço pré-taxas alfandegárias. Mas o preço pós-taxas subiu precisamente na mesma dimensão do agravamento registado nas taxas alfandegárias, isto é, os produtores chineses não mudaram o preço a que vendem os seus bens.

Depois, o FMI observa que os custos são assumidos pelos consumidores e pelas empresas importadoras dos EUA. “Algumas destas taxas foram passadas para os consumidores norte-americanos, como foi o caso das máquinas de lavar, enquanto outras foram absorvidas pelas empresas importadoras através da obtenção de uma margem de lucro mais reduzida”, diz a nota publicada na página de Internet do FMI. Mais subidas de taxas alfandegárias, avisam, vão continuar a reflectir-se nos preços suportados pelos consumidores.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, tem defendido, em diversas intervenções públicas, que é a China e as suas empresas que “pagam o aumento de taxas”, afirmando que os EUA estão a obter enormes receitas em resultado da aplicação desta medida.

Na sua análise ao impacto do conflito comercial entre os EUA e a China – que já resultou na imposição pelos dois países de taxas alfandegárias mais elevadas numa parte substancial dos bens importados – o FMI diz ainda que o efeito sentido pelos produtores é mais variado, “com alguns vencedores e muitos perdedores”.

Entre os perdedores estão “os produtores, nos EUA e na China, dos bens afectados pelas taxas alfandegárias, para além dos produtores que usam esses bens como inputs intermédios”.

Entre os vencedores estão os produtores americanos e chineses que competem no seu mercado interno com as importações provenientes da China o dos EUA, respectivamente. E também há produtores de países terceiros que estão a ganhar com a situação. Os dados estatísticos disponíveis nos EUA mostram que um dos efeitos do aumento das taxas é uma diversificação da fonte das importações, com os bens importados do México a ganharem terreno desde que a guerra comercial com a China se agravou.

Em geral, o FMI assinala que o efeito no saldo comercial entre EUA e China é limitado, já que, para além de se ter registado uma antecipação de importações provenientes da China, as exportações dos EUA para a China também estão a diminuir. “Factores macroeconómicos desempenham um papel muito maior do que as taxas alfandegárias na determinação dos saldos comerciais bilaterais”, afirma a nota, mais uma vez mostrando dúvidas em relação ao objectivo anunciado por Donald Trump de redução do défice dos EUA face à China.

O FMI conclui com um aviso: “O fracasso em resolver as diferenças ao nível do comércio e uma nova escalada para outros sectores, como a indústria automóvel, pode prejudicar ainda mais a confiança na economia e nos mercados financeiros, com um impacto negativo nos spreads da dívida dos mercados emergentes e provocando o abrandamento do investimento e do comércio.”

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